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Espalhado pelo mundo, movimento vegano defende que os outros animais não são alimento

21 de setembro de 2011
7 min. de leitura
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Foto: Reprodução da internet

Tomados pela reflexão e pensar comprometidos com o seu entorno, foram assaltados pelo desejo, esses motores da vida, rumo a tentar transformar e interagir de modo diferente com a realidade social. Veganos consideram injusta as relações entre “humanos e não humanos”. E têm uma filosofia de vida guiada pelo objetivo de “não explorar e não violentar” os animais.

Assim, guardadas as consideráveis diferenças entre os tipos de ativismo, organizações e movimentos veganos lutam por igualdade e direito dos animais – com início nos Estados Unidos, Canadá e Europa, mas em número crescente também na América Latina. No Chile, no Brasil e na Argentina são realizados encontros e feiras para atualização, debate e divulgação de ideias em prol do direito animal.

Organizações veganas de enfoque abolicionista vivem, discutem e pensam a sociedade a partir de lógicas contrárias ao atual sistema econômico: apoiam a eliminação total da industrialização e consumo de animais “não humanos”, e qualquer tipo de regulação dentro da atividade de exploração agropecuária(sempre que falam animais, fazem questão de frisar que estão se referindo aos “não humanos”, para não deixar esquecer que os humanos são também animais).

Foto: Reprodução da internet

O Homus Vegetus, liderado pelo cientista político, escritor vegano e ativista chileno Alejandro Ayala Polanco, promove, desde 2006, o “La fonda vegana del huaso vegetariano”. O encontro foi idealizado em contraposição às festividades de independência do país, realizadas em setembro e denominadas “la fonda”, devido à exposição de animais para rodeios e circos, além do consumo massivo de produtos de origem animal. “Promovemos a consciência, o respeito e a cooperação. Não podemos esperar que as mudanças venham de instituições que têm interesses econômicos e desejam perpetuar a exploração animal”, disse Polanco.

Ele ressaltou também que a festa vegana tem sido noticiada pelos principais meios de comunicação chilenos, o que ajuda a difundir o movimento, pois o veganismo no país ainda é desconhecido pelo grande público. “As pessoas distantes ao nosso movimento estão conhecendo o veganismo e isso gera explicações constantes”, contou o escritor e ativista, vegano há 11 anos.

Em Buenos Aires, há um ano e meio, um grupo de veganos promove a feira “La contra flecha”, com apoio do movimento também argentino “Zoomorfosis”. De caráter abolicionista, reprovam intervenções científicas como a inseminação artificial e todas as demais práticas da indústria da produção animal. “Promovemos oficinas de comida ou limpeza pessoal para produzir sabão e perfume ecológicos; também contamos com a apresentação de um médico naturopata”, contou Marisa Cupaciolo, de 39 anos, vegana há três, que confecciona a própria roupa, sempre com desenhos de animais.

Abolicionismo do bem-estar animal

Segundo a fundadora da primeira organização de direitos animais da América Latina (Ánima), com enfoque abolicionista, consolidada em 2000, a advogada, especializada em filosofia do direito e ética para os direitos animais, Ana Maria Aboglio, “os outros animais” continuam sendo tratados e vistos como seres inferiores, independentemente do cuidado, hoje, prestado pela indústria.

Foto: Joseph Lago/ AFP
Foto: Joseph Lago/ AFP

Os abolicionistas são contra qualquer intervenção que sujeite os animais às condições de consumo e exploração — e contra a normatização de práticas de produção e manejo animal, regras científico-acadêmicas inseridas na denominada área do bem-estar animal, usadas por empresas ou instituições de pesquisa científica do setor agropecuário, público ou privado. Para eles, esse “bem-estar animal” é uma falácia.

“Não é o que sugere, o termo deveria chamar-se ”administração de animais para determinado fim” em vez de “bem-estar animal”. Ser vegano não é o máximo que podemos fazer pelos outros animais. É o mínimo”, frisou Ana Maria, autora do livro Veganismo: Prática de justiça e igualdade, de 2009.

