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Richard Rasmussen do “Aventura Selvagem” ganha vida estressando animais

7 de dezembro de 2011
4 min. de leitura
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Richard Rasmussen, apresentador do programa “Aventura Selvagem” do SBT estresse e maltrata animais. Créditos foto: “TV Estado de Minas”.

Numa tarde ensolarada, um inofensivo filhote de jararaca dorme num cupinzeiro no Parque Nacional das Emas, em Goiás. O bicho não percebe quando um homem se aproxima com um graveto na mão e, de repente, o cutuca. Encurralado, o animal se defende e dá o bote. Na televisão, o filhote, que poucos minutos antes dormia tranquilo, é mostrado como uma cobra violenta e perigosa. Mas o animal não está fazendo nada mais do que se defender de um invasor, este sim, agressivo. Trata-se do paulista Richard Rasmussen, apresentador do programa Aventura selvagem, que vai ao ar no SBT/Alterosa toda sexta-feira, às 21h20.
Desde 2003, esse economista metido a aventureiro ganha a vida cutucando animais silvestres e exibindo as cenas em seu programa de TV. Criticado por não ser formado em biologia, Richard Rasmussen, de 40 anos, resolveu fazer o curso. Levou sete anos para se formar biólogo pela Universidade Ibirapuera (Unib), em 2008. “Eu já sabia algumas coisas do mundo animal. Só fiz o curso para formalizar esse meu conhecimento”, argumenta ele.
Entre as vítimas desse Indiana Jones de araque, estão animais como uma jaratataca (conhecido popularmente como gambá), também moradora do Parque Nacional das Emas, perseguida incansavelmente por ele, e um lagarto da República Dominicana, que foi esfregado e apertado pelo aventureiro até que finalmente se sentisse ameaçado o suficiente para mostrar seu mecanismo de defesa: inflar o papo e se fingir de morto. Na ocasião, Richard comemorou a cena, dizendo: “Olha que bicho maravilhoso”.
Já o biólogo Valter Barrela, professor de ecologia da PUC-SP, não acha a cena tão admirável. “Isso acarreta estresse aos bichos. Mas ele (Richard) tem de fazer o showzinho dele. Se não incomodar o animal, não vai ter audiência”, diz Barrela.
O oceanógrafo gaúcho José Martins, responsável pelo Projeto Golfinho Rotador, em Fernando de Noronha, também não concorda com os procedimentos de Richard. “Ele interfere muito na vida do animal. Além disso, infringe a legislação ambiental. Os animais não podem ser perseguidos, manipulados, tirados da família, do ambiente em que vivem”, destaca Martins. “E ele faz tudo isso.”
Multa e cassação
Essa não é a primeira vez que Richard infringe leis ambientais. Em 2005, o Ibama fechou o criadouro que o biólogo paulista mantinha numa propriedade em São Roque (SP), com 194 exemplares da fauna silvestres sem comprovação de origem legal, falta de marcação individual e comprovação de destino. No local, os técnicos do Ibama encontraram animais mal alimentados e até alguns mortos. Como consequência, pagou multa de R$ 250 mil e teve a autorização para manejo de fauna cassada no estado de São Paulo. Mas isso parece não ter sido suficiente. Atualmente, ele mantém um quati e algumas cobras na casa onde mora, em Cotia (SP).
Apesar das críticas de biólogos com trabalhos respeitados e das broncas do Ibama, Richard Rasmussen fala que aqueles que o acusam de agredir os bichos são sentimentalistas demais. “Estresse é coisa de ser humano e de animal em cativeiro. Bicho selvagem não tem isso”, diz.
Mas não é assim que pensam diretores de parques nacionais que Richard visita. Ao ser escalado para acompanhar a viagem que o biólogo fez ao Parque Nacional das Emas, no ano passado, o guia Renato Gusmão conta ter sido orientado a não permitir que o apresentador incomodasse os animais. “Os biólogos e o diretor do parque me pediram para evitar que ele pegasse os bichos. Isso incomoda o animal e pode estimular outras pessoas a fazer o mesmo”, conta Gusmão.
Nem precisa ser especialista para perceber o quanto Richard perturba a fauna por onde passa. Muitos telespectadores já se mostram incomodados com as aventuras estabanadas do biólogo. A assessoria do Ibama afirma que recebe reclamações do público desde que o apresentador estreou um quadro no programa Domingo espetacular, em 2005. E até as autoridades impedirem Richard de agredir os bichos, ele continuará sendo o terror dos animais.
Fonte: Estado de Minas

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