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Histórias de quem adotou um animal como membro da família

25 de setembro de 2011
8 min. de leitura
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Tutores que o digam: bichos de estimação são como filhos que nunca vão sair de casa. Eles precisam de atenção, de comida, têm que brincar, cuidar da saúde e, aos poucos, com jeitinho, conquistam até quem nunca imaginou criar um animal. Nise da Silveira ficou famosa por defender esses filhos de quatro patas como alternativa de terapia. E usando gatos no tratamento de pacientes, provou que os bichos podem ter uma influência extremamente positiva na vida de quem vive para eles. Gatos ou cachorros, com ou sem pedigree, a felicidade de muita gente é ter um animal.

Animais de companhia podem influenciar de forma positiva a vida dos tutores (Foto: Larissa Fontes)

“É como uma paixão de infância. Quando era pequena, meu pai tinha uma fazenda que virou praticamente um criatório de gatos, de tantos que eu levava para cuidar lá. Bastava encontrar algum na rua, maltratado, para colocar no carro”, conta Ana Carolina Ávila. Hoje, apaixonada pelos felinos, ela trocou a fazenda do pai pelo prédio onde mora, e como não podia criar todos os animais dentro de casa, passou a alimentar os que encontrava nas redondezas.

“Meus favoritos são aqueles bem sofridos, maltratados, porque posso resgatá-los e dar uma vida decente. É um pouco complicado se apegar aos gatos de rua porque você não sabe se vai vê-los novamente, mas eu adoro assim mesmo. Na minha rua, muitos vizinhos colocam veneno na comida que deixo pelo telhado; quando pego um gato, com pouco tempo ele desaparece. Mesmo assim eu adoro, alimento três vezes ao dia até os que vejo perto do trabalho”, explica.

Gatos de rua são bons companheiros

A história é lembrada entre risos divertidos, mas as amigas também lamentam que outras pessoas ainda hoje nutram preconceitos contra os gatos de rua. “Ao contrário do que muita gente pensa, eles também são carinhosos e bons companheiros. Quando fico doente, os meus deitam por perto; quando trabalho até tarde, eles sentam no computador, fazem aquela cara de ‘vamos dormir’. Essa ideia de que os gatos são territorialistas é só meia-verdade. Eles gostam da casa, do conforto, mas também se apegam aos tutores”, argumenta Vakíria Ramos, a “mãe adotiva” do Garfield.

Na casa dela, a história do gato gordo que dormia na cadeira do vigia ganhou outro nome, e mais dois companheiros. Chamado de “Bola”, o Garfield castrado passou a ser o sexto membro da família que já tinha dois gatos em casa, Frajola e Belinha. “No começo eu não queria mais um, porque dois já davam bastante trabalho. Mas, um dia, Bola levou um chute, e apareceu no meu trabalho todo machucado. Quando cheguei em casa contando o que aconteceu, minha mãe e minha filha não pensaram duas vezes: disseram logo ‘traz ele para cá, e a gente vê o que faz depois’”, conta Valkíria.

Como o gordo Bola, Belinha e Frajola também entraram para a família com histórico de maus-tratos. Valkíria lembra que a única fêmea do trio foi encontrada no Núcleo de Educação Ambiental Francisco de Assis (Neafa), uma ONG que recolhe animais abandonados e oferece serviços como adoção, castração e atendimento veterinário. “Eu fui com a minha filha para adotar um cachorro. Mas, assim que chegamos lá, ela correu para as gaiolas de gatos e viu a Belinha. Era a única gatinha da ninhada que ainda não tinha sido adotada e, quando viu a minha filha, se agarrou a ela com força, como se pedisse para tirá-la de lá”, conta a “mãe”.

O benefício por trás dos cuidados

Essa relação de amor entre bichos e tutores foi um dos fatores que fez a fama da alagoana Nise da Silveira, uma médica que já no seu tempo adivinhava o bem por trás do cuidado com os animais. Usando métodos nada convencionais para os hospitais psiquiátricos de 1946, ela provou que ter um bichinho de estimação não só estimula o afeto como ajuda a desenvolver características importantes do comportamento, como a responsabilidade. “Na verdade, é quase como cuidar de outra pessoa. Você precisa entender a importância que é ter um animal, o que é necessário para garantir o bem-estar dele e, principalmente, os cuidados necessários à sua própria saúde no relacionamento com o bichinho”, analisa o veterinário Roberto Rômulo.

Em outras palavras, filhotes de quatro patas exigem tanto ou mais atenção quanto aqueles que vêm dos próprios pais. Rômulo, que tem vários animais de rua em casa, lembra que, independentemente da raça, eles vão viver bastante tempo e, ao contrário dos filhos “humanos”, nunca poderão cuidar de si mesmos. “Às vezes as pessoas querem ter um bichinho porque acham bonito, ou porque pensam que é simples tê-los por perto, mas a escolha é um pouco mais difícil”, alerta o veterinário.

