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Designações animais para comportamentos humanos

20 de julho de 2011
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Tempos atrás, o ecologista e poeta Arthur Soffiatti, num artigo publicado no “Meio Ambiente em Jornal”, de Belo Horizonte, escreveu de forma muito criativa a respeito da péssima reputação de que os animais gozam no mundo ocidental, nas comparações denegridoras e adjetivos desprezíveis. Inspirando-me naquele texto, aproveitei para acrescentar outras atribuições referentes à má reputação dos animais no Ocidente. E passarei aos leitores algumas ideias.

O fato é que poucos são os casos em que são atribuídas as virtudes e as qualidades positivas dos animais. Geralmente, os animais personificam as fraquezas, as deficiências, os vícios e os comportamentos considerados aberrantes do ser humano. A própria palavra “animal” já é empregada na acepção de bruto, violento, grosseiro, estúpido, imbecil, ignorante. Até bem pouco tempo havia um jogador de futebol que tinha o apelido de “animal”, porque era um sujeito temperamental, provocador e, por vezes, bagunceiro. Apesar de ser bom de bola, no quesito comportamento era um mau exemplo e os animais não mereciam essa associação. Bem, também não é correto dizer que fulano parecia um bicho de tanta raiva. Afinal há comportamentos e sentimentos que são específicos do ser humano.

A origem do desprezo pelos animais começa com a serpente, que, simbolizando o demônio e o mal, tentou Eva e Adão a comerem do fruto proibido, resultando na expulsão de ambos do Paraíso. A serpente foi amaldiçoada por Deus. “Não é à toa que as cobras são temidas, não pela eventual peçonha, senão também pelo anátema que lhes pesa”, diz Soffiatti. Pouquíssimas são as cobras que são venenosas e perigosas e dificilmente aparecem nos lugares de convívio humano. Mas, mesmo assim, a primeira coisa que um sujeito faz quando vê uma cobra, seja venenosa ou não, é pegar numa pedra ou pedaço de pau para amassar-lhe a cabeça ou quebrar-lhe a coluna vertebral. Também é comum denominar de cobra, víbora ou jararaca uma mulher má ou fofoqueira.

E os exemplos continuam. De pessoa desprezível, diz-se que é um verme. Se é lerda, logo será denominada de tartaruga, lesma ou preguiça. Ao indivíduo ríspido chamam cavalo, pois é lembrado apenas o coice e não a elegância, a inteligência e a afeição às pessoas. Arthur Soffiatti lembra que, “no caso de ser dotado de pouca inteligência, é burro (só faz burrada) ou besta (só fala besteira) ou asno (só diz asneira) ou zebra. Se for mulher não passa de uma égua. Para o violento recorre-se ainda ao gorila.

Durante o regime autoritário, militar era “gorila”. O sujeito que faz sujeira é porco, porcalhão, ou que faz porcaria. Um serviço malfeito é um serviço de porco (interessante que o porco não é sujo, não faz sujeira e muito menos trabalha). Também é porco, paquiderme ou elefante quem é obeso e mulher gorda é porca, é baleia. Pode ser uma anta ou toupeira o sujeito desatento, um “bocaberta”. Mulher muito magra se diz que parece com as pernas da ave saracura ou de uma garça. Trapaceiro é cachorro (só faz cachorrada). Ladrão é gato. Vigarista é rato. Alcoólatra é gambá. Tubarão é o sujeito poderoso, explorador. Águia atribui-se a quem é esperto em proveito próprio. Indivíduo agourento é urubu. Pessoa parasita é percevejo. Mulher exibicionista é perua. Alguém irado fica uma onça ou uma arara. Cordeirinho é o sujeito de comportamento submisso.

Em relação ao comportamento sexual humano, os animais (na maioria dos casos) estão relacionados com um sentido pejorativo. A exceção vai para o homem viril, que pode ser um cabra macho, um touro, ou com um pênis avantajado (bagual), ou será um galo se transar com um maior número de mulheres. Comportamento semelhante da mulher é galinha, só que com um sentido negativo. Mas galinha pode ser também o conquistador vulgar. A prostituta é vaca ou piranha. Antigamente era mariposa.

Homossexual masculino passivo é veado. Bicha vem do francês biche, fêmea do cervo ou de outros cervídeos. A pomba, que no cristianismo é símbolo de paz e não violência, hoje também serve para designar a vagina da mulher, que nem sempre pode ter uma atribuição negativa, a não ser quando o sujeito diz que vai “matar” a pomba se conseguir transar com a mulher cobiçada. Ao invés de pomba pode ser aranha.

As qualidades positivas designadas aos animais são muito poucas. Leão, símbolo de coragem e nobreza. Lebre, de velocidade. Elefante, de memória. Cão, raramente de fidelidade. No mais, se sobressaem as atribuições especistas, com predicativos negativos e pejorativos, típicos dos seres humanos e não dos animais.

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