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Estudo das vocalizações dos cetáceos dá pistas para estratégias de conservação

29 de março de 2011
3 min. de leitura
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(Foto:s/c)

Mônica Silva e Irma Cascão, investigadoras do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores (UAç), fazem investigação há mais de dois anos sobre a ecologia dos cetáceos nos Açores, em Portugal, e assinalam a diversidade dos sons que existem debaixo de água.

A análise dos sons faz parte das ferramentas que as duas investigadoras têm utilizado para perceber as movimentações das baleias e golfinhos dos Açores, assim como a presença destes animais no arquipélago e o que os atrai para este local. “Queremos perceber a importância dos Açores para o ciclo de vida de uma série de espécies que são protegidas e que estão ameaçadas e identificar áreas prioritárias para a conservação destas populações, para que tenhamos garantias de que no futuro vão ser preservadas”, explicou Mônica Silva.

De acordo com Mônica Silva, o “som e a sua capacidade auditiva para eles funciona como a visão para nós”, pois ajuda-os a distinguir tudo o que os envolve, desde o alimento até à ameaça ou barreira. Tudo o que possa intervir com estes dois fatores, como o ruído introduzido pela acção humana por exemplo,  pode constituir um risco para a sua sobrevivência. “Interfere com a capacidade de comunicarem, de navegação e de perceberem onde estão os obstáculos e pode mesmo causar-lhes lesões físicas ou até a morte”, destacou.

Através de técnicas acústicas, juntamente com outras metodologias, as investigadoras  pretendem perceber o comportamento dos animais e as variações ao longo do tempo e espaço da sua distribuição. Para além das observações visuais, os hidrofones (que gravam todo o tipo de sons que se produzem debaixo de água num determinado raio de alcance)  permitem perceber a localização dos animais e se estão associados a determinadas zonas específicas.

Segundo Irma Cascão, da análise que já fizeram dos dados, verificaram que “a maioria das vocalizações destes animais é registada à noite”, o que coincide com a altura em que as presas estão à superfície. A investigadora acredita que este facto indica “uma adaptação comportamental dos golfinhos, que, em vez de se alimentarem durante o dia e mergulharem profundamente até encontrarem alimento, esperam que este suba até à superfície para aí iniciarem o seu comportamento alimentar. Assim não se cansam tanto e não despendem de tanta energia”.

Para além de não existirem muitos grupos de investigação a utilizarem transmissores de satélites, o DOP foi pioneiro na  utilização desta técnica durante a migração dos animais e já obteve bons resultados com esta “ousadia”. “A primeira coisa evidente foi que nem todas as espécies têm o mesmo tipo de comportamento e nem todas utilizam os Açores da mesma forma”, revelou Mónica Silva, destacando que até agora ninguém conhece os percursos e rotas migratórias dos animais, desde as áreas mais a sul àquelas mais a norte.

Pela sua localização, os Açores possibilitam o conhecimento dos corredores migratórios a norte e têm ainda potencialidade para dar a conhecer as áreas de migração para sul, uma vez que promovem o cruzamento de animais de ambos os lados do Atlântico, o que até então não se sabia.  A investigadora do DOP destacou que este novo dado pode revolucionar “o conhecimento científico e os modelos de gestão que estão a ser aplicados a estas espécies”.

Fonte: Naturlink

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