Animais de Laboratório

Segundo a investigadora do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), da Argentina, Alejandra Romera, na Espanha e nos Estados Unidos as indústrias são obrigadas por lei a formar o comitê de ética, constituído por um médico veterinário, um investigador, um advogado e um especialista em ética.

Atualmente, na América Latina, novas propostas, normatizações e inspeções que envolvem o uso de animais para teste de produtos em laboratórios são realizadas por meio de comitês de ética. Instituições científicas do setor agropecuário buscam consolidar como obrigatórios esses meios de regulação.

“A indústria tem que justificar o porquê da utilização dos animais, o número de animais envolvidos com o experimento e volumes de sangue devem ser controlados. O máximo permitido para que o animal não corra perigo”, explicou Romera.

Nos Estados Unidos, a Farm Sanctuary há 25 anos atua junto à aprovação de leis para regular e controlar o manejo e produção de animais no campo. A organização também aposta em programas de educação, intervém diretamente e resgata animais em situação desumana — milhares, em diferentes cidades dos estados de Nova York e da Flórida —, além de desenvolver programas de educação. “Vamos continuar resgatando os animais, mas também reduzir o número de animais sistematicamente abusados pela indústria de alimentos”, afirmou o presidente da Farm Sanctuary, Gene Baur.

Foto: Reprodução da internet

Brasil

Refletir sobre os caminhos percorridos entre o alimento no campo até chegar ao prato para ser consumido é um gesto político pensado no sentido grego da palavra, é viver bem em comunidade, combater as relações de domínio sobre o outro. Assim definiu o psicólogo de Brasília, com ênfase em psicanálise, Fernando de Barros, de 32 anos, vegetariano há 13.

“Ser vegetariano não passa pela boca, é ver o mundo desde outra perspectiva. Quero viver em uma polis o menos violenta possível. Os frangos não mais conhecem o sol, são máquinas, já não são animais”, afirmou Barros. Para ele, comer é satisfazer prazeres aliados ao desfrute de um encontro social, enquanto alimentar está relacionado aos processos fisiológicos dos nutrientes.

Foto: Reprodução da internet

“Um caminho produz comida e não nutrientes. O bom é o tempero colocado na carne, quem come carne sem sal e crua?”, indagou pensativo. Para o jornalista de Bombinha (SC), Gustavo Wenceslau, de 24, vegetariano há 10 e que há oito mantém o site VidaVegetariana.com, o ativismo é uma consequência do vegetarianismo, é uma luta coletiva em prol de uma ideologia.

“Queremos mostrar ao mundo que é possível ser vegetariano e ser saudável, contar o que há por trás da indústria da carne e o tratamento dado aos animais”, reivindicou Wenceslau.

Para ele, “a luta” pelo vegetarianismo e cuidado ao animal deve ter como finalidade posicionar o Brasil nos mesmos patamares alcançados nos Estados Unidos, Canadá e países da Europa.

Mitos

“Não existe um único argumento sequer que justifique o consumo de alimentos de origem animal, por atletas ou não. São mitos, nada mais que mitos, mas que continuam fazendo um estrago enorme”. As palavras são do catarinense triatleta, ultramaratonista e promotor da filosofia vegana Daniel Meyer, último campeão do Multisport Brasil/90km (corrida em trilha, canoagem, mountain bike), que se refere ao fato de muitas pessoas acharem que quem pratica esporte de alta performance necessita consumir proteína animal.

O veganismo, as ultramaratonas e o triathlon apareceram em simultâneo na vida do atleta, há cerca de sete anos, tempo em que conquistou, entre outros, nove títulos nas primeiras três posições. “As pessoas não estão comendo carne ou bebendo leite por necessidade, estão satisfazendo seus paladares”, argumentou Meyer.

Fonte: UAI

 

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