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Fundadora da ONG “Igualdad Animal” fala sobre a proibição das touradas

2 de janeiro de 2011
5 min. de leitura
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Por Camila Arvoredo  (da Redação)

Créditos foto: “Igualdad Animal”

Quando as pessoas pensam em touradas, logo lembram da Espanha, entretanto, isto pode mudar, caso os eventos tomem os rumos que estão levando.

Enquanto as touradas são fortemente associadas com a Espanha, a tradição cultural está mudando. A Catalunha, onde apenas um estádio de tourada está ativo, proibiu as touradas em julho, provocando o debate nacional, a respeito de uma tradição de séculos.

Três anos antes, uma rede de televisão de alta audiência parou de cobrir as touradas e em 1991, as Ilhas Canárias tornaram-se a primeira Comunidade Autônoma da Espanha a proibí-las.

A tomada de decisão da região da Catalunha foi vista de diferentes maneiras: organizações dos direitos dos animais viram a ação como um tremendo sucesso, mas os defensores das touradas viram a proibição apenas como uma pequena tentativa feita por uma região nacionalista de demonstrar suas diferenças culturais.

O jornal “GlobalPost” entrevistou a fundadora da organização europeia dos direitos dos animais “Igualdad Animal” Sharon Nunez para discutir o futuro das touradas na Espanha.

GP: Por que a Catalunha se tornou a primeira região espanhola a banir as touradas?

Nunez: Bem, eu poderia dizer que há duas razões. Primeiramente, existe um movimento anti-Espanha muito forte nesta região. As touradas são associadas com a Espanha e a cultura espanhola. A sensibilidade contra as touradas está aumentando, bem como a percepção do sofrimento animal, já que esta região é fortemente influenciada pela mentalidade europeia.

GP: Como pode ser caracterizada a indústria de touradas na Espanha?

Nunez: Além do que vemos no espetáculo, existe uma indústria de criação de bois com essa finalidade, bem como redes de restaurantes que oferecem a carne dos touros. Os animais também são usados nas corridas de ruas das cidades e vilas espanholas. Há igualmente as “becerradas”, o que é basicamente a tortura de bezerros com menos de um ano de idade até que eles tenham sido mortos nas ruas das vilas espanholas. Esta é uma grande indústria, porque praticamente todas as vilas da Espanha têm algum tipo de negócio envolvendo criação de touros e outros animais. A indústria das touradas também é subsidiada pelo governo, ou seja, ela é maior do que poderíamos imaginar.

GP: As touradas são uma tradição de séculos e criam empregos plenos e de meio período, por que bani-la então?

Nunez: A cultura e a tradição não justificam o sofrimento animal. Os animais sofrem não só durante a tourada, mas durante o transporte. Eles estão amedrontados, sangrando e algumas vezes chegam a vomitar sangue. Se estivéssemos falando de direitos humanos, ninguém iria justificar a tortura em nome da cultura. De outro modo, pesquisas como a “2006 Gallup Poll” mostram que mais de 70% dos espanhóis não estão interessados em touradas. O que nós estamos vendo é que pessoas jovens tendem a não apoiar este evento. Assim, eu acho que a tradição irá morrer, mas nós temos que vê-la morrer o quanto antes. Quanto mais fizermos o público perceber o sofrimento animal, mais cedo ela será abolida. Eu acredito que a proibição na Catalunha gerará um efeito dominó no resto da Espanha nos próximos anos.

As touradas são parte vital da indústria do turismo. Uma proibição poderá afetar o turismo?

Primeiramente, mesmo se ela o fizesse, ela deveria ser proibida. Eu acho que a Espanha deveria mudar a sua imagem para um país que não suporte a crueldade e o sofrimento animal. A Espanha deveria promover uma outra imagem: o turismo não deveria ser baseado no sofrimento, em sangue e morte. De fato, a maioria dos turistas não tem grandes conhecimentos sobre as touradas. Eles acham que é um duelo entre o touro e o matador. Nós temos imagens de turistas saindo do estádio de tourada, chorando ou absolutamente chocados pelo que eles viram. É algo que é muito difícil de ver e entender, se você não cresceu vendo isto. A maioria das pessoas na Espanha, que apóiam as touradas viram-nas por toda a sua vida e é por isso que elas se tornam insensíveis ao sofrimento animal.

Qual é a situação atual das touradas em Madrid? O movimento anti-touradas é ativo? Existe a possibilidade do Governo proibir a tradição em breve?

As touradas são muito populares em Madrid e de abril a junho ocorre a temporada mais calorosa, aliás, quanto mais ao sul você for, mais forte fica. Note que popular não significa que grande parte da população apóia a tradição; só significa que os estádios estão geralmente cheios, enquanto que na Catalunha eles quase nunca enchiam. Existe um enorme número de estádios em Madri, sendo o mais famoso o “Las Ventas”. Ele é também o mais famoso do mundo. Existem outros no centro da cidade, mas perceba que existem estádios ao redor de Madri para entreter a população local. Existem também estádios móveis no Verão, sendo trazidos para a celebração das “fiestas”, quando as cidades não têm seus próprios estádios.

O movimento anti-tourada é ativo em Madri? Você acha que a proibição das touradas está próxima?

Sim. O movimento anti-tourada está ativo há mais de 10 anos e está se espalhando pelo resto da Espanha. Ele está crescendo aqui, mas eu não acho que o governo irá iniciar as proibições em breve. Na Espanha, se você coleta muitas assinaturas, você pode pedir ao Parlamento para criar um projeto de lei ou debater a questão. Foi assim que a Catalunha iniciou a discussão para proibir as touradas. Mais de 180.000 pessoas na Catalunha!

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