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Animais serão considerados no Plano Preventivo da Defesa Civil, em SP

7 de novembro de 2011
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Vereador consegue que a Defesa Civil da cidade de São Paulo inclua animais em seus planos   

Depois de fazer uma indicação ao prefeito Gilberto Kassab, visando a inclusão dos animais nas ações preventivas e planos da Defesa Civil, o vereador Roberto Tripoli promoveu audiência pública na Câmara Municipal para reunir autoridades e técnicos e discutir como implementar essa importante mudança que favorece a vida animal.

Foto: Vereador Tripoli abre os debates sobre a Defesa Civil e os animai. Foto: Divulgação

Nesse evento, Ronaldo Malheiros Figueira, coordenador de Ações Preventivas e Recuperativas da Defesa Civil de São Paulo anunciou que os animais já serão considerados no Plano Preventivo da Defesa Civil – PPDC Chuvas de Verão 2011-2011, a ser oficializado em portaria do prefeito Kassab. O plano vai de novembro desse ano a abril de 2012.

Malheiros mostrou em sua palestra toda a complexidade da cidade de São Paulo, inclusive na organização das ações preventivas e no momento em que ocorrem desastres, principalmente durante as intensas chuvas de verão, objeto do PPDC. E detalhou a participação da sociedade civil, que já é fundamental e pode ser estendida para questões envolvendo animais. Dentro da estrutura da Defesa Civil, existem os Nudecs, núcleos voltados à participação da defesa civil.

Atualmente, por exemplo, pessoas residentes perto de córregos e rios já ajudam a monitorar o nível das águas, passando informações para a Defesa Civil. Malheiros acredita que, com treinamento apropriado moradores das várias regiões e voluntários de ONGs poderão  colaborar também no momento de inundações, com o salvamento de animais, e principalmente exercendo um importante papel na difusão de informações para as famílias que convivem com cães, gatos e outros animais.

Ronaldo Malheiros anuncia inclusão dos animais no Plano de Chuvas. Foto: Divulgação

A idéia de Malheiros é agregar fortemente as ONGs (Organizações Não Governamentais) e a Defesa Civil pretende realizar um trabalho interno a partir de agora, com os vários organismos envolvidos em sua estrutura, para decidir como essa participação se dará em relação aos animais. Malheiros frisou que alguns órgãos já participantes da Defesa Civil, como o CCZ, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e a Guarda Civil Metropolitana atuam com animais e poderiam ter seus treinamentos intensificados para questões envolvendo prevenção e socorro nos desastres.

Aprimorar tecnicamente o planejamento e as ações, tanto de órgãos oficiais como dos voluntários, é um passo considerado fundamental por Malheiros e ele frisou que incluir os animais vai acontecer já com o PPDC em andamento, em plena época das chuvas de verão, mas com o tempo as ações envolvendo a vida animal deverão ser aprimoradas com cursos de capacitação.

Outro ponto onde a atuação da sociedade civil pode ser intensificado é no trabalho que a Defesa Civil realiza nas escolas, de prevenção, de educação visando reduzir os riscos de desastres e orientar sobre como agir no momento das ocorrências. Com certeza, é fundamental levar orientações sobre os animais também para os estudantes, que poderão passar as informações para suas famílias.

Vínculo com animais precisa ser considerado

A gerente de programas veterinários da WSPA-Brasil, Dra. Rosangela Ribeiro, fez uma detalhada exposição mostrando toda a complexidade do socorro a animais em casos de desastres, frisando que é fundamental as cidades e populações se prepararem para incluir os animais em seus planos de defesa civil, já que não podem mais ser desconsiderados o vínculo afetivo e a dependência, inclusive econômica, das famílias com cães, gatos, cavalos, galinhas, vacas.

Tendo atuado fortemente na tragédia ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro em janeiro de 2011, a médica veterinária contou sua experiência e também falou das intervenções da WSPA em vários países, onde ocorrem além de deslizamentos e inundações, erupções vulcânicas, tsunamis, tornados, terremotos e outros eventos com grande número de famílias e animais vitimados.

