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“Tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber”*

7 de setembro de 2011
4 min. de leitura
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Esta frase de Jesus é uma das mais fortes de todos os seus ensinamentos, e das poucas que talvez tenham escapado dos infinitos erros de tradução e interpretação conhecidos historicamente.

Sem entrar em detalhes sobre a importância, existência ou não deste personagem, ou mesmo sobre os evangelhos apócrifos e documentos adulterados, o que quero refletir aqui é sobre o significado destas palavras.

Hoje estamos a cada dia menos preparados para lidar com o nosso semelhante. E cada vez mais centralizados dentro de nosso mundo particular. Os questionamentos sobre quem é o nosso próximo estão restritos à Filosofia, e a sociedade pouco se questiona ou reflete sobre isso.

Nosso próximo pode ser um presidiário, pode ser um deficiente. Pode também ser aqueles animais confinados para uso, como objetos, do capricho humano. Ou quem sabe os pequeninos que Jesus citou em suas parábolas.

Há alguns anos havia um curso que ensinava a entender a linguagem dos animais – uma espécie de ‘telepatia’. Já de pronto, me questionei que, se alguém realmente entendesse a linguagem dos animais, com toda certeza ouviria os pedidos de socorro dos bilhões de animais do mundo inteiro:

Os que sofrem nos porões dos centros de pesquisas vivisseccionistas (sobre a pseudoeficácia dessas pesquisas, muito já foi discutido em outros artigos, de diversos autores), animais criados para o abate, animais selvagens que perdem a cada minuto o seu habitat, o seu alimento, a sua água potável, o cavalo que carrega peso à luz do sol das cidades ditas civilizadas, sob o olhar indiferente da população mortificada.

Estes clamam por comida, água, descanso. Mas, estamos preparados para perceber?

Quem é realmente nosso próximo? Para estes, presidiários, deficientes, mendigos, temos condições de perceber suas dificuldades e ajudá-los?

Frequentemente vejo vagas para deficientes ocupadas por pessoas em perfeito estado de saúde. E com a mesma frequência vejo os demagógicos gritando contra qualquer centavo empregado na melhoria dos presídios e na melhoria das condições de vida das pessoas mais pobres. É só ver as críticas em cima do Bolsa Família. O valor pago pela bolsa é o que eu gasto em minutos no supermercado, mas tem hipócrita que acha muito e não suspeita que a miséria seja responsabilidade de cada um de nós. E é.

Enquanto não soubermos quem é o nosso próximo e não refletirmos sobre isso, não estaremos maduros espiritualmente. E é por isso que abomino todo blá-blá-blá religioso que fala muito, mas na prática condena a todos, até mesmo aos da própria religião.

Quando penso na frase “tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber”* que no contexto denunciava a hipocrisia de quem queria se safar (ir para o céu) apenas bajulando uma divindade qualquer, e ao ouvir tal frase percebeu que o caminho é um pouco mais radical e não tem nada de ‘meio’, ‘brando’, nem fácil, percebo como ainda, após milênios, estamos patinando nesta questão.

Biologicamente temos semelhança genética e parentesco com todas as espécies do planeta. Compartilhamos genes idênticos com baratas, ratos, mas ainda estamos mergulhados no egocentrismo que nos caracteriza, assim como a maldade. Pois uma espécie que tortura outras e até mesmo os da sua própria, tem sim como característica principal a maldade, a indiferença e o orgulho.

 

 

 

 

Ótimas Sugestões de leitura e bibliografia consultada:

Ricardo Timm de Souza. Ainda além do

medo. Filosofia e antropologia do preconceito.

Porto Alegre: Dacasa, 2002, 75 p.

Ricardo Timm de Souza. Bases filosóficas da bioética e sua categoria fundamental: visão contemporânea. Disponível

em http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewArticle/104

Charles Darwin. A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais. Companhia das Letras,  1872, republicado em 1998.

Carlos Naconecy. Ética & Animais. Edipucrs, 2006.

Sônia Teresinha Felipe. Ética e Experimentação Animal, Fundamentos abolicionistas. Editora da UFSC, 2007.

Ezio Flavio Bazzo. Mendigos: Párias ou Heróis da Cultura?, LGE, 210 p., 2009. http://eziobazzo.blogspot.com/

“Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber” Jesus Cristo por São Mateus 25,42, versão da Biblia Online católica.

http://www.universelles-leben.org/portugues/index.html

Animals Lament – The Prophet Denounces, Universal Life The Inner Religion, fourth edition, 2006

http://www.chicotenuncamais.org/

 

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