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Jane Goodall: "A pesquisa com animais não ajudou a sociedade"

1 de março de 2013
3 min. de leitura
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Por V. Echagüe – La Razón.es
Tradução por Sueli Fontes (da Redação)

Foto: Reprodução

Passou metade da vida estudando os chimpanzés e, a outra metade, protegendo-os. Jane Goodall (Londres, 1934- ) esteve recentemente na Espanha, onde, além de receber o prêmio internacional da Associação Parlamentar em Defesa dos Animais, advogou com a paixão que a caracteriza pela defesa do meio ambiente.

A primatóloga apresentou recentemente na loja da National Geographic de Madrid (coincidindo com o 125° aniversário da sociedade) a campanha “Mobilize-se pela selva”: cada celular “reciclado” contribui com o cuidado da natureza.

–O Governo espanhol prepara uma lei para proibir a experimentação científica com grandes símios. É um passo à frente?

– Uma lei sempre é positiva. O problema vem quando se tem que implementar a lei. Em muitos países existe uma legislação, mas somente no papel. E que não são aplicadas. Em todo caso, sempre é bom que exista um texto legal, porque aporta una base e aponta o que se pode e não se pode fazer.

–Qual é sua percepção, hoje em dia, do uso de animais com fins científicos?

– A pesquisa com chimpanzés está desvanecendo, sobre tudo porque as provas são caras, ainda que se façam alguns experimentos nos EUA, mas os macacos e outros animais como os cães, os gatos, os ratos… temo que ainda é frequente. As novas regulamentações da União Europeia exigem uma melhoria do bem-estar animal. Ao menos, está aumentando a preocupação acerca de que os animais necessitam de outro trato. Já é algo, mas não é suficiente.

–A sociedade é consciente de que animais como os chimpanzés são capazes de sentir tristeza, alegria, dor… assim como nós?

– As pessoas estão começando a aceitar que os chimpanzés são capazes de sentir essas emoções, porque biológica e cerebralmente são similares a nós. O que aceitam menos é o fato de que outros animais também tenham personalidade, possuam uma mente, possam pensar… As novas recomendações e regulamentações da UE sobre o bem-estar animal indicam que inclusive os polvos podem sentir dor. E esta é uma ideia que não está reconhecida de maneira generalizada. As pessoas que abusam destes animais, como ocorre com a pesquisa clínica, a criação intensiva ou a tourada, não querem acreditar que podem sentir dor e medo. Espero que, graças a programas como o nosso, a sociedade, de maneira gradual, mude sua percepção, especialmente os jovens.

–Se existem métodos alternativos, por que não são usados?

– Não existem alternativas para tudo. Primeiro, se deve em boa parte a que por trás destas práticas há una indústria multimilionária: a comida, as jaulas, os técnicos… Mas também, se deve a que as companhias têm medo de provar novos métodos. Usam animais porque vem sendo utilizados desde sempre e temem se equivocar. A pesquisa com animais não ajuda as pessoas. E se realmente trabalharmos para encontrar as alternativas, as encontraremos para quase tudo. Ou inclusive para tudo. Hoje existe um montão de alternativas. E os resultados com a experimentação não foram tão exitosos como pensávamos.

– É uma ideia que custa que “cale”, apesar de que redunda em nosso próprio benefício.

– Creio que, moralmente, necessitamos de outra forma de pensar. Para que nossa própria civilização sobreviva e por nosso próprio benefício no futuro. Nos comportamos de forma abominável também com a espécie humana. “Estamos de acordo, vamos usá-los, são apenas animais…”. Temos que nos desenvolver moralmente, nos converter em uma espécie melhor.

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