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A ceia perfeita cansa

18 de dezembro de 2010
4 min. de leitura
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natal

Às épocas de natal é interessante observar o corre-corre nas ruas, o exagero de pessoas nas lojas, mostrando o lado ótimo do crescimento da economia brasileira, mas também a perversidade do egoísmo. A vontade de aparecer, e a falta de bom-senso destas épocas.

Ouvi de alguém, ontem, “se não for totalmente orgânico, não posso aceitar”. Engraçado que a mesma pessoa come peixe, animal que há muito tempo deixa a desejar em termos da qualidade de sua vida, em meio a metais pesados e poluição. E também toma cerveja. Nada orgânica.

Mas criticar os outros é tão bom, pois se o outro não for perfeito, não há por que mexermos um dedo em sentido de melhorarmos nossa ética, nossa conduta. Ainda há muita gente que vive conforme seu próprio egoísmo. Se alimenta, se veste, apenas pensando em si próprio. Pensar em si mesmo é natural, mas ser exageradamente egoísta é idiota.

Onde há o “totalmente orgânico”? Qual de nós consegue viver apenas com produtinhos da feirinha? Ninguém. Nem mesmo (e muito menos) a pessoa que me falou isso. Parece que o local que a pessoa frequentou é que tem que se adequar à perfeição.

No local referido, há a seguinte frase: alimentos orgânicos, sempre que possível. Essa frase está adequadamente colocada, porque é impossível vivermos num limbo.

Assim como ser vegano é uma tendência pois, por mais que deixemos ao máximo de explorar animais, sempre estaremos sujeitos a isso. Basta irmos ao dentista, por exemplo (todos os instrumentos, remédios, o próprio profissional fez testes em animais!). Mas nem por isso ficaremos desdentados.

O local, bar e restaurante noturno Bonobo, é um lugar que cultiva seus próprios temperos, eles tem uma política de permacultura, biblioteca, jogos, CDs grátis, livros grátis (Projeto Livros livres). Não usam soja (por ser monocultura) e usam café orgânico e todo tipo de alimento orgânico, de acordo com a época de cada alimento. Não está bom para alguém que nem se questiona sobre o fato de se alimentar de animais (peixes)?

O restaurante noturno Casa Verde tem cardápio totalmente vegano, assim como o bar Bonobo. Eles também utilizam alimentos orgânicos sempre que possível. Tem diversos tipos de bebidas, incluindo o refrigerante caseiro de gengibre. Eles tem cervejas orgânicas e uma cerveja totalmente vegana, adequada inclusive para celíacos.

Nós veganos é que temos que ser perfeitos. Temos que salvar o mundo, dar satisfação, propor soluções avançadas. Mas e o restante? Não precisa fazer nada? Apenas apontar o erro dos outros, encher a cara de cerveja e drogas e achar que está radicalizando? Tenha dó.

Esses tempos encontrei um livro sobre macrobiótica. Resolvi ler. O material é carregado de misticismo e bobagens. Mas tem coisas interessantes também.
O que me chamou mais atenção é a forma preconceituosa e egoísta como eles falam dos animais. Os colocam como bestas irracionais, e que alimentar-se deles é contrair a irracionalidade. Ok. Certo que se nos alimentamos de sangue e carne morta, algumas toxinas também entrarão no corpo. Doenças e má digestão com certeza estão correlacionados com essa atitude.

Mas em nenhum momento se questiona a moralidade do ato de comer animais. Apenas se coloca que o ser humano precisa evoluir e para tanto deve cuidar de sua saúde, etc.

Noto que muitos materiais religiosos tem essa arrogância/egoísmo com relação aos animais. A grande maioria nem toca neste assunto, achando que suas atitudes passarão despercebidas diante de um suposto deus, que se existisse realmente, com certeza haveríamos de prestar contas sobre isso…

Épocas de Natal e Ano Novo não tem mais nada de espirituais. É um show de aparências, pessoas gastando o que não tem, se estressando como nunca para ter a ceia perfeita. O peru na mesa, chester. Nada a ver com nossa cultura. Árvores de natal, verdadeiras ou não (sabe-se lá o que é pior), com neve artificial.

Presentes obrigatórios, amigo secreto – dar presente para aquele colega que fala de ti pelas costas – churrasco da empresa, e a lista é grande…

Uma moça me perguntou no caixa do supermercado: “como você faz para ir a churrascos, se você não come carne”? Respondi: simplesmente não vou.

Não temos que ir no que não condiz com nossas crenças e princípios éticos. Não temos que acreditar em papai Noel, não temos que presentear gente falsa.

Temos é que fazer o bem o ano inteiro, ter atitude, saber dizer não e saber dizer sim.

Temos é que ir ao Correio Central e ler as cartinhas das crianças para o papai Noel. E ajudá-las. Tem crianças ali que pedem comida, brinquedos simples, sonhos. Não ficar fazendo discursos vazios de bondade e esperança, se por dentro as pessoas estão secas de egoísmo.

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