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Tem bicho virando gente e gente sendo “a besta”

21 de janeiro de 2012
4 min. de leitura
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Por Swami Fonseca
Bióloga e Educadora
Foi-se o tempo em que a inteligência era uma dádiva exclusiva dos humanos. No entanto a ciência e a mais indelével observação empírica familiar (para quem tem um animalzinho de estimação ) comprovam que os animais agem muito além dos seus instintos de sobrevivência, seja quanto indivíduo ou espécie. Para isso exemplos não faltam, é pombo fazendo contas matemáticas, é cão resgatando outro cão em acidente ou mesmo uma família inteira como uma caso recente nas enchentes; é gato que acompanha o tutor em sua nova moradia no além (cemitério); é vaca se entregando ao deleite musical de uma sinfonia; é porco brincando com cão feito outro cão e feliz da vida!! … e por aí vai. Exemplos não faltam e surgirão muitos outros e muito além do que inclusive já assistimos. Mas o que está acontecendo com os bichos? Querem virar gente? É a revolução da bicharada! Finalmente depois de séculos de escravidão e servidão aos potentados humanos, eis a liberdade de exporem o que realmente são na medida do possível nos mais diversos cativeiros. Será que nunca tínhamos percebido esses comportamentos antes? Será que nossos bisavós já assistiram a isso em outros tempos? Talvez agora, neste momento estejamos saindo de nosso pedestal antropocêntrico e olhando um “outro” diferente nas formas e no jeito de ser, mas igual na demonstração de algo que se chama de afetividade. Já que os bichos são também capazes de amar, de serem felizes porque na sua matéria coabita uma alma.
Mas o que é afinal inteligência? Razão? Fora verbetes tão fechados de dicionários, digamos que seja a capacidade de buscar adaptações ao mundo que vivermos, selecionando, ampliando ou criando estruturas cognitivas na relação animal e meio ambiente. Mas a inteligência sozinha não é suficiente para dar conta de complexas redes de informações e fatores que ora são harmônicos ora desarmônicos no ambiente. É também necessário a dádiva da emoção, como um pulso que dá o estopim para a razão entrar em cena. A emoção ultrapassa a inteligência, basta observarmos qualquer fêmea que cuida dos filhotes, incluindo as mães adotivas de espécies diferentes. Existe um elo digamos espiritual entre mãe e filho. Obviamente não estou dizendo nada que não se saiba desde então. Não precisamos de arrojados e por vezes “tolos” estudos científicos – mas imprescindíveis ao olhar cético – para comprovar a sensibilidade dos animais. Bastam as histórias de quem teve ou têm um cãozinho ou gato, que saberá muito bem do que estou dizendo.
Mas se existe esse lado encantador do comportamento animal, temos na contramão o lado bestial humano, que se autointitula o centralizador da inteligência do universo (triste ilusão… basta olhar a situação ambiental em que uma única espécie fez ao planeta e a si mesma). Digo bestial mesmo, quando tortura e mata por prazer doentio e sem culpa e ainda se diverte com isto, pois não há arrependimento, características de sua personalidade sociopata. Isto poderá ocorrer a qualquer momento, com animais, crianças ou qualquer ser que esteja numa condição de diferença de condições físicas, psicológicas ou até sociais. Na mídia e internet não faltam casos de algum tipo de maus-tratos e abusos em animais que despertam o mais ferrenho senso de justiça coletivo, porque o criminoso poderá ser a pessoa que o animal mais ama, ou seja, o próprio tutor. E faço a mesma analogia com a violência sexual em crianças, em que o pai ou outro parente muitas vezes é o criminoso. Infelizes coincidências, não? Por isso quando se pede justiça nestes casos, o objetivo é o mesmo, a punição.
A legislação brasileira ainda carece de punições mais severas (digamos mais amedrontáveis), porque hoje se paga uma multa, presta-se um serviço a comunidade e quando muito, mas muito mesmo, vai-se para a prisão por algum tempo (meses). Mas logo o crime cai no esquecimento e o criminoso volta a ter a sua vida normal e até praticando os mesmos atos. Por isso tudo que a mobilização “Crueldade Nunca Mais” traz à tona a necessidade de denúncias, de mudanças na legislação e a responsabilização daquele que comete o crime, que pode estar em qualquer lugar, nas ruas, na casa do animal, na universidade, laboratórios, na produção animal. Hoje a mobilização ocorre fantasticamente nas redes sociais, existindo milhares de comunidades que são um potente instrumento da defesa dos direitos animais. Não há mais como deixar de aceitar essa realidade, que cada vez cresce mais, aliada também criação das delegacias, secretarias ou promotorias públicas que são potentes instrumentos da institucionalização dos direitos dos animais.
 

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