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Tutores falam da alegria que é conviver com os animais SRD

12 de dezembro de 2010
5 min. de leitura
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Eles não têm pedigree (documento que prova que os pais são da mesma raça e não há misturas nas gerações anteriores), mas isso não importa. Os vira-latas são tão amados como os demais e estão tendo seu valor reconhecido, conforme recente pesquisa que mostra serem os cães mais comuns na casa dos paulistanos.

O nome correto para identificá-los é SRD (Sem Raça Definida), pois não têm as características necessárias para serem considerados de uma raça específica. Podem ser pequenos ou grandes, com rabo comprido ou curtinho, ter pelos pretos, brancos, marrons ou todas essas cores misturadas. Cada um é de um jeito. E tudo isso representa grande vantagem.

Em geral, a mistura de raças os torna mais resistentes. Quando se reproduzem naturalmente – sem serem selecionados pelo homem, como é comum ocorrer com os cães de raça -, só os mais adaptados a sobreviver no ambiente que ocupam conseguem produzir descendentes suficientes para manter a espécie. Assim, transmitem para as gerações seguintes as melhores características, tornando-as mais fortes. No entanto, isso não quer dizer que não podem ficar doentes ou que a expectativa de vida dos vira-latas é maior. Tudo depende do tratamento que recebem ao longo dos anos.

Algumas pessoas acham, por exemplo, que por não terem raça definida não precisam de ração. Isso não é verdade. Somente a ração fornecerá os nutrientes necessários para o bicho. Comida de gente pode causar doenças, como anemia, obesidade e colesterol alto.

Os SRD também são muito espertos. Os que vivem nas ruas, principalmente, desenvolvem habilidades especiais, como saber atravessar vias no momento certo. Estudo realizado por universidades escocesas com 80 cachorros mostra que os vira-latas têm melhor noção de espaço e mais facilidade para resolver problemas do que os cães de raça.

Tutores curtem sua animação

Quem tem vira-latas sabe como eles são especiais. As irmãs Maithê, 9 anos, e Heloá Kapor de Brito, 12, de Santo André, são tutoras de Meg. Elas já escutaram muitos dizerem que a cadelinha é feia. “Sempre defendo, ela tem beleza interior”, diz Maithê. Heloá completa: “Não trocamos a Meg por nenhum cão de raça”.

Na opinião de Gabriel Dal’ Acqua de Angelis, 10, de Santo André, os vira-latas são muito mais animados. O menino é tutor de Flecha, batizado com esse nome por ser muito veloz. “Quando a gente foi visitar a mãe dele para escolher um filhote, o Flecha correu para o meu colo”, lembra. Como Gabriel mora em apartamento, o bicho fica na casa da avó durante a semana, onde tem mais espaço. “Sinto saudades, mas fico com ele no fim de semana”.

Protetora de animais abandonados

A família de Nicolly Alexandra Costa, 6 anos, de Ribeirão Pires, é tão apaixonada por vira-latas que tem 20 cães e 13 gatos sem raça definida. A maioria foi recolhida das ruas pela mãe da menina. “Acho importante cuidar dos animais abandonados”, diz a garota, que curte muito brincar com todos eles.

Nicolly leva os bichos para passear, cuida da alimentação e limpa a sujeira que fazem. “O Pierre é cego, e eu dou comida, água e o ajudo na hora de ir para algum lugar”, conta. Apesar de numerosos, eles costumam ser bastante obedientes e carinhosos. No entanto, se começam alguma bagunça, Nicolly logo tem a solução: “Minha mãe me ensinou a pedir silêncio e dar um ossinho para ficarem mais calmos”.

Campanhas de adoção

Godofredo é sortudo. Foi resgatado da rua pela mãe de Aryadne Mayo de Carvalho, 11, de Santo André. “Ele é carinhoso, calmo e bricalhão. Não acho que vira-lata seja diferente dos outros”, afirma. Mas muitos permanecem perambulando por aí.

Os CCZs (Centros de Controle de Zoonoses) têm muitos que esperam por uma família. Antes de levá-lo para casa, no entanto, é preciso ter certeza de que cuidará dele e terá condições de oferecer o melhor. Confira: Santo André (4990-5256); São Bernardo (4365-3365); São Caetano (4232- 8170); Diadema (0800-771-0963); Ribeirão Pires (4824-3748); ONG Ajuda Animal (4827-9215).

Antes eram todos iguais

As raças de cães foram desenvolvidas pelo homem. Isso começou há milhares de anos com a domesticação dos lobos; os mais dóceis eram mantidos vivos, os agressivos viravam alimento. Com o tempo, os lobos mais calmos se reproduziram, gerando descendentes cada vez mais tranquilos.

Não se sabe ao certo como muitas raças foram criadas, mas todas surgiram porque o homem separou cães com determinadas características e os deixou cruzar apenas com aqueles que eram iguais. Há muitos anos, os clubes de criadores são responsáveis por determinar os padrões exatos que cada raça precisa ter, como peso, tamanho, cor, temperamento.

O problema é que essa seleção artificial torna os animais cada vez menos resistentes. Muitas raças têm doenças características; em geral, dálmatas sempre apresentam problemas nos rins. Algumas, como o buldogue, já não conseguem mais se reproduzir naturalmente, apenas por meio de inseminação artificial.

Gato-cão

Os gatos vira-latas também são muito comuns. No entanto, a popularidade deles não é a mesma que a dos cães. De modo geral, há preconceito tanto em relação aos de raça como os SRDs. Há quem diga que não são muito confiáveis. A diferença, na realidade, é que eles só demonstram o carinho que sentem pelos humanos quando realmente querem.

Diferentemente dos cães, os gatos se viram muito bem sem tutor. Entretanto, estão sendo desenvolvidas raças com características caninas, como amabilidade e sociabilidade. O francês chartreux, por exemplo, é chamado de gato-cão. É muito dócil, brincalhão e demonstra com facilidade o amor que sente pelo tutor.

Fonte: Diário do Grande ABC

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