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Animais em extinção vivem em harmonia no Parque Torres del Paine

20 de abril de 2011
6 min. de leitura
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Crédito: Reprodução / Portal MS - Alisson Figueiredo Rosa

Para chegar a Torres del Paine, no Chile, escolhemos o caminho mais demorado e mais espetacular. Partimos de Puerto Natales, capital da província Última Esperança. Vamos partir para conhecer as primeiras geleiras chilenas. De Puerto Natales até o Parque Torres del Paine, são sete horas. Nesse lugar, a água do mar se mistura à água do degelo e forma canais, rios e lagoas que abrigam pequenas ilhas. Quase que inesperadamente, surgem paredões enormes com cascatas feitas da água que vem das geleiras. As rochas servem de abrigo.

Olhando de longe, parecem pinguins. Mas as aves pretas e brancas são cormorões que ficam atentos ao barulho do barco, mas não se incomodam com nossa presença.

O tempo instável na Patagônia deixa a paisagem ainda mais interessante. A chuva fina e o vento gelado vêm e vão. Tudo muda em questão de minutos e por isso mesmo não incomoda, até porque nós temos muito mais com o que nos ocupar.

Acabamos de desembarcar com chuva no maior parque nacional do Chile. O Parque Nacional Bernard OHiggins tem 2,5 milhões de hectares. Por ele, andamos sob chuva fina, durante uma hora para trocarmos de embarcação.

No caminho, encontramos o Glaciar Serrano. Ele está bem à nossa frente, mas nós perdemos a noção de distância e de tamanho. Tudo parece sempre perto e menor do que realmente é. A trilha estreita ao lado da lagoa é rodeada por arbustos e flores. Uma vegetação muito simples, feita de poucas espécies, mas muito delicada e pequena. Até parece que é para não competir com a exuberância do lugar. Como não é possível levar a geleira para casa, tem gente que improvisa.

E vamos seguir viagem. Para nossa segurança, por causa do clima e do tipo de embarcação, precisamos vestir uma roupa especial. A roupa é térmica e flutua em caso de queda na água, porque nós vamos navegar durante uma hora e meia pelo Rio Serrano. Vamos até a próxima geleira.

São 40 quilômetros seguidos de uma margem onde a ação da água recorta a terra, um lugar de pequenos bosques, de montanhas e de correntezas que se transformam em corredeiras.

O caminho que nós escolhemos para chegar a Torres del Paine é lindo, mas gelado. Apesar de ser verão na Patagônia e da roupa térmica, faz muito frio e chove.

No meio do caminho, tinha uma família de cisnes de pescoço negro. E um barco por essas águas é assustador. Mas eles se defendem como podem. Nem que seja de carona nas costas da mamãe. E como dois não cabem, o jeito é se pendurar nas penas da asa dela.

Finalmente, chegamos ao Parque Nacional Torres del Paine. A imagem local depende do tempo e do vento. Lá em cima torres e picos, alguns com mais de três mil metros de altura, formam um dos maiores conjuntos de montanhas mais impressionantes do mundo. Mas como que por um capricho da natureza, as montanhas raramente se mostram por inteiro. Há sempre algumas nuvens passando ou neve caindo lá no alto.

O Parque Torres del Paine se estende por mais de 180 mil hectares, em um cenário de picos, geleiras, icebergs, lagos, vales verdes e montanhas envoltas de nuvens, como as três torres que deram nome ao Parque Nacional Torres del Paine, no Chile. Quando aparecem por inteiro, temos que aproveitar para admirar.

Para conhecer todos os cantinhos do parque, os caminhos nos levam até uma ponte inglesa de 1928. O problema é que ela é tão estreita que só passa um carro por vez e com os retrovisores dobrados.

A paisagem que passa ao nosso lado às vezes provoca espanto. São muitas as marcas do que o fogo já tirou desse lugar. Incêndios provocados por turistas descuidados mataram animais, destruíram árvores centenárias. No lugar, estão apenas troncos e um vazio de cores.

“Temos um lugar muito especial com um número muito baixo de pessoas, animais e plantas. Por isso, é preciso muito cuidado, porque qualquer dano que aconteça é muito difícil de recuperar. Se uma árvore cair, teremos que esperar uns 200 anos para que tenhamos uma árvore do mesmo tamanho. Porque há o vento constante, o frio, a variação solar. Tudo isso afeta. Então, qualquer problema vai realmente prejudicar as espécies, fazer com que diminuam muito”, aponta o biólogo Morty Ortega, da Universidade de Connecticut, EUA.

A vida é barulhenta na Patagônia. Salto Grande é uma cascata feita de águas que vêm do Lago Nordenskjöld e deságua no Lago Pehoe. Despenca branca e verde e ainda por cima tem um arco-íris que parece brincar com nossos olhos.

Torres del Paine é um santuário onde vivem principalmente aves e mamíferos. O céu é dos carcarás. Mas quem reina no alto são os gigantescos condores. De asas abertas, essas aves chegam a medir três metros. Hoje, os condores viajam tranquilos ao sabor das correntes de ar, mas, no passado, eram alvo de caçadores.

A bióloga Gládis Garay, que viveu por dez anos no parque estudando as espécies, conta que os condores eram mortos por ignorância de muitos fazendeiros: “As pessoas viam os condores comendo animais mortos e achavam que eles caçavam. Então, matavam os condores porque pensavam que elas iriam caçar os filhotes das ovelhas, das cabras”.

As águas são dos flamingos e de várias espécies de patos. Para fugir da nossa câmera, um deles mergulhou e, por quase um minuto, ficou debaixo da água escondido. Os vales e também o alto dos morros são deles.

No meio do caminho, nós encontramos também um grupo de guanacos. Eles são dóceis e ágeis. Para eles, não existem barreiras. Atravessam rios, galopam pelas estradas, andam por onde querem. São protegidos por lei. A caça está proibida.

Os guanacos costumam viver em grupos. O macho demarca território elegendo um lugar como banheiro, para que seu cheiro seja intenso e espante a concorrência. E ele está sempre em posição de guarda, seja no pasto ou na Laguna Amarga. As margens prateadas são ricas em minerais, e os guanacos adoram.

O guanaco é uma das 25 espécies de mamíferos que vivem na Patagônia. Seu predador é o puma. É difícil ver um puma de perto. Eles vivem escondidos na montanha e, geralmente, só saem à noite para caçar. Apesar de leis para protegê-los, estão ameaçados pelos fazendeiros, já que também caçam ovelhas.

Nos bosques, vivem os cervos, animais ameaçados de extinção. Andando pela estepe patagônica, nós avistamos os mamíferos menores. São as lebres e raposas também chamadas de zorros. São ariscas, mas curiosas. O pequeno animal anda rápido, mas depois para, olha melhor. Parece que faz pose para a nossa câmera. Depois, sai em disparada.

“Torres del Paine é uma vitrine, mas é mais do que isso. É um lugar protegido há mais de 50 anos. A fauna e a flora chegaram a um ponto de equilíbrio que eu não creio que exista em outra parte do mundo. Chegou a um ponto em que os predadores controlem as presas. Então, em Paine, o motivo pelo qual eu gosto de trabalhar aqui é que todas as espécies se encontram em equilíbrio. Não vai haver muitos pumas, porque não tem que ter muitos pumas. Eles se controlam, têm seus próprios territórios. Esse é o lugar perfeito para estudar a fauna e a flora em estado natural e controlando a si mesmas. Isso é a maravilha de Paine”, aponta a bióloga Gládis Garay.

Fonte: Portal MS

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