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Espécie de peixe sofre mutação genética para sobreviver em rio contaminado

14 de março de 2011
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Peixe da espécie Tomcod. Desenho de H. L. Todd (Reprodução/Gma.org)

Na evolução das espécies, quem não se adapta corre o risco de desaparecer. O Microgadus tomcod, peixe da família do bacalhau encontrado no Hemisfério Norte, definitivamente não quer sumir do leito do Rio Hudson, em Nova York, nos EUA. Poluído depois de três décadas de acúmulo da substância bifenila policlorada (PCB), altamente tóxica, o local se tornou um ambiente inóspito. O tomcod, no entanto, desenvolveu uma mutação genética que permitiu não apenas sua sobrevivência, mas uma espécie de ´milagre da multiplicação`.

Tomcod: mutação igual só havia sido vista em organismos menores, como insetos Foto: Fotos: Science/AAAS/Divulgação
O gene mutante, descrito em artigo da revista científica Science, tem como única função proteger o peixe dos efeitos letais da PCB, despejada aos montes no Hudson entre 1929 e 1976 por fábricas de suprimentos eletrônicos. Calcula-se que o total do produto tóxico lançado ao rio tenha chegado a 600t, até a prática ser proibida. De acordo com os pesquisadores, o tomcod precisou ´agir` imediatamente. ´Descobrimos que a mutação aconteceu muito rapidamente, e apenas um gene foi responsável por ela`, disse o geneticista populacional Isaac Wirgin, professor de medicina ambiental da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York. ´Não existem muitos exemplos como esse na literatura científica`, afirma.

Há tempos os cientistas tentavam entender os mecanismos biológicos que permitiram a sobrevivência do tomcod. Medindo cerca de 25cm na fase adulta, o peixe, que não é normalmente usado na culinária, precisa viver sob níveis altos de poluição. Wirgin diz que a toxicidade no pulmão do animal é uma das mais altas já registradas e que outros peixes não sobreviveriam à alta exposição à PCB, que é cancerígena.

Durante quatro anos, o pesquisador e colegas de Nova Jersey e Massachusetts capturaram tomcods com uma caixa especial, tanto em áreas altamente contaminadas quanto naquelas menos poluídas. Os espécimes foram estudados em busca de variantes genéticas e de um gene que decodifica uma proteína conhecida por regular os efeitos tóxicos da PCB, o receptor arilhidrocarbono (AHR2). Esse gene também está envolvido com a mediação de efeitos de outros compostos de halogênicos de hidrocarbonetos, um grupo que inclui bifenila policlorada.

Discretas alterações – a supressão de seis pares de AHR2 no DNA – parecem proteger o tomcod da substância tóxica, diz o estudo. Normalmente, quando o gene inalterado entra em contato com a PCB, ele desencadeia reações que transmitem os efeitos tóxicos do componente para o organismo. Mas, na pesquisa, os cientistas constataram que, no gene variante, isso não ocorre. Wirgin explica que, mesmo em águas limpas, o tomcod, ocasionalmente, carrega essa mutação. ´Isso sugere que a variante já existia, em menor proporção, antes da poluição por PCB`, diz.

Os animais que adquirem a mutação levam vantagem sobre os demais indivíduos da espécie, que, sem a mutação, desenvolvem um tipo letal de defeito cardíaco. ´Acho que a evolução aconteceu ao longo de milhares de gerações. Mas especificamente aqui,no Rio Hudson, tudo aconteceu memoravelmente rápido`, afirma Wirgin.

Apesar de esse tipo de reação ter sido observada anteriormente em bactérias e insetos que desenvolvem resistência a alguns inseticidas, não é algo comum em animais de porte maior.

“É a primeira demonstração de um mecanismo de resistência genética na população vertebrada” Isaac Wirgin, professor da Universidade de Nova York.

Fonte: Diário de Pernambuco

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