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Aves ameaçadas ganham proteção voluntária nos EUA

17 de fevereiro de 2011
7 min. de leitura
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Quando teve início a colonização permanente no oeste dos EUA, cerca de 16 milhões de tetrazes viviam nas estepes das altas planícies.

Hoje pode haver apenas 200 mil dessas aves terrestres, famosas por sua elaborada dança de cortejo – e elas estão em declínio, atingidas principalmente pelo desenvolvimento de petróleo e gás.

Seus números minguantes asseguram uma proteção como espécie em extinção, dizem autoridades federais.

Porém, como outras espécies precisam de catalogação, e como a proteção a espécies em extinção é amplamente criticada no oeste, vem sendo desenvolvida uma forma exclusiva de cuidar dessas aves.

A Iniciativa Tetraz, projeto administrado pelo Serviço de Conservação de Recursos Naturais, busca proteger três quartos da espécie em aproximadamente um quarto do habitat total das tetrazes.

As autoridades chamam isso de triagem pela conservação – proteger a terra onde o habitat está mais intacto, e ignorar regiões degradadas pelo desenvolvimento da energia e outros empreendimentos.

“Como um feixe de laser, estamos focando aqueles locais onde há grandes quantidades de aves”, disse David Naugle, professor de vida selvagem na Universidade de Montana e consultor científico do projeto.

O esforço também é exclusivo por cobrir uma área tão grande – são 56 milhões de acres em 11 estados do oeste americano.

Nada próximo a isso jamais foi feito por uma espécie em perigo.

O projeto recebeu, do serviço de conservação, US$ 18 milhões no ano passado e US$ 30 milhões neste ano.

Na semana passada, o serviço federal anunciou a adição de US$ 23 milhões para a compra de direitos de uso de habitats centrais.

“O governo federal realmente se prontificou para manter as tetrazes fora da lista de extinção”, afirmou Tom Remington, diretor da Divisão de Vida Selvagem do Colorado, entidade não envolvida no projeto.

“É chocante que eles tenham feito isso tão rapidamente, e que o financiamento seja tão significativo.

A aplicação da ciência dessa forma é inédita”.

Noah Greenwald, biólogo do Centro de Diversidade Biológica _ que foca em espécies ameaçadas _, diz que o plano é bom, mas não profundo o bastante.

A iniciativa das tetrazes “é involuntária”, afirmou ele.

“Esperamos que as promessas sejam mantidas, mas as coisas podem escapar pelas rachaduras”.

Segundo ele, o plano tampouco protege o habitat das tetrazes em terras federais danificadas pelo desenvolvimento da energia, e os planos de proteção nessas áreas não são tão fortes quanto seria uma designação de espécie ameaçada.

O grupo pediu por um registro forçado da ave, para que ela receba proteção completa da lei.

O esforço começou com os locais que continham as populações maiores e mais saudáveis.

Em cada estado, os “leks” foram detalhadamente computados – um lek é como um agrupamento de tetrazes, uma área crucial onde as aves desempenham seus rituais de cortejo e acasalam.

A contagem de aves nos leks, durante a primavera, deu aos biólogos uma sólida estimativa de números.

O rito de acasalamento das tetrazes, na primavera, é um dos cortejos mais dramáticos do mundo dos pássaros.

Durante cerca de um mês, dúzias de machos aparecem nas leks e lutam por território com exibições – inflando um grande colar de penas brancas no peito, agitando as penas da cauda e gerando estalos com duas pequenas bexigas de ar amarelas em seu peito.

Os pássaros de confrontam e penas voam, tudo num esforço para provar superioridade e reivindicar mais metros quadrados de terra.

Em abril chegam as fêmeas, e alguns pesquisadores brincam que tem início o equivalente da vida selvagem aos bares das férias de primavera na Flórida.

“É o caos”, disse Naugle.

Enquanto o ar é preenchido pelo estalar das bexigas, “todos começam a se exibir e pavonear, tentando cortejar as fêmeas”.

O macho principal chega a se acasalar com três quartos das fêmeas.

Dos 56 milhões de acres, o serviço de conservação está se concentrando em terras de fazendas com as maiores concentrações de aves e o melhor habitat, chamadas de áreas centrais, e trabalhando para aprimorá-las.

Trata-se de um último esforço em grande escala para interromper o declínio da ave e, se fracassar, a espécie provavelmente receberá uma rígida proteção por toda a área.

O programa é parte da lei federal de fazendas de 2008, e a principal agência é o serviço de conservação _ cuja maior missão é oferecer financiamento e apoio técnico a fazendeiros e agricultores.

Uma ideia no coração da iniciativa, porém, é que uma fazenda melhor administrada também aprimorará o habitat para a tetraz, e uma fazenda mais lucrativa tem menos chances de ser vendida para subdivisões.

