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Chimpanzé Jimmy recebe companheira em santuário de Sorocaba (SP)

29 de dezembro de 2011
5 min. de leitura
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Por Pedro A. Ynterian (da Redação)

Foto: Divulgação

Alguns falam que a época do Natal é tempo onde as melhores coisas acontecem. Após quatro meses de tentativas frustradas, na véspera do Natal Jimmy deixou a solidão para trás e aceitou a companhia de uma jovem chimpanzé, que o acompanhou de perto desde que ele chegou ao Santuário do GAP de Sorocaba.
Jimmy viveu num circo até se tornar adulto e não ter mais “utilidade circense”. Foi então entregue para um zoológico – o Zoonit, de Niterói – onde sua vida terminou de virar um inferno.
Jimmy é um chimpanzé atípico, até na forma de andar, muitas vezes em forma bípede. Os outros chimpanzés o acham diferente, o que gera maior curiosidade e até receio por sua parte.
Samantha, que com 13 anos de idade já é mãe de três filhas – a mais nova se chama Suzi e tem seis meses -, sempre se deu bem entre machos. Ela é uma chimpanzé pequena, magra, ágil, audaciosa, com personalidade difícil, especialmente para os humanos, de quem deseja distância. Eu a recebi com um ano de idade e praticamente ela me vê como seu pai ou o macho alfa do grupo de jovens que começou o Santuário há 12 anos.
Ela confia muito em mim e geralmente quando lhe peço algo ela me obedece. A tarefa com Jimmy era difícil. Era um ser que não conhecia chimpanzés, tinha medo e receio deles. Ao longo dos últimos dez anos tinha passado três num gaiolão de 70 m2 e outros sete num cubículo de menos de 20m2, e isso o converteu em um ser perturbado. Jimmy vive obcecado por mulheres com botas de borracha. É algo que acontece com chimpanzés de circos e zoológicos. Como uma brincadeira, ou um entretenimento, os machos são ensinados por seus tratadores a masturbar-se com o contato físico ou visual de uma bota. Jimmy ignora uma tratadora de tênis, mas de botas o leva a uma obsessão erótica, que o faz masturbar-se no cobertor que leva para todo lado constantemente.
O desafio para Samantha é enorme. Vencer a idéia fixa numa mente perturbada. Primeiro fizemos os contatos físicos através da grade: ela, sua filha Sofia (2 anos e meio) e eu de um lado, e Jimmy do outro. Jimmy desenvolveu uma atração imediata por Sofia, que o provocava e brincava com ele. Tiramos um pouco a Sofia do holofote e deixamos só a Samantha. Eu lhe pedia que entrasse no recinto de Jimmy e se aproximasse. Ela nunca negou meu pedido, apesar de que o medo a invadia.
Jimmy é apático. Não reage como um macho chimpanzé normal, que fica com os pelos eriçados e faz gestos agressivos quando não está feliz com uma companhia ou uma situação. Samantha ia a procura de Jimmy, ele a ignorava. Ela ficava próxima, para analisar seus gestos, seu olhar. É a forma que os primatas se entendem.
Aos poucos minutos ela saía correndo e me pedia que a tirasse de lá, o que eu atendia de imediato, pois não podia pedir mais a ela, visto que numa briga ela seria bem machucada.
Essa aproximação durou alguns meses, duas ou três vezes por semana. Coloquei também Carolina, uma fêmea de 10 anos também criada no Santuário e bem maior que Samantha, mas muito meiga e que sabe lidar com machos. Ela tentou algumas vezes, até que não quis entrar mais.
Já estava desistindo. Mas após duas semanas sem tentativas fiz a última na véspera do Natal. Pedi a Samantha que entrasse de novo. Ela foi mais ousada, ficou a menos de um metro dele e me pediu para sair. Lhe pedi uma nova tentativa, quando vi que Jimmy estava no dormitório, onde nunca tinham se encontrado (os encontros sempre tinham sido na parte aberta). Ela entrou de novo. Jimmy a rodeava, ela estava começando a exibir seu cio, estava com medo que ele mordesse seu traseiro. Jimmy começou a interagir comigo pela grade, ela se aproximou e fez o mesmo. Uma mão estava com Jimmy e a outra mão com Samantha. Num momento Samantha trocou minha mão pelo braço de Jimmy e começou a fazer-lhe o “grooming” (prática habitual entre chimpanzés que são amigos). Jimmy começou a fazer o mesmo. Retirei minhas mãos e deixei ambos conhecerem-se no toque. Samantha, num gesto audacioso, deu uma volta e se ofereceu a ele, sentando em seu colo.
Talvez Jimmy não entendeu aquele gesto como um apelo sexual, já que nunca deve ter copulado com uma fêmea, mas o gesto de dar as costas para ele já era um ato de amizade, habitual entre primatas. Nesse momento saí e os deixei juntos. Samantha já estava segura, não precisaria de minha ajuda.
Retiramos Sofia que estava no recinto com a mãe e a levamos para passar alguns dias com sua irmã Sara (um ano e meio), para deixar o casal a vontade, abrindo os dois recintos para eles. Samantha voltou para seu recinto que tem uma passarela espetacular, que todos os chimpanzés adoram, e Jimmy foi atrás. Nunca mais se separaram até hoje, dia que redigimos este texto.
Acabou o isolamento de Jimmy! Samantha ensinará muitas coisas da vida de chimpanzé para ele. Ela está se sacrificando muito para ajudá-lo e não podemos pedir demais a ela, pois tem três filhas para cuidar e seu grupo original de seis chimpanzés, com o qual ela é muito feliz.
Ela sabe o que está fazendo. Em nossas conversas, em nossa língua, ela me dirá até quando e onde irá para recuperar Jimmy e trazê-lo de volta ao mundo chimpanzé, de onde nunca deveria ter sido arrancado. A certeza que temos é que Jimmy nunca mais estará só.
Fonte: GAP

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