EnglishEspañolPortuguês

O coelho que já não pula mais

26 de abril de 2011
4 min. de leitura
A-
A+
Por Aleluia Heringer Lisboa Teixeira

Lá estão eles novamente invadindo meus pensamentos. Por detrás das grades de uma das centenas de celas de um galpão industrial lançam um olhar cinza e sem alegria. Apesar de se apresentarem nessas condições, eles são, paradoxalmente, o foco das atenções e ocupam todo o caderno Agropecuário do jornal Estado de Minas, do dia 18 de abril deste ano. Com o título “Coelhos vedetes da Páscoa”, é anunciado que “o preço do coelho vivo chega a triplicar nesta semana”.

No Mercado Central, em Belo Horizonte, um animal custa, normalmente, cerca de R$10. De hoje até domingo, esse valor pode saltar para até R$30. Festa para os pequenos produtores, responsáveis por grande parte das vendas dos coelhinhos de companhia nas lojas de animais.

Apossaram-se do coelho e o transformaram em mercadoria. Dentre as vantagens de se investir nesse “negócio”, está a possibilidade do “confinamento”, ou seja, acomodar muitos animais no mínimo de espaço. “Uma população grande pode ser criada em espaço pequeno e com necessidade de poucos funcionários”.

Coelhos apertados em pequenas gaiolas, sem a mínima condição de correr ou pular. Essa é uma imagem bem diferente daquela que cantava quando criança: “o coelhinho pula, sim pula, sim pula”. Quem pula agora é o lucro financeiro daqueles que investem nesse “negócio”.

O produto ou a mercadoria “coelho” vem dividido em subprodutos. Vivo ou morto, aproveita-se tudo.

O mercado de coelhos vai bem além do nicho voltado para a negociação dos animais vivos (de companhia). A produção e a venda da carne e pele voltam a despontar como alternativa de negócio rentável e com forte potencial.

Como “animal de companhia”, o coelhinho é o “fofinho”, inspiração para inúmeros bichinhos de pelúcia. Este é um dos motivos apontados na reportagem para a pouca tradição do brasileiro em comer a carne de coelho: “a maioria das pessoas tem dó de consumi-la”. Nesse ponto fica em evidência outra forma de classificar os animais, agora como “animal de carne”.

Segundo o criador de coelhos, Maurício Alves Moreira, os animais são criados em galpões, confinados em gaiolas suspensas. Com 80 dias de vida vão para o abate, com peso médio de 2,3 quilos. Chamo a atenção aqui para o fato de que um coelho saudável pode viver entre 5 e 10 anos. Comercializamos só a cabeça, coração, fígado e rim’’, afirma Moreira, proprietário do Sítio Fonte Galega, que conta com um abatedouro e toda a produção é vendida para frigoríficos do Mercado Central, em Belo Horizonte.

“Até o fim do ano quero abater 1 mil animais por mês e entrar também nas vendas dos supermercados’’, diz Moreira. O quilo do coelho é vendido pelo valor médio de R$14 aos frigoríficos. A pele do animal é congelada e comercializada para uma produtora de casacos. Cada unidade é vendida por R$2”.

Na sequência do ciclo que aproveita tudo do coelho, entra em cena Aloíse Lima, comerciante de peles de coelho há 25 anos e que, mensalmente, compra cerca de 2.000 unidades de fornecedores de Minas e São Paulo. Seus produtos incluem casacos, bolsas e cachecóis, e são vendidos em lojas de bairros sofisticados da capital e em shoppings, como o Diamond Mall.

Entre os seus clientes, grifes de peso, como Alphorria e Basic Blue. A comerciante fala da dificuldade em conseguir mão de obra qualificada para trabalhar a “mercadoria”: “a pele precisa ser cortada com estilete, no ar; não podemos apoiar na mesa. Se isso acontece, cortamos o pelo”.

A reportagem não trata de outra grande “utilidade” dos coelhos para os “humanos”, que consiste em usá-los em testes que medem a ação nociva dos ingredientes químicos, encontrados em produtos de limpeza e cosméticos. Tais ingredientes são aplicados diretamente nos olhos dos animais conscientes. Por ironia, seus olhos grandes facilitam a observação dos resultados.

Para evitar que arranquem seus próprios olhos (automutilação), os coelhos são imobilizados em suportes, de onde somente as suas cabeças se projetam. É comum seus olhos serem mantidos abertos permanentemente através de clipes de metal que seguram suas pálpebras. Durante o período do teste, os animais sofrem dor extrema uma vez que não estão anestesiados. A sessão de tortura não para por aí. Embora 72 horas geralmente sejam suficientes para a obtenção de resultados, a prova pode durar até 18 dias. Muitas vezes, usam-se os dois olhos de um mesmo coelho para diminuir custos. As reações observadas incluem processos inflamatórios das pálpebras e íris, úlceras, hemorragias ou mesmo cegueira. No final do teste os animais são mortos para que sejam averiguados, internamente, demais efeitos das substâncias experimentadas.

É o fim! Termino aqui estarrecida com tantos “exemplos” de humanidade e entendendo porque “a natureza geme com dores de parto”.

Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser da Criação, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante”. Albert Schweitzer (Prêmio Nobel da Paz – 1958)

Você viu?

Ir para o topo