No ano passado, o projeto trabalhou para aprimorar o habitat em 1.600 quilômetros quadrados, e neste ano serão 4,8 mil quilômetros.

O serviço de conservação, segundo Naugle, é a chave para se fazer tanto em tão pouco tempo.

“Eles têm um exército já de prontidão para criar esse tipo de resultado”, disse ele.

O programa, fortemente focado em pesquisar o impacto de, por exemplo, pastos e cercas de arme farpado sobre as tetrazes, depende de fazendeiros como Ben Lehfeldt.

Ele cria ovelhas e gado ao norte de Billings, numa região central de Montana que ainda é rica em tetrazes.

Enquanto cruza sua remota fazenda por uma pequena estrada de terra, Lehfeldt aponta marcações plásticas do tamanho de cartas de baralho, afixadas em quilômetros e quilômetros de arame farpado.

As tetrazes voam baixo, bem perto do solo, e as cercas matam centenas de aves a cada ano.

Essa marcação de algumas cercas e a remoção de outras, num total de 290 quilômetros de cercas, deve evitar entre 800 e mil colisões anualmente, segundo um estudo realizado na Universidade de Idaho.

Os fazendeiros também construíram rampas nos tanques de água para o gado, permitindo que as aves que caírem ali consigam sair.

Lehfeldt afirmou gostar da abordagem.

Uma designação de espécie ameaçada significaria restrições e fim dos financiamentos, o que geraria muito mais controvérsias.

“Isso teria tornado as coisas muito mais difíceis”, disse Lehfeldt.

A indústria da energia também combateu a designação.

As florestas de salvas verde-prateadas são vitais em cada aspecto da vida da tetraz.

As aves precisam da grama pesada abaixo dos arbustos de salva, pela cobertura contra predadores durante o chocar e a educação da ninhada.

Assim, oito novos tanques de água permitirão que Lehfeldt espalhe seu gado e ovelhas de forma mais ampla nesta árida paisagem, deixando que as pastagens das planícies cresçam mais altas.

Onde a terra foi cultivada, os fazendeiros são pagos para replantar a vegetação nativa.

O programa teve início no ano passado e, nesta primavera, biólogos começarão a monitorar os efeitos das alterações.

Com base nessas medidas, “estamos estimando um aumento de 8 a 10 por cento em sucesso de ninhadas”, disse Naugle.

“Se não funcionar, vamos ajustar o gerenciamento de habitat para atingir os benefícios.

É um gerenciamento adaptável, e monitoramos todos os passos do caminho”.

Enquanto o Ato de Espécies Ameaçadas protegeria as aves por lei, este programa é voluntário – e pode incluir incentivos substanciais.

Os fazendeiros podem receber dos programas um total de até US$450 mil durante 10 anos, mas precisam igualar parte desse valor.

Mesmo assim, é o bastante para que os fazendeiros façam alterações de administração imediatamente- ações que, de outra forma, poderiam levar anos ou nunca serem realizadas.

Em alguns locais, especialmente em terras federais, não serão conduzidos esforços para proteger as aves.

O desenvolvimento da energia transformou grande parte das estepes de salvas do Wyoming numa rede de estradas, torres de energia e outros empreendimentos.

Como os pássaros não toleram alterações, seus números sofreram fortemente.

O crescimento das turbinas de energia eólica e a subdivisão de terras também são problemas, devido às estradas e ao tráfego associados a elas.

Um coringa neste projeto é o vírus do oeste do Nilo.

Onde Naugle estudou as tetrazes, há uma mortalidade de 25 por cento durante os anos de epidemia.

Além disso, os reservatórios que a indústria de energia usa para armazenar a água extraída com o gás natural geram mosquitos, e a indústria vem buscando maneiras de lidar com o problema – incluindo peixes que se alimentam de insetos.

A experiência do Canadá com as tetrazes foi uma sombria lição aos biólogos locais.

O oeste do Canadá possuía prósperas populações da ave.

Hoje, devido principalmente ao desenvolvimento da energia, existem apenas 200 espécimes em Saskatchewan e menos de 100 em Alberta – e há temores de que a população de Alberta logo desaparecerá.

Elas são importantes como uma espécie “guarda-chuva” – se o seu habitat é protegido, isso gera a proteção de outras espécies das planícies, de pardais migratórios e coelhos pigmeus a veados-mulas.

“Essa iniciativa é uma das mais importantes que vi em uma década, a preservação de um habitat de alta qualidade”, afirmou Bem Deeble, coordenador de salvas para a Federação Nacional de Vida Selvagem, em Missoula.

“Eles estão trazendo o melhor da nova ciência para analisar impactos”.

Fonte: Yahoo

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