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Boto-cor-de-rosa vive sob ameaça na Amazônia

22 de abril de 2011
3 min. de leitura
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Alvo. Botos-cor-de-rosa nadam no Rio Amazonas: centenas entre os 30 mil que habitam a região são mortos anualmente. Foto: Lalo de Almeida/The New York Times

A beleza e a ternura que o boto-cor-de-rosa transmite para a maioria das pessoas não é compartilhada por Ronan Benício Rego, um pescador do pequeno vilarejo de Igarapé do Rosa, a três horas de barco de Santarém (PA), para ele os botos-cor-de-rosa são apenas presas fáceis.

De pé sobre as lamacentas margens do Rio Tapajós, ele diz que já matou botos muitas vezes, usando-os como isca para apanhar o peixe-gato, que é vendido a consumidores no Brasil e na Colômbia. “Queremos ganhar dinheiro”, disse Rego, 43 anos, presidente da comunidade local. Num único dia de pesca, dois botos mortos podem render o equivalente a US$ 2.400 sob a forma de vendas de peixe-gato.

A caça aos botos está aumentando na região, ameaçando um dos símbolos históricos da Amazônia e ilustrando o desafio de se fazer cumprir a lei ambiental num território tão vasto. Centenas ou até milhares dos cerca de 30 mil botos da Amazônia são mortos todos os anos.

Miguel Miguéis, 41 anos, pesquisador português da Universidade Federal do Pará Ocidental que estuda as populações de botos em torno de Santarém, disse que o alto índice de mortalidade pode levar à extinção do animal. “Eles estão assassinando sua cultura, seu próprio folclore”, disse Miguéis. “Estão assassinando a Amazônia.”

Na reserva ambiental do Rio Trombetas, muitas horas de viagem rio acima, onde os botos nadam num afluente do Amazonas cheio de piranhas e jacarés, Miguéis disse ter testemunhado uma drástica redução na população desses animais, que eram cerca de 250 em 2009 e hoje não passam de 50 espécimes.

As leis ambientais brasileiras proíbem especificamente a caça aos botos e a muitos outros animais silvestres. Os infratores podem enfrentar penas que chegam a quatro anos de detenção. Mas observar o cumprimento da lei na vasta região amazônica é um imenso desafio para o Ibama, a agência brasileira de proteção ambiental, que conta com 1.300 agentes para cobrir todo o território do País. Sozinha, a Amazônia brasileira é maior do que a Índia.

Em Igarapé, no coração da Amazônia brasileira, muitos demonstram indiferença diante da morte dos botos. Em Santarém, num mercado a céu aberto, vendedores oferecem os órgãos sexuais dos botos mortos como talismãs do amor e do sexo. Jarras de óleo da gordura do boto jazem ao lado de óleos de cobras e jacarés. A poção de óleo de boto, cujo frasco pequeno é vendido por cerca de US$ 25, é usada no tratamento do reumatismo, de acordo com a explicação da vendedora.

Miguéis, o biólogo português, está desde 2005 numa cruzada para proteger os botos e identificar seus assassinos. Ele identificou vários pequenos vilarejos nos arredores de Santarém onde os pescadores estavam matando os botos com o objetivo de atrair o peixe-gato. Os pescadores vendem o que caçam a cooperativas locais, que então exportam o peixe-gato para a Colômbia e para outros países, disse ele.

Por Alexei Barrionuevo, The New York Times – O Estado de S.Paulo ( tradução de Augusto Calil)

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