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Fina Estampa e nossa triste viagem ao fundo do poço

7 de fevereiro de 2012
2 min. de leitura
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Foto: Reprodução

Uma vizinha amarra a outra e a mantém presa no jardim da casa enquanto se insultam: “Chimpanzé!”. “Orangotango!”. “Cadela!”. “Gorila!”. Aí a vizinha que amarrou se compromete a soltar a amarrada desde que ela confesse a maior das ofensas: “Eu sou uma vira-lata!”

Este é um capítulo típico de Fina Estampa. A Rede Globo estabeleceu no passado um nível de profissionalismo e qualidade artística em entretenimento que conquistou o resto do mundo. Há alguns anos, elogiei na revista Época o autor Agnaldo Silva pela coragem temática de sua novela anterior, a notável Duas Caras. Hoje, Fina Estampa é um triste passo para trás.

Dois “cachorrinhos de madame” viraram coadjuvantes da vilã, reforçando todos os preconceitos contra animais mimados por gente inconsequente. Uma cobra supostamente venenosa foi usada como arma, multiplicando o medo generalizado de serpentes no telespectador. Dois personagens vivem exclusivamente à base de peixe, que matam aos montes para não ter que trabalhar. São atitudes que vão além do “politicamente incorreto”. Nós estamos em 2012. Hoje felizmente não se admitem mais absurdos como racismo e homofobia. O respeito mínimo aos animais deveria fazer parte dessa lista de obrigações naturais à evolução humana.

Tem mais. Em Fina Estampa funcionam dois restaurantes fazendo propaganda obsessiva de pratos de carne, capítulo após capítulo. Nenhum desses chefs, nenhum dos restaurantes, nenhum dos seus clientes é vegetariano. (Os hippies da pensão eram, mas apareceram lá por uma única cena).

Não quero censura nas novelas. Mas essa das nove é o programa mais assistido da TV brasileira. Exige alguma ética pelo imenso poder de influência que tem. Além disso, mostra nossa cara para o resto do mundo, com as exportações. O fato é que ouvir gente xingando pessoas com nomes de animais todos os dias é muito agressivo para quem gosta de animais. E um péssimo exemplo para qualquer espectador.

Um pouco de responsabilidade espiritual e compaixão deveriam fazer parte das obrigações mínimas para quem ocupa o cargo mais poderoso e bem pago que um escritor pode ocupar no Brasil.

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