“A identificação dos animais é muito importante, seja com coleira ou microchipagem, num plano de evacuação e esse treinamento precisa ser feito. As pessoas não podem, por exemplo, deixar animais amarrados nas casas, pensando que assim estão protegendo-os e também resguardando seus bens. Eles vão morrer. Um animal solto tem a chance de se salvar, se ele não pode ser levado junto com a família”, explicou Rosangela.

Diferentes desastres atingem pessoas e animais de formas diversas e a médica veterinária detalhou vários deles, frisando que é preciso preparo para enfrentar cada situação, considerando como a saúde e o bem-estar dos animais foi afetado, com a saúde da população foi afetada. Por exemplo, cinzas vulcânicas causam problemas respiratórios graves, já nas inundações muitos animais poderão sofrer de dermatites úmidas. Isso, além das zoonoses,como a leptospirose.

No caso de alimentos, também é preciso planejar o que e quanto é necessário, para quais animais, e como serão armazenados. Rosangela frisou que defende a vacinação em situações pós desastres, mas não aceita que programas emergenciais de castração sejam feitos, pois animais abalados e atingidos, inclusive emocionalmente, não têm condições de passar por uma cirurgia.

A médica veterinária contou que na região serrana do Rio de Janeiro, pelo excesso de voluntários absolutamente sem treinamento, principalmente protetores de animais, várias falhas graves foram registradas, inclusive com o recolhimento de animais que poderiam ter tido a chance de reencontrar suas famílias. Nesse aspecto detalhou a diferença de animais perdidos e desorientados, daqueles que estão situados, não estão feridos e devem ser alimentados e tomar água, e não levados para abrigos distantes ou para programas de adoção, sem a chance do reencontro com seus tutores.

A sociedade sensibiliza-se com os animais

A gerente de Programas Veterinários da WSPA notou que a mídia focou bastante os registros fotográficos e reportagens em animais, durante a tragédia da região serrana e ao atuar na região percebeu que existe uma preocupação maior de técnicos e da população com cães, gatos, cavalos, vacas e mesmo com os silvestres. Essa preocupação deve ser aproveitada pelos governos para educar, conscientizar, e envolver técnicos e as pessoas no salvamento de animais.

Nesse sentido, Rosangela frisou novamente que não basta ter um enorme coração e vontade de salvar animais. “Treinamento e regras são cruciais. Não podemos ter voluntários que vão causar mais problemas ainda, colocando sua própria vida em risco e a vida dos outros. Todos devem que seguir regras e para isso é fundamental um planejamento e muito conhecimento e quem não segue regras deve ser afastado”, explicou Rosangela.

A médica veterinária abordou ainda a importância do preparo da estrutura, com um centro de apoio, envolvimento de uma universidade que tenha curso de veterinária, estudantes, voluntários, lares transitórios, planejamento para a montagem também de abrigos provisórios, e um criterioso programa de informações e de como se dará a comunicação entre todos os envolvidos.

Rosangela Ribeiro mostrou a complexidade do salvamento de animais. Foto: Divulgação

Outro aspecto normalmente desconsiderado, mas fundamental, é que os abrigos de cães e gatos carentes, recolhidos das ruas, normalmente existentes nas cidades, tenham seus próprios planos para desastres, pois na região serrana muitos animais morreram afogados, presos em canis e gatis. Inclusive os centros de controle de zoonoses das prefeituras, que mantenham animais recolhidos ou apreendidos, devem possuir seu plano emergencial específico, frisou Rosangela.

A gerente da WSPA frisou ainda que é preciso planejamento financeiro, com verbas disponíveis para as ações preconizadas, montantes necessários mesmo que haja doações pois os órgãos oficiais precisam estar preparados com equipamentos, insumos (medicamentos e vacinas por exemplo) e outros detalhes que envolvem gastos específicos.

