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O antropocentrismo mais forte do que nunca

11 de fevereiro de 2011
4 min. de leitura
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Ideias retrógradas sempre retornam. É como a moda. Basta um relaxamento qualquer e a podridão explode.

Que o digam os que adoram trazer à tona os casacos de pele de animais. Insistem em incentivar a insegurança feminina, trazendo pedaços de pele morta e o tratando como artigo de luxo.

As campanhas ambientais estão cada vez mais hipócritas, cada vez mais antropocêntricas.

O clichê “o mundo que deixaremos a nossas gerações futuras” está passando por ênfases interessantes: de um lado, a humanidade que pensa nas gerações futuras está pouco se lixando para o restante dos seres vivos do planeta. De outro, cada vez fica mais claro que na realidade não se pensa no futuro, cada um quer é salvar sua própria pele e consumir o máximo que puder.

Algumas carnes não podem ser consumidas. O antropocentrismo seletivo. (Foto: codigoflorestal.com)

A campanha do Greenpeace é clara: “Estamos preocupados que não faltem os animais, incluindo os da sua mesa”. “Estamos em todo lugar, inclusive para que você saiba a procedência da carne que come.”

A propósito, gostaria de conhecer alguém que realmente pesquisa sobre a procedência da carne que consome, pois os hipócritas que afirmaram isso (inclusive gente com doutorado) não sabem que grande parte dos açougues e supermercados não tem estrutura sequer para responder a essa pergunta. E que grande parte do que consomem não é de produção local. Aqui mesmo no Rio Grande do Sul, boa parte da carne vem de fora, e boa parte do que é produzido aqui vai para o exterior. A pecuária aqui no pampa gaúcho não está em primeiro lugar no Brasil, pelo contrário, figura bem lá atrás. Mas para qualquer um na rua que se pergunte, ainda há o romantismo de que aqui é a terra da pecuária, do churrasco etc.

Outras carnes podem ser consumidas sem qualquer problema, desde que a consciência mediana se sinta tranquila. (Foto: flickr.com)

A Veja já está classificando o não consumo de carne como iniciativa de baixo impacto para salvar o planeta.

Logo a Veja, que sempre publicou matérias contra o atraso provocado pelo Ibama frente a obras de grande impacto ambiental. O que me fez parar de ler essa revista, há mais de dez anos, foi justamente a parcialidade em defender agricultores e grandes empresas e criticar duramente as iniciativas ambientais.

Agora quer ensinar como ser mais ecológico, como se alimentar bem etc. Dá para confiar?

O aquecimento global já era fato antes mesmo de ter esse nome. Mas a mídia que mais desinforma do que informa faz questão de colocar dúvidas na cabeça de quem não leu sobre o assunto, de quem não acompanhou o processo de degradação que culminou no fenômeno “mudanças climáticas”. Que, diga-se de passagem, está registrado em qualquer bom livro de ecologia.

Mas, além do aquecimento global, o consumo de carne provoca outros impactos ambientais de caráter mais visível, que são o alto consumo e desperdício de água, a degradação de terras, o desmatamento, o consumo de combustíveis fósseis para o transporte e outros impactos como a produção de esterco exageradamente perigosa.

Esses e outros impactos não parecem preocupar a Veja, que prefere incentivar o inócuo xixi no banho, o tapar a tampa da panela e outros recursos que mais são propagandas de publicidade do que efetivos realmente.

Há pequenas coisas que, se forem feitas, a curto prazo resultam em economia doméstica. Mas para um planeta de mais de 6 bilhões de habitantes é ingênuo acreditar que só isso resulta em alguma mudança real.

O que esses meios querem é fazer com que a consciência de quem nada faz fique tranquila. O povo imobilizado pela incapacidade de ligar as informações apenas segue os conselhos gastronômicos que ignoram a ética de se usar animais como produtos e também a toxicidade da alimentação baseada em animais.

Isso me recorda um importante trecho do livro A arte de amar, de Erich Fromm

“O capitalismo moderno necessita de homens que cooperem polidamente e em grande número; homens que desejem consumir cada vez mais, e cujos gostos sejam padronizados e facilmente influenciáveis e antecipados.

Este sistema necessita de homens que se sintam livres e independentes, não sujeitos a qualquer autoridade ou princípio ou consciência – que desejem ser comandados, que façam o que se espera que eles façam, que possam ser guiados sem força, que liderem sem líderes, que sejam induzidos a não ter objetivos, a não ser o de fazer mercadorias, homens que estejam em movimento, funcionem e sigam adiante.

Qual o resultado? O homem moderno está alienado de si mesmo, de seus companheiros e da natureza.”

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