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Animal cativo não é educativo: uma breve reflexão

27 de junho de 2011
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“Toda educação é educação ambiental (…) com a qual por inclusão ou exclusão ensinamos aos jovens que somos parte integral ou separada do mundo natural.”
(David W. Orr)

Qual o propósito de um viveiro dentro de uma escola? Em que medida essa presença educa? Como o conteúdo desse “currículo oculto” interfere na percepção e sensibilidade de nossas crianças e jovens? Essas são algumas perguntas que fiz a mim mesma quando assumi a direção de uma escola, em cujo o pátio central havia um viveiro com pássaros e tartarugas pequenas.

Tais indagações se tornam bastante pertinentes se consideramos, por exemplo, o que escreve Escolano (2001) em Currículo, Espaço e subjetividade. Para esse autor, o espaço escolar tem de ser analisado como uma construção cultural que “expressa e reflete, para além de sua materialidade, determinados discursos”. Nessa perspectiva, todo espaço educa, forma e situa. Retomo, então, a questão: a existência do viveiro educa para quê?

Em princípio, o pássaro cativo, usado como entretenimento, está ali para apreciarmos e admirarmos a sua beleza e as suas formas. Entretanto, esse capricho ou ato singelo alimenta um sistema perverso que retira o pássaro do seu habitat natural, sendo que muitos deles morrem no momento da captura. No transporte, são amontoados em caixas escuras com ventilação precária ou então em gaiolas apertadas, contendo dezenas deles. Já não falamos, então, de pássaros, mas de “produtos” que irão alimentar os mercados (centrais ou não!). Somos, portanto, cúmplices e incentivadores desse sistema que inclui, dentre outras coisas, o tráfico de animais silvestres. Emitimos sinais para esse “mercado” de que vale a pena continuar no ramo.

Na contramão dessa lógica, os pássaros poderiam encontrar, em nossas escolas, as árvores e o ambiente de acolhimento para que pudessem fazer sua morada. As crianças poderiam acompanhar seus voos, o trabalho da construção dos ninhos, o tempo de “chocar”, o cuidado da mãe passarinho e o voo dos seus filhotes. Ou seja,  o ciclo da vida, repleto de ensinamentos, respeito e beleza, é que deveria ter lugar nas escolas.

Esse estranhamento ou questionamento vem ganhando força e é parte de uma “nova” sensibilidade ética, moral, espiritual e ambiental, acelerada pelas respostas que a natureza vem dando diante dos (ab)usos do Homo sapiens. O ser humano revisita sua condição de centro do universo e incorpora outros princípios, tais como a interdependência entre todos os humanos, não humanos e a natureza. Portanto, com essa percepção sistêmica da vida, iremos rever outras tantas práticas presentes em nossa cultura, em nossa própria vida e em nossas escolas. Não mais acredito que “o que mais vale é um pássaro na mão”, mas sim, todos eles livremente voando. Vamos juntos, pois “uma andorinha só” não faz verão.

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