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A máquina que se alimenta da indiferença liga o turbo para o Mortal, digo, Natal

18 de dezembro de 2010
2 min. de leitura
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Natal

Pouco me importa o invisível espírito natalino, a necessidade de demonstrar afeto via presente em data específica – antes ou depois disso, ‘não teria graça’, a lágrima que cai à meia-noite, os parentes e suas perguntas sobre como vai a vida, o abraço sincero de quem não se vê durante os demais 364 dias, o embrulho em papel laminado para parecer caro. É ligado o botão de turbo na grande máquina devoradora de almas e trituradora de animais nos meses que antecedem o Mortal, digo, o Natal. A isso se chama desenvolvimento, incremento no setor, geração de divisas, novas ofertas de emprego – mas quem diz é a grande Imprensa, amarrada voluntariamente e ajoelhada frente aos altares do sistema.

Empregos temporários significam chute na bunda pós-25 de dezembro, ao contrário do que os demagogos nos fazem acreditar, e ‘gerar renda’ significa que cada um de vocês, aí, recebeu a parte que lhes cabe desse grande bolo assado pelos donos dos empregados, digo, donos dos empregos. Porque a natureza que recebeu os dejetos da indústria, o lixo depositado nos caminhões, a fumaceira extra, e ainda forneceu água, madeira e milhões de vidas animais faz parte de um todo, e não é posse de ‘empresários do setor’.

Mas, pelo que me consta, todos correram para aproveitar as promoções, encararam filas e empurra-empurra para PAGAR pelo presente que vai lhes dar certeza de que gostam de quem deveriam gostar. Ou seja, alguns poucos raspam e peneiram os recursos naturais que pertencem a todos, e a grande maioria concorda em pagar para levar para casa uma bobagenzinha que antes não fazia falta. A única expressão permitida a estes últimos é apontar o ‘Empresário do Ano’, ‘Top of Mind’ ou similar, ou elegê-lo deputado, porque fala bem, é rico e usa gravata.

O turbo foi ligado há meses nessa máquina cruel que precisa abater mais vacas, porcos, frangos, perus e animais-zumbi como tender, chester e bruster. Ela se alimenta da indiferença. E as pessoas correm para sacar o 13º e comprar gasolina para abastecer a máquina.

Para os não humanos escolhidos como item correto de sacrifício no Natal, cabe o papel de engolirem a dor, pressão e morte para que as famílias felizes brindem durante algumas horas, e acordem com uma puta dor de cabeça no dia seguinte. Sim, uns sentem aquela dor que nos faz gritar, sentem o gosto amargo do pânico sem volta, e outros entram no transe do espírito natalino, com a neve falsa em pleno verão, Papai Noel com barba falsa, e cartões de ‘feliz Natal’ com toda a sinceridade do mundo.

O arame farpado segue dividindo os ‘racionais’ e os ‘irracionais’, e às vezes com um cruel glamour de fé, esperança, união e fraternidade. Com lágrima no olho, chapeuzinho de Papai Noel nos motoristas de ônibus e abraços sinceros de parentes.

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