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Aumenta a preocupação de moradores do litoral em preservar e socorrer animais marinhos

28 de março de 2011
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Na sede da aquasis, em Iparana, equipe técnica presta socorro aos animais marinhos (Foto: Divulgação)

O ambientalista Tércio Vellardi, coordenador do Recicriança, liga para os biólogos da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), em Caucaia. Eles explicaram os primeiros socorros. A essa altura já tinha corrido na comunidade a notícia do golfinho encontrado na praia. Na mesma noite chegam a Canoa Quebrada os biólogos da Aquasis.

Foi uma noite em claro de acompanhamento pela vida do mamífero marinho. Na manhã de domingo, dezenas de pessoas, e muitas crianças, queriam ver o golfinho que, não se sabiam porquê, foi parar ali. Apresentando um quadro de comportamento melhor (quando apareceu na noite anterior o golfinho se debatia todo), contando ainda com a ajuda dos pescadores da praia de Quixaba, também em Aracati, o animal foi levado para o alto-mar, onde sua espécie habita. Mas a alegria só demorou algumas horas até que o mamífero marinho fosse flagrado de volta à costa, encontrado morto.

Equipe da Aquasis faz o resgate de golfinho na praia de Canoa Quebrada, em Aracati. (Foto: Divulgação)

“A causa da morte foi o estresse. A fadiga levada ao estresse do encalhe. Essa é uma espécie pelágica de alto-mar, não costuma estar próxima da costa. Estamos investigando o que pode ter levado esse animal sozinho”, explica Cristine Negrão, bióloga da Aquasis. Ela aponta para a possibilidade de uma doença pré-estabelecida, que possa tê-lo levado a se enfraquecer e se perder de seu grupo.

E, apesar da morte do mamífero, a bióloga comemora o aumento da preocupação dos povos do mar em preservar e socorrer os mamíferos marinhos que, por variados motivos, são encontrados encalhados na areia. Quanto mais rápido o socorro e mais corretos os procedimentos, maiores as chances de salvamento. O problema é mais comum do que se pensa: em 2010, foi registrado o encalhe de 74 golfinhos nas praias do Ceará. Uma média de três encalhes a cada duas semanas. Na maioria dos casos o estado já é grave, dificultando a reabilitação desses mamíferos.

Felizmente, o mesmo não se pode dizer do peixe-boi marinho, animal ameaçado de extinção e que também encalha na zona costeira. Desde 1994, foram registrados 45 encalhes, dos quais apenas um destes mamíferos veio a óbito.

Os números alarmam mas, ao mesmo tempo, representam uma informação que antes não existia. Situada em Iparana, Município de Caucaia, a Aquasis desenvolve trabalho de monitoramento e preservação de espécies nos 553 quilômetros de litoral do Ceará. A costa é dividida em três trechos, mensalmente percorridos à procura de possíveis restos de animais marinhos. Os dados permitem um mapeamento das áreas mais críticas no litoral.

Canoa Quebrada, por exemplo, é uma das áreas com registro de encalhe de peixes-boi marinhos. E é lá que a ONG Recicriança ensina aos mais jovens, desde cedo, a importância da preservação da fauna, da flora, das dunas e das falésias do lugar. As crianças são incentivadas a levarem o aprendizado para casa, para as mães e os pais pescadores. Para que as estatísticas, notadamente de encalhe de boto cinza (como é conhecido o golfinho que vive na zona costeira), tenham um fim mais satisfatório, a associação capacita os próprios moradores do litoral sobre como procederem diante dos encalhes.

Pelo Projeto Manatí, desenvolvido pela Aquasis, serão capacitadas 100 pessoas de todas as regiões do litoral cearense, em curso teórico e prático sobre como preservar os mamíferos marinhos.

“Vimos que existem algumas áreas com alto grau de encalhe, e isso pode estar relacionado à pesca. Vamos escolher comunidades chaves para fazer um programa piloto para reduzir a mortalidade nessas regiões. O boto cinza é uma espécie muito vulnerável. Como é costeira, habita uma região onde se encontram muitas redes de pesca. E elas formam verdadeiras muralhas. Os animais acabam se emalhando e morrendo por asfixia. E isso é um problema recorrente que temos visto ao longo dos anos”explica a bióloga, estimando que quase 80% dos encalhes de botos estejam relacionados à captura acidental em redes de pesca no Ceará.

Por não dispor, ainda, de ambiente para tratamento de médio e longo prazos, a Aquasis encaminha os mamíferos em tratamento para o centro de reabilitação em Itamaracá (PE). Mas a associação de pesquisa cearense está investindo na construção de um novo centro de reabilitação de mamíferos, com investimento de R$ 1,9 milhão. Isso permitirá o tratamento completo de filhotes de peixe boi e de golfinhos até estarem preparados a voltar para o mar. O Projeto Manatí é realizado com apoio institucional da Petrobras. O Sesc Ceará é o principal mantenedor da Aquasis, que além da zona costeira cearense atua em parceria na preservação dos ecossistemas da costa oeste do Rio Grande do Norte.

Mais informações

Se encontrar um mamífero marinho encalhado na praia, avise aos biólogos da Aquasis – Iparana, Caucaia (CE) – Telefone: (85) 3318.4911

Biodiversidade

Extinção Zero quer preservar espécies ameaçadas

A preservação de mamíferos marinhos é um dos pilares de outro trabalho desenvolvido pela Aquasis: o Projeto Extinção Zero, realizado com o apoio da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.

O principal objetivo deste Programa é evitar a extinção da biodiversidade no Ceará, através de processos de conservação das espécies mais ameaçadas do Estado, que são utilizadas como símbolo para a conservação de ambientes críticos.

Foco da ação

As prioridades são: o peixe-boi marinho e aves migratórias, no Litoral Leste do Ceará e extremo Oeste do Estado; o boto-cinza, na zona costeira da Região Metropolitana de Fortaleza; o periquito cara-suja, no Maciço de Baturité, e; o soldadinho-do-araripe, na Chapada do Araripe.

Essas duas espécies de aves são encontradas somente nos ecossistemas do Estado do Ceará. Daí a preservação desses pássaros ganhar uma importância global para a manutenção da biodiversidade do planeta, que precisa ser preservada.

Fonte: Diário do Nordeste

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