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Adoção entre animais: um gesto de amor incondicional

13 de março de 2011
5 min. de leitura
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A cadela Jasmine adotou vários animais, entre eles, um coelho, em um santuário na Inglaterra.

Em latões de lixo, terrenos baldios, caixas de papelão, sob viadutos ou perdidos pelas ruas. As cenas descritas são cruéis e entristecem. Mas, infelizmente, não é raro ver ninhadas de gatos e cachorros sendo tiradas de suas mães e abandonadas à mercê da própria sorte. Com frio, fome e sem os primeiros cuidados maternais, boa parte desses animais morre.

Contudo, a exemplo do que ocorre com os seres humanos, o reino animal também tem suas peculiaridades e a adoção é uma delas. Segundo especialistas, o instinto materno permite que animais domésticos  e até os selvagens cuidem de crias órfãs. São as amas de leite do mundo animal.

Nas organizações não-governamentais (ONGs), que dedicam seu tempo e trabalho aos cuidados com os animais de estimação sem donos, não é difícil encontrar histórias de adoção pela cidade.

A empresária Sandra Regina Daniel é presidente da ONG “SOS Gatinhos” de Bauru, em SP, há quatro anos. Relatos desse tipo de carinho e cuidados entre os animais não faltam em suas histórias.

“É comum que uma gata, por exemplo, adote gatinhos abandonados. Já tive muitos casos assim. O curioso é que a maior parte dessas fêmeas é castrada e, ao se aconchegarem com os filhotes recém-chegados, como em um passe de mágica elas passam a ter leite”, conta.

Um caso ocorrido na própria casa da empresária é o da gata “Manoela” e seu rebento adotivo “Alexi”. Sandra Regina lembra que o macho chegou até ela quando ainda era filhote e precisava de cuidados. Mais que depressa, Manoela assumiu a “guarda” do filhote e, hoje, já adultos, ainda se comportam como mãe e filho.

“Com a experiência que tenho no cuidado com os animais, posso dizer que as gatas têm instinto materno e acolhem rapidamente os pequeninos abandonados, tendo ou não seus próprios filhotes, e realmente amamentam.”

Segundo a médica veterinária Ana Lúcia Geraldi, a explicação para o fenômeno descrito pela presidente da SOS Gatinhos está mesmo no instinto materno. “Muitas fêmeas têm esse instinto super apurado e acabam produzindo leite”. Contudo, a veterinária diz que, para aceitar a cria de outra fêmea, a ama de leite precisa ser um animal bastante dócil. “Algumas são verdadeiras mãezonas. Outras não aceitam a adoção com facilidade”, explica.

E quando há recusa, ela vem sempre da mãe adotiva e nunca dos filhotes. Estes se adaptam com facilidade. Afinal, animal também gosta de carinho e cuidados.

Embora a intervenção e a crueldade humana sejam as maiores responsáveis pela separação da fêmea e seus filhotes, alguns fatores naturais contribuem para que a mãe rejeite sua prole.

De acordo com Ana Lúcia, a imaturidade do animal, o estresse e até mesmo uma depressão pós-parto são circunstâncias que fazem com que a fêmea abandone a cria. “Um parto cesariano ou o contato de uma pessoa com os filhotes, que interfira no cheiro natural da cria, podem ocasionar o abandono”, explica.

Adoção entre espécies diferentes pode causar estresse psicológico nos animais

Embora não seja tão comum quanto em animais da mesma espécie, também existem histórias sobre animais que adotam filhotes de espécie diferente. Comandados pelo instinto materno, apesar de inusitados e de chamar a atenção dos humanos, tais fatos não são tão benéficos assim.

Embora a proteção e os cuidados da mãe “estranha” ajudem o filhote a sobreviver, por terem características, necessidades e hábitos diferentes, ambos podem ter problemas e confusão comportamental ao notar as diferenças presentes. “O que pode acontecer é um estresse psicológico, tanto na mãe adotiva quanto no filhote. Isso acontece quando eles passam a agir conforme os instintos pertinentes a suas espécies”, afirma o biólogo e diretor do Zoológico de Bauru, Luiz Pires.

Portanto, a história do “Patinho Feio”, que fica triste ao perceber as diferenças físicas e comportamentais existentes entre ele e sua família adotiva, também pode facilmente acontecer na vida real dos animais.

Sem ama de leite, dedicação humana é fundamental à sobrevivência de filhotes

Nem sempre é possível encontrar ama de leite para uma ninhada que ficou sem a mãe. Nesses casos, para que os bebês sobrevivam é preciso, além de carinho, dedicação e paciência dos donos para amamentar os filhotes com mamadeiras ou até mesmo com conta-gotas.

Ao contrário do senso comum, o leite de vaca não é indicado como alimento para os animais de estimação. Além de não suprir a necessidade nutricional dos cães e gatos, esse alimento ainda pode causar diarreia.

Casas de rações, pet shops e clínicas veterinárias disponibilizam algumas marcas de leite específicas para esses filhotes. Porém, há receitas caseiras igualmente eficientes.

No entanto, mesmo com todo zelo dispensado, nem sempre os filhotes sobrevivem apenas com cuidados humanos. Normalmente, os que não resistem são os que nascem muito fracos e aqueles cujos tutores não têm tempo ou paciência para dar o leite várias vezes ao dia.

“Por isso, a ama de leite funciona. Além de amamentar, ela limpa, aquece e estimula a micção e defecação nos filhotes”, aponta a médica veterinária Ana Lúcia Geraldi.

Fêmeas que perdem seus filhotes após o parto podem ter mastite (inflamação das glândulas mamárias) e precisam de medicamentos específicos, indicados por um médico veterinário, para secar o leite.

Alguns fitoterápicos, como os florais, também são indicados no caso de haver depressão pós-parto da mãe que perde ou é separada de sua cria.

Fonte: Jornal da Cidade de Bauru

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