Para criar um animal, seja gato ou cachorro, Rômulo dá algumas orientações básicas que fazem toda a diferença. “Primeiro, se ele vem da rua, é preciso levar ao veterinário e providenciar a vacinação e o vermífugo. Depois, esses animais têm um histórico desconhecido e, como você não sabe por onde ele passou, que doenças ele tem, não deve ter um contato próximo logo no começo. O ideal é deixá-lo de quarentena, sem contato até com os outros animais da casa”, orienta. Isso porque, de acordo com o veterinário, existem doenças que possuem um período de incubação e não se manifestam imediatamente no animal. “Se ele pega uma virose, ou uma hidrofobia (raiva), por exemplo, ela só vai aparecer depois de algum tempo. Até lá, se houve contato com outros bichos, ele pode perfeitamente passar a doença”, explica.

A rejeição se transformou em afeto e cuidados

“Quando peguei Antunes, eu estava de viagem marcada por uma semana para a Chapada Diamantina. Ele tinha sido arremessado do prédio, durante a noite e passou um bom tempo miando, machucado”, conta Ana Madalena Silva. “Como nunca pensei em ter um gato no apartamento, comecei a alimentá-lo deixando a comida do lado de fora, até que um vizinho apareceu dizendo que ia matar o filhote porque não gostava dos miados”, lembra.

Depois de devidamente resgatado, Antunes – que ainda não tinha nome – deveria ter ficado apenas alguns dias na casa da família. O suficiente, segundo Madalena, para ela e o marido organizarem os preparativos da viagem à Chapada. “Colocamos anúncios em todas as redes sociais, tentamos telefonar para amigos, mas ninguém queria o gato. A solução, já que a viagem estava se aproximando, foi deixá-lo em um hotelzinho que me indicaram”, conta Madalena. Aí Antunes ganhou um nome, e o que deveria ser uma guarda provisória se transformou em adoção com direito até a data de “aniversário”. “Comemoramos em 28 de novembro, que é quando ele foi resgatado”, explica a “mãe” do siamês.

O segundo filhote veio no dia da Consciência Negra, também por acaso. Madalena conta que, dessa vez, foi o marido quem encontrou o gato. Sem pensar em ter outro bicho, a estratégia do casal era não batizá-lo para não se apegar. Mas felizmente, para o gato e para eles, o plano deu errado. “Um dia, meu marido acordou e disse ‘vamos chamar o gato de Paul’”, lembra Madalena. E Paul, que já tinha data de aniversário, ganhou sobrenome Magatney. “Ideia de um amigo nosso, porque o Paul McCartney estava no Brasil”, explica.

Salão de festas e creche para animais

Os veterinários recomendam e os tutores comprovam: animais de estimação precisam ser bem cuidados. Em Maceió, quem não pode ou não tem tempo de garantir toda a atenção necessária ao seu bichinho pode recorrer à creche; um lugar onde o animal poderá brincar, tomar banho, se alimentar e “socializar” com outros bichos enquanto os tutores estão no trabalho. Parece estranho? É verdade. O serviço tem três meses e já conquistou adeptos de toda parte da cidade.

A proprietária e veterinária Fabrícia Omena diz que montou a estrutura pensando em uma maneira de contribuir com a saúde dos animais. “Algumas pessoas ouvem ‘playground’, ‘salão de festas’, ‘creche’ e pensam que é bobagem. Mas quando os bichos têm um espaço para brincar soltos, eles aliviam o estresse e melhoram o sistema imunológico. Independentemente da raça ou da espécie, um bichinho estressado pode ter várias complicações de saúde”, explica.

Na clínica, gatos e cachorros têm direito a playground e salão de festas, além do serviço tradicional de banho, tosa e hotelzinho. Além disso, o espaço também oferece sistema de creche, no qual o animal entra de manhã e sai à noite. “Ele brinca, come, toma banho, depois vai para casa”, diz Fabricia. “É ótimo para os tutores ocupados, ou que moram em apartamento e não têm tempo de dar atenção ao animal”.

Cemitério de animal de companhia

Quem tem animal de companhia na certa já pensou no que fazer quando ele se for. Por medida de segurança sanitária, o tutor não pode simplesmente enterrar o bichinho no quintal de casa. A alternativa, para os mais apegados, é recorrer ao cemitério de animais, um serviço semelhante ao cemitério dos homens, mas que contempla exclusivamente os pets.

Em Maceió, a oferta é relativamente recente, tem apenas um ano. O proprietário, Jairo Miranda, conta que criou o cemitério porque percebeu que, mesmo sendo uma ideia pouco habitual, tinha uma demanda promissora na capital. “Vi muitas pessoas se perguntando o que fazer quando os animais de estimação morriam. Em Recife já existe até crematório para esse “público”, mas aqui havia uma carência grande do serviço. Foi quando consegui o espaço e a autorização para funcionar, e desde então trabalho com uma equipe para dar aos bichinhos um descanso digno”, explica.

Fonte: O Jornal

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