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O biocombustível de sangue

1 de novembro de 2011
4 min. de leitura
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Uma ótima notícia para quem anda preocupado sobre a escassez de petróleo no futuro próximo: não vai faltar combustível, não.

Por um tempinho, continuaremos assim, preocupados com os preços para encher o tanque e especulando se os coitados dos milhões de pobres do mundo emergente terão o prazer de curtir seus fonfons como fizemos até aqui. Afinal, justo agora, dizem que essa multidão de neo classes médias vai exigir seu bife e seu carrinho. O problema é que não há estoque de bife suficiente nem combustível para eles, mesmo podendo pagar por isso a peso de ouro.

Mas calma, relax, as otoridades já estão se antecipando a catástrofe: neste momento, a opção é o biocombustível. Nós plantando mais cana e os Estados Unidos mais milho. Existe o detalhe indigesto que as usinas são altamente poluidores e 25 mil pessoas trabalham como mão de obra escrava nas fazendas de gado, milho, soja e canaviais no Brasil. E a carne é fraca e gulosa, pois haja soja para alimentar os bois, porcos e frangos que nos alimentam. Daí que o agro-negócio precisa invadir as florestas com lavouras e pastos. Cada um no seu quadrado: a indústria automobilística vai de vento em popa e os pecuaristas e fazendeiros correspondem. É a economia, estúpidos ambientalistas, veganos e defensores dos animais!

E os norte-americanos não ligam muito em transformar comida em fumaça, mesmo que o milho seja um alimento crucial para a humanidade.

Antes que alguém me critique pela opinião catastrófica, limpo minha barra com mais uma ótima notícia: os pesquisadores e cientistas já estão resolvendo os problemas antes que eles aconteçam.

Trocar o sangue negro (o petróleo) pelo sangue verde (plantas e legumes) tem sido aplaudido porque cumpre o prometido: mais energia por um preço menor.

E se preparam para o próximo passo: trocar o sangue de qualquer cor por sangue de verdade.

Se não é viável continuar usando o sangue negro, nem o trabalhoso sangue verde, que se obtenha combustível derramando o sangue vermelho mesmo. Assim pensam os produtores da alternativa para a crise de energia mundial.

Olha só quantas notícias bacanas para você contar a seus filhos (aos netos eu não garanto que dê tempo deles nascerem para ouvir):

A Força Aérea Americana testou e aprovou o novo tipo de querosene para que os aviões continuem no ar: é o querosene extraído da gordura das galinhas.

E a nossa nata científica (sim a brasileira) explica para nós, os ignorantes, que dá para extrair biocombustível de porcos, de qualquer bicho. Estão com várias patentes e produtos prontos para entrar no mercado. Coisa de primeiro mundo. Afinal, seus colegas lá de Lousianie, abastecem vários postos da cidade com biocombustível derivado de jacarés. Várias socialaites já dizem há muitos anos que é um desperdício o jacaré servir apenas para fazer seus sapatos.

Para quem acha que estou delirando, pode ir perguntar lá no professor Google, ou procurar nas publicações científicas sobre tecnologia de ponta e alternativas energéticas.

Na mídia gorda e burguesa, vão ver que tudo é bem justificado e bem intencionado, na onda ecologicamente correta. Matam o planeta em nome da sobrevida da civilização.

Um entusiasmado e jovem engenheiro afirmou que o homem historicamente sempre usou a energia dos bichos e das plantas, não é bonitinho?

Transformaram a sustentabilidade em pretexto para o cinismo do lucro. A natureza que se exploda e pague a conta, literalmente.

Talvez eu devesse aproveitar enquanto dá: sabem qual a planta recomendada pelos agrônomos para virar o melhor e mais barato biocombustível do século XXI?

Aquela que nasce em qualquer terreno árido: a maconha.

Tem um ladinho meio chato: nem a maconha consegue ser biocombustível mais barato que a gordura dos animais.

O que mais faltam inventar para manter girando a roda alucinada do consumo?

Humor negro do sistema zumbi que criamos e avalizamos: como a Terra já chegou aos 7 bilhões de habitantes e boa parte deles não poderá nunca andar em seu carrinho comendo seu churrasquinho, alguém acabará sugerindo aproveitar esse desperdício de gordura, carne e energia.

Afinal, humanos também são animais em extinção.

No caso deles, por genocídio.

No nosso, por suicídio.

Ulisses Tavares, em seus momentos pessimistas acha que ainda vamos acabar comendo merda e, em seus momentos otimistas, que não haverá merda suficiente para todos. Coisas de poeta.

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