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Atendimento clínico de animais continua encantando quem quer prestar Medicina Veterinária

8 de junho de 2013
6 min. de leitura
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Julia e Thael tiveram a chance de ver o veterinário Diogo examinando uma cadela  (Foto: Alvarélio Kurossu / Agencia RBS)
Julia e Thael tiveram a chance de ver o veterinário Diogo examinando uma cadela (Foto: Alvarélio Kurossu / Agencia RBS)

Dois estudantes e um médico veterinário conversaram na semana passada sobre uma paixão em comum: cuidar dos animais. Thael Menezes Reis da Luz, 18 anos, quer salvar todos os bichos que sofrem maus-tratos. Julia Santana da Lapa, 17, quer ajudar os animais, aproveitando seu gosto pela pesquisa. De jaleco, o médico veterinário Diogo Benevides da Costa, 30, respondeu a perguntas sobre a formação, o mercado em Florianópolis e a relação da Veterinária com áreas como a biotecnologia.

Os estudantes tiveram a chance de ver o profissional examinando um cachorro e até de pegar um filhote de sagui, que foi encontrado na região do consultório e precisou de cuidados.

Profissão que começou na fazenda

Diogo Benevides Costa, 30 anos, cresceu próximo a uma área rural, em Frutal, Minas Gerais. O contato com os animais da fazenda de sua família fez nascer o interesse pela Medicina Veterinária. Concluiu a faculdade na Universidade de Franca (Unifran), no interior de São Paulo, há seis anos.

Enquanto estava na faculdade, chegou a fazer estágio em uma fazenda produtora de leite, mas deixou a área de “produção animal” (sic) para seguir a clínica. Atualmente, trabalha na Clínica Veterinária Monte Verde, em Florianópolis, e faz pós-graduação em clínica e cirurgia de pequenos animais no Instituto Qualittas.

— É preciso se dedicar muito, mas até hoje eu não achei um ponto negativo na minha profissão — afirma.

Pesquisa e atenção aos animais

A estudante de 17 anos que está no terceirão sempre gostou de pesquisar sobre doenças na internet e em livros. Os animais eram outra afinidade, então, Julia Santana da Lapa resolveu unir as duas coisas. A vestibulanda de Florianópolis vai prestar Medicina Veterinária na Udesc e Biologia na UFSC no fim do ano.

Por enquanto, pensa em trabalhar com atendimento clínico de animais de pequeno e grande porte, ou aproveitar seu interesse por pesquisa e investir na biotecnologia voltada para a veterinária, contribuindo para elaborar medicamentos voltados para a cura dos bichos, por exemplo.

Impressões da estudante

Eu já esperava que fosse gostar da conversa, mas fiquei ainda mais animada. Me marcou quando ele disse que um médico de pessoas pergunta para o paciente o que ele sente, e a pessoa responde. Com o animal você precisa descobrir.

Vestibulando pela segunda vez

Thael Menezes está no primeiro ano de Zootecnia na UFSC. O estudante natural de Tubarão, no sul do Estado, acreditava que a área tinha proximidade com a Veterinária. Mas se decepcionou ao ver que o curso é mais voltado para a busca de produtividade e rentabilidade na criação de animais do que para o bem-estar animal. Por isso, quer mudar de curso e estuda para prestar Veterinária na Udesc.

Pensa em trabalhar com atendimento clínico de pequenos animais, principalmente cães. Seu grande sonho é poder oferecer atendimento gratuito em um hospital público veterinário.

Impressões do estudante

Diogo pareceu gostar mesmo do que faz, que não pensa “droga, tenho que ir para o trabalho amanhã”, e isso me fez acreditar ainda mais na profissão. Eu poderia ter ficado a tarde inteira conversando e tirando dúvidas com ele.

Tirando dúvidas

Formação

Como foi sua experiência na universidade? Os instrumentos para as aulas práticas são caros?

