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Desenho do coração

8 de junho de 2011
3 min. de leitura
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Qual é a cor do sonho? Os idealistas diriam que é azul da cor do mar. Para os ecologistas é verde que te quero verde. Vermelho do fogo e do fruto proibido, provavelmente, para os amantes apaixonados.  Cor da pele molhada pela água da cachoeira, segundo os libertários.  Amarelo, para os filhos do sol pai de toda a cor. Talvez o preto, intensa negritude, para aqueles que não o vêem como ausência de cor.  E para os pacifistas, é claro, a cor do sonho é o branco puro límpido e linear. Mas por que não o branco-e-preto, juntos, para dar contornos definidos às linhas do imaginário? Por que não um sonho em preto-e-branco? Um sonho desenhado…

Ninguém melhor do que a ativista Nina Rosa para dizer a resposta. Ela que sabe do nosso papel na história, que consegue transformar tristezas em alegria, que nos ajuda no sutil exercício do despertar das consciências. Ela que se tornou, a partir de sua opção alimentar compassiva, uma das maiores referências da causa animal em nosso país. Ela que acreditou, há pouco mais de uma década, em um sonho que se chama Instituto Nina Rosa – projetos por amor à vida.  “Todo animal é sagrado”, costuma afirmar Nina Rosa. Ou seria a Tia Vera?  Pensando bem, acho que é uma frase recorrente da menina Luca, protagonista do filme VEGANA.

Duas palavras sobre este desenho animado produzido pelo INR e que veio à luz em dezembro de 2010. Não se trata apenas de um projeto artístico de animação. É muito mais do que isso. VEGANA, sob a competente direção de Airon Barreto, é um grito vigoroso em prol de um sonho, que, pelos caminhos da arte, toca o coração das pessoas. Seu conteúdo pedagógico tem inspiração ética e filosófica, reflexo da inestimável contribuição intelectual da professora doutora Sônia Felipe.  Os temas nele tratados abordam praticamente todos os campos em que se dá a exploração dos animais, fazendo-o de forma realista e, ao mesmo tempo, delicada.

Os quadros que compõem o roteiro falam por si: Escola, Almoço Vegano, Circo, Abate Humanitário, Tradições, Ninhada, Habitantes das Águas, Denúncia, Compras, Despertar… A argumentação do filme, sem exagero algum, é qualquer coisa de extraordinário. Mostra as personagens em situações cotidianas e por vezes aflitivas, para concluir de uma maneira clara e inequívoca: para respeitarmos os animais não podemos compactuar com sua instrumentalização.  Para reconhecer os legítimos direitos aos animais precisamos de uma urgente reviravolta em nossos hábitos e valores.  Se esse CD fosse adotado nas escolas públicas, por exemplo, não demoraria mais do que uma geração para a realidade brasileira começar a mudar, restabelecendo-se o sentido primordial das palavras Ética e Justiça.

Méritos, portanto, para Nina Rosa e sua equipe. Aplausos a todas as pessoas que se empenharam nesse projeto educativo, dentre elas Alexandra Pinto, Fabiana Victor e Claudia Rimini, sem esquecer do Mauricio, da Tamara, da Magô e da Deise.  Cumprimentos ao Caio Petrônio e ao Fernando Feresin, que compuseram uma trilha sonora de rara beleza (seus violões traduzem a emoção e a dramaticidade presente em cada cena). Abraços à excelente turma da dublagem, como a consagrada Selma Egrei, o locutor Mauro Castro, a mágica Gabi Veiga, o educador Francisco Athayde e à pequena revelação Luiza Ueda Barreto, que bem souberam incorporar – pela voz e pela alma – suas respectivas personagens.

Luca, a menina vegana que conduz os espectadores ao longo do filme, foi dublada com perfeição pela atriz Priscila Tessuto Campos, coincidentemente uma ativista pelos animais desde adolescente. Na entrevista gravada para o Making of, Priscila diz que há muito dela nessa luta e que a mensagem de VEGANA, embora voltada ao público infantil, é universal. De fato, a coragem de enfrentar tabus, de desmistificar verdades preconcebidas, de amar sem preconceitos, de repensar nossa concepção de mundo e, acima de tudo, de optar pela não-violência, respeitando todos os seres sensíveis, é o que nos justifica perante a existência.  Nina Rosa tem essa resposta no desenho do seu coração recém-transformado em filme.  Ela sabe que a arte pode imitar a vida…

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