Na região serrana do Rio de Janeiro a WSPA ajudou a salvar e cuidar durante a tragédia e no período pós desastre de 3 mil animais; no mundo, desde 2008, a WSPA já ajudou 495 mil animais em momentos de desastres.

CCZ não tem capacidade operacional

Ao fazer sua intervenção na audiência pública, a gerente do Centro de Controle de Zoonoses, Dra. Ana Claudia Furlan Mori, admitiu que na questão dos desastres, inclusive na prevenção, “existe uma série de lacunas para as quais não temos respostas”. Contou do trabalho realizado em inundações no bairro chamado Jardim Romano, tradicional local de enchentes em São Paulo, e admitiu que o grande estrangulamento do CCZ para atuar “é a falta de capacidade operacional”.

Mori fez uma detalhada explanação de todo o gigantismo da cidade, da estrutura da vigilância sanitária, que apesar de bastante descentralizada e presente em toda a cidade, não é suficiente em muitas situações, diante do tamanho da população e da enormidade de problemas. Detalhou ainda alguns trabalhos preventivos do CCZ, em relação a cães e gatos, principalmente o programa de esterilização, que já operou 325 mil animais entre 2001 e setembro de 2011. E revelou também que, finalmente, em dezembro de 2011 o tão aguardado sistema de registro e identificação, com uso de microchips, deve estar em pleno funcionamento na capital.

Já a diretora da Divisão de Fauna Silvestre da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, Dra. Vilma Clarice Geraldi, lembrou que a capital, mesmo com todo seu gigantismo e com a urbanização acelerada ainda possui 700 espécies silvestres em vida livre, conforme inventário oficial realizado pela Divisão, inclusive suçuaranas (onças pardas).

Geraldi lembrou que os incêndios também vêm castigando a fauna silvestre, principalmente aves que vivem mais no chão, lagartos, cobras, rãs e sapos. E frisou que um dos grandes desastres atuais e permanentes que vitimam os silvestres é a ocupação desordenada da cidade. “A ocupação de mananciais e encostas está acabando com os corredores de fauna. Se não conseguirmos brecar isso não teremos mais áreas de escape para os silvestre em caso de incêndios”, observou.

Além da ocupação imobiliária, Geraldi frisou que as grandes obras, como rodovias, também estão impactando de forma negativa a fauna silvestre. “E os estudos de impacto ambiental não tem sido suficientes para evitar os danos”, afirmou. A diretora da Fauna explicou que a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente vem trabalhando ativamente para tentar manter ou recuperar os corredores de fauna, “mas os grandes condomínios representam um problema cada vez maior. Enquanto a sociedade aceitar esses empreendimentos estará acabando com a fauna. O animal não conhece os limites da cidade e precisa do seu espaço”, observou.

Papel fundamental dos médicos veterinários

Representantes de entidades ligadas aos médicos veterinários, como o CRMV-SP, a Anclivepa e a Sociedade Paulista de Medicina Veterinária também posicionaram-se durante a audiência pública, focando suas intervenções na importância da participação social dos médicos veterinários.

A Dra. Karime Cury, representando o presidente do CRMV-SP, afirmou que o Conselho está aberto a promover capacitação para a categoria, envolvendo questões relativas aos desastres. Frisou inclusive que a WSPA pode ser a grande parceira nessas atividades, com sua experiência acumulada mundialmente.

A Dra. Vanessa Coutinho do Amaral, da Anclivepa também ressaltou o papel fundamental dos médicos veterinários, que precisam passar por capacitação como toda a sociedade civil para atuarem de forma mais coordenada e prestarem aos animais a ajuda necessária. E o Luiz Renato Flaquer, da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária ressaltou que os veterinários tem uma “responsabilidade civil e social, e portanto as faculdades de veterinária também precisam mostrar isso aos seus alunos”.

Fonte: Animais SOS

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