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Jane Goodall faz uso do microcrédito para salvar chimpanzés

2 de dezembro de 2010
5 min. de leitura
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Foto: Reprodução/WG

Cinquenta anos atrás, Jane Goodall chegou ao Parque Nacional de Gombe, na Tanzânia, para sua pesquisa sobre os chimpanzés. Ela se tornou uma das pesquisadoras de primatas mais famosas do mundo. Chocada diante da devastação ecológica em torno do parque, deixou a selva no início dos anos 90 e se tornou ativista. Hoje, ela salva os símios por meio do microcrédito.

Uma mulher frágil e pequena de cabelos grisalhos. A renomada especialista em chimpanzés já está com 76 anos, mas a idade não parece importar. Incansavelmente, viaja pelo mundo para contar sobre seus sucessos e decepções na luta pela conservação da natureza. Sobre o que isso representa para os moradores da área ao redor da reserva de chimpanzés de Gombe, e sobre o comércio inerradicável de carne de animais selvagens.

Desmatamento

A Tanzânia recebeu na década de 60 um imenso fluxo de refugiados do Congo Belga. Dez anos mais tarde, o vertiginoso desmatamento já estava aí para que todos vissem, diz Goodall. A alta taxa de natalidade e dos novos fluxos de refugiados aumentaram a pressão sobre a população.

Jane Goodall com o chimpanzé Freud em Gombe (Foto: Arquivo)

“Não foi até o início dos anos 90, quando sobrevoei a totalidade da área, que me dei conta de que o desmatamento ao redor do parque fora total e de que o parque em si era como um pequeno oásis. Olhando para baixo, tornava-se evidente que ali havia mais pessoas vivendo do que a área podia comportar. Quando se foram as árvores, verificaram-se a erosão do solo e, por fim, os deslizamentos de terra. As únicas árvores que sobraram eram as que se encontravam sobre as ravinas escarpadas, terreno que nem mesmo os agricultores desesperados conseguiam cultivar.”

O número de chimpanzés se reduziu na mesma proporção. Quando a pesquisadora chegou, em 1960, viviam na África Ocidental e Central cerca de dois a três milhões de chimpanzés; em 1986 esse número caíra para 300 mil. Para Goodall estava claro que os chimpanzés não teriam nenhuma chance de sobrevivência enquanto não melhorasse a situação das pessoas com quem partilhavam o seu habitat. Ela então criou o Instituto Jane Goodall TaCare (Take Care) Programm, inspirado pelos próprios tanzanianos.

Viveiros

A preservação da natureza não encabeçava sua lista de prioridades, mas sim alimentação suficiente, melhores cuidados sanitários e educação para as crianças. Segundo Goodall, a reação geral era sempre a mesma: “Por que vocês não vieram antes?”

Além dos projetos agrícolas e programas relacionados à saúde e à educação, a TaCare também dedica especial atenção às mulheres.

“O melhor exemplo é o de uma mulher chamada Gertruda. Ela já tinha uma família muito grande, com seis filhos. Agora sete. Ela ouviu falar da possibilidade de microfinanciamento. Foi então solicitar um pequeno empréstimo e construiu alguns viveiros de árvores ao redor da aldeia, conseguindo este pequeno empréstimo para cultivar as mudas com sua família. Vendeu-as na sequência por um preço ínfimo, mas o suficiente para saldar a dívida do empréstimo.”

Os microempréstimos do Instituto foram quase todos bem sucedidos. Segundo os dados, cerca de 85% de todos os empréstimos foram liquidados integralmente e a tempo. O microfinanciamento sempre esteve intimamente comprometido com a redução da pobreza, mas, com essa abordagem, o Instituto Goodall deseja mostrar que há vários lados nesta questão.

Reflorestamento

Embora o microcrédito reservado à preservação ecológica seja relativamente novo, outras organizações também já descobriram seus benefícios. Um desses projetos de preservação, em andamento na Floresta Budongo, em Uganda, onde vivem cerca de 600 chimpanzés, também faz uso do microcrédito desde o ano passado.

Ao redor de Gombe se encontra agora um número crescente de viveiros. Algumas árvores crescem rapidamente e são adequadas para a lenha. As mulheres têm de andar menores distâncias e a mata natural permanece conservada. Outras espécies são utilizadas para o reflorestamento. Conjuntamente com um decreto do governo da Tanzânia, pelo qual os locais deverão reservar 10% das terras à preservação, deu-se um novo passo na direção correta. O terreno foi distribuído de maneira a que surgisse uma franja verde em torno do parque, com dois amplos corredores biológicos que levam a áreas onde vivem outros grupos de símios.

“Há dois anos, certa vez me sentei olhando sobre a extensão das serras por detrás de Gombe, antes totalmente depenadas. Agora há árvores altas. Estava tudo verde e eu chorava de felicidade por ter funcionado. Não sabemos se os chimpanzés usarão os corredores, mas é a sua única chance de sobrevivência no futuro, porque há apenas cerca de uma centena deles e eles precisam de intercâmbio genético com outros grupos de chimpanzés para a sobrevivência a longo prazo. Os corredores serão construídos, mas dependerá dos próprios chimpanzés dar o passo seguinte para garantir o futuro da espécie.”

Apesar de tantos sucessos, Goodall não pretende afrouxar as exigências. E certamente muito menos agora que a perpetuação da espécie se vê seriamente ameaçada pelo comércio de carne. A carne de macacos, cobras, crocodilos e outras espécies ameaçadas proveniente do continente africano é especialmente popular na Ásia, mas também pode ser encontrada em restaurantes de luxo nos Estados Unidos e na Europa.

Goodall não vai desistir. Para ela, desistir significaria “não se sentir envolvido no futuro dos seus netos”.

Fonte: RNW

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