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Cientistas constatam que ave de rapina utiliza sinais em seus ninhos para evitar conflitos

20 de janeiro de 2011
3 min. de leitura
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Na imagem, ninho de um milhafre-preto de 11 anos. Nesta idade eles decoram seus ninhos de maneira exuberante (Foto: Fabrizio Sergio)

Pesquisadores descobriram, pela primeira vez, que pássaros também utilizam comunicação não corporal para enviar as suas mensagens. Só a maneira de decorar os ninhos representa uma avalanche de informação. O estudo, que será publicado na próxima edição da revista Science, acompanhou aves da espécie milhafre-preto (Milvus migrans) no Parque Nacional de Doñana, na Espanha, e mostrou como a ave de rapina faz para comunicar um “não ultrapasse, animal bravo” ao decorar seu ninho com pedaços de plástico branco. Como resultado ao aviso ocorre uma prole maior, manutenção do território e combater mais eficaz de intrusos.

“Eles decoram o ninho como uma forma de ameaçar outros pássaros da mesma espécie que não estão procriando e que querem (desesperadamente) conquistar território. A decoração informa ao intruso a capacidade de luta do dono do território”, disse ao iG Fabrizio Sergio, do departamento de investigação biológica da Estação Biológica Doñana e autor do estudo.

Sergio explicou também que a decoração, presente em 77% dos ninhos analisados, não faz parte da corte entre machos e fêmea. Isto porque quando estão construindo o ninho, o casal já está junto há um mês. A escolha de plástico branco está no fato de poder ser visto de longe com mais facilidade.

O milhafre-preto é uma ave de rapina que decora seu ninho para afastar intrusos (Foto: Fabrizio Sergio)

Os pesquisadores observaram que a decoração de ninhos está relacionada com a idade dos animais, e consequentemente também com sua força. Apenas as aves mais fortes, aquelas entre sete e 12 anos de idade construíam seus ninhos com o uso de pedaços de plástico. Aves muito jovens ou já velhas dificilmente decoravam seus ninhos. “São aves com garras bem afiadas que podem machucar seriamente umas as outras por causa de uma briga. O sinal de ameaça é mais adequado, assim o intruso se abstém de entrar no território de um lutador poderoso”, disse.

Honestidade é isso aí

O estudo monitorou 127 ninhos de milhafre-preto e também se mostrou ainda mais interessante quando os pesquisadores resolveram introduzir plásticos brancos em ninhos que não haviam sido construídos com tal sinalização. Entre os pássaros de idade privilegiada, 85% mantiveram o plástico colocado em seu ninho, enquanto que 87% dos pássaros na outras classes etárias, retiraram. Os pesquisadores então aventaram a hipótese de que ocorre uma espécie de “teste social”: os pássaros não fazem trapaça e só decoram seus ninhos quando realmente são capazes de defender seu território.

“No curto prazo, quando de repente um milhafre-preto decora seu ninho, ele está sinalizando que ali está um território de alta qualidade e esta iniciativa atrai outras aves que não estão procriando. Estas aves querem ter certeza de que quem decorou não está mentindo e que é um bom lutador”, disse.

Para os pesquisadores, a comunicação dos pássaros através de seus ninhos pode ser considerada ainda um buraco negro na literatura científica e que os resultados do estudo podem abrir caminho para mais estudos sobre este assunto.

Perguntado sobre a possibilidade de relacionar o comportamento dos milhafres com humanos, Sergio afirmou que é melhor não se aventurar com tal comparação. “Um colega meu fez um paralelo com as artes marciais, por exemplo, as diversas faixas de caratê. Se você é faixa amarela, provavelmente não vai querer mexer com um faixa preta e ficará feliz por ser capaz de ver que o oponente é faixa preta antes mesmo de começar a luta”, disse.

Fonte: Último Segundo

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