No meu curso, pelo menos, os primeiros anos foram de bastante teoria. É preciso aprender como o alimento vai ser processado no corpo do animal, toda a fisiologia, antes de partir para a prática. Com o tempo, você vai aprendendo técnicas para lidar com os animais e tem mais contato com eles. Pode ser difícil também ter que cuidar de um bezerro, por exemplo, e depois precisar matá-lo. O curso não demanda tanto investimento financeiro, já que os equipamentos necessários não têm custo elevado, e a maioria deles dura por muitos anos.

Mercado de trabalho

Como é o mercado em Florianópolis para o atendimento clínico? É difícil conquistar os clientes?

Eu acredito que não, existe bastante espaço, mas é preciso se dedicar. Você vai começar aos poucos e conquistar os clientes ao fazer tratamentos de qualidade. As especializações dentro da veterinária estão se tornando mais comuns de uns tempos para cá. Em Florianópolis, já existem alguns cardiologistas, odontologistas e ortopedistas de animais. Recomendo sempre seguir estudando.

Atendimento público e gratuito

Em São Paulo foi criado o primeiro hospital público para animais, no ano passado. Você acha que é uma tendência?

Acho que vão surgir outras iniciativas parecidas (por enquanto, o único hospital veterinário público do Estado é o da Udesc de Lages). Acredito que o centro de controle de zoonoses em Florianópolis ainda deixa a desejar, por apenas castrar cães e gatos. Várias vezes eu recolhi animais machucados, e muitas vezes, quando percebemos que a pessoa que traz o animal para a clínica não tem condições de pagar pelo atendimento, acabamos ajudando.

Biotecnologia

A área de Biotecnologia tem futuro na Medicina Veterinária? Seria interessante investir nisso?

Com certeza, é uma área que está crescendo. Novidades em pesquisa estão sempre surgindo. Sabemos hoje que células-tronco podem ser utilizadas para curar animais também, por exemplo. Atualmente, alguns remédios podem ser utilizados tanto para humanos como para animais, e algumas técnicas que tinham sido abandonas voltam a ser utilizadas depois de melhoradas.

Por dentro da carreira


O que é mais gratificante

Para Diogo, o melhor da profissão é recuperar um animal que está com a saúde debilitada ou mesmo com chances de morrer. Poder ajudar indiretamente os tutores, dando uma atenção a eles, também é muito importante. O médico veterinário conta que alguns de seus melhores amigos foram clientes que levaram seus animais domésticos até a clínica e precisavam conversar.

— Muitas vezes nos tornamos verdadeiros psicólogos dos humanos que trazem seus bichinhos.

O que é mais difícil

O médico veterinário Diogo aponta que a eutanásia animal nem sempre tem sido feita de maneira adequada. Ele reforça como lado negativo da profissão o sacrifício de bichos por solicitação de tutores que não têm condições de cuidar de animais doentes ou em centros de zoonoses que não se dedicam aos tratamentos, por exemplo.

Do que precisa gostar

O gosto por animais é essencial, mas não é suficiente para se tornar um bom profissional. O professor Valério Portela Jr. indica que o interesse por biologia, química e até matemática é bem-vindo, para se atuar nas várias frentes da Medicina Veterinária. Habilidade manual é outro aspecto necessário para quem quer trabalhar com cirurgia e paciência ajuda no atendimento clínico dos animais.

Disciplinas e tempo de duração

O curso de Medicina Veterinária tem 10 períodos, em média, e a grade curricular tem algumas variações em cada faculdade. O curso da UFSC, oferecido desde 2012 no campus de Curitibanos, é integral e tem disciplinas básicas, como biologia molecular e anatomia animal, mas que também exigem aulas em laboratórios. A partir da quarta fase, o aluno começa a ter contato com matérias técnicas, como de clínica e cirurgia. No último semestre, é preciso fazer um estágio.

Salário inicial

O Sindicato dos Médicos Veterinários no Estado de SC (SIMVET-SC) informa que, por lei, o profissional tem uma carga horária de 180 horas por mês, ou 6 horas por dia, recebendo seis salários mínimos, ou sejam R$ 4.068, por essa jornada. Qualquer carga horária inferior deve obedecer o valor de seis salários mínimos, não há proporcionalidade.

Fonte: Diário Catarinense

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