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Afinal, o que é maltrato?

24 de outubro de 2010
3 min. de leitura
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Por Ivana Maria França de Negri

O prefeito de Piracicaba vetou o projeto de lei do vereador Laércio Trevisan Júnior que havia sido aprovado pela Câmara de Vereadores, a fim de estabelecer normas aos maus-tratos e crueldades contra animais. Primeiro terão que decidir quais crueldades são lícitas e quais não, para então aprovar a lei.

Templos religiosos de umbanda e candomblé, que ainda utilizam a prática de sacrificar animais em seus rituais, estão pressionando as autoridades para que a lei assegure a continuação de suas “tradições” oriundas da África. Para mim, maltrato é maltrato, crueldade é crueldade, não importa a finalidade e nem se é uma tradição milenar. É preciso quebrar paradigmas, evoluir.

Entretanto, há leis federais que asseguram a liberdade de culto religioso e, por isso, o procurador diz que a lei fere normas.

O secretário de governo, por sua vez, advertiu que a regulamentação da lei também tornaria inviável o funcionamento de granjas e abatedouros em Piracicaba. Essa declaração só vem comprovar que existe muita crueldade na indústria da carne.

Por que se criam leis que protegem apenas cães e gatos? Por acaso os outros animais são insensíveis? Não merecem também um pouco de nossa misericórdia?

São Paulo é o único estado com uma lei que obriga frigoríficos a matar suínos e bovinos sem que eles sintam dor. A lei é de 1995, mas se sabe que em 70% dos abatedouros municipais de São Paulo a lei não é cumprida. Nos outros estados nem lei há. O jeito mais comum de matar um porco ainda é sangrá-lo na garganta e jogar sua carcaça num caldeirão de água fervente quando o animal, muitas vezes, ainda está vivo.

Nervo é nervo, não importa se dói em humanos ou num peixe. E por que é tão difícil implantar a lei de abate humanitário? Porque encarece a produção, e o objetivo final é produzir mais e com menor gasto. Então, mata-se da maneira que for mais barata e não menos cruel. Infelizmente, o ser humano coloca em primeiro lugar sempre o dinheiro. Para que insensibilizar o animal antes de matá-lo se fica mais caro? A dor dói nele e isso não interessa ao produtor.

A indústria voraz e sedenta por lucro não se importa nem um pouco com o sofrimento das criaturas. Frangos, bezerros, carneiros, porcos, bois, cabritos, são submetidos a diversos graus de tortura desde o nascimento até o abate.

E o termo “abate humanitário” é uma bravata verbal criada por aqueles que lucram num sistema cujo único propósito é a economia, sempre é um meio de minimizar o sofrimento.

A humanidade clama por paz, mas não deixa os outros seres da criação viverem em paz. E por isso não consegue alcançá-la. Enquanto não despertar sua consciência e continuar em sua cegueira mental, o homem não alcançará a almejada paz.

Infelizmente, estamos a anos-luz de uma harmonia universal onde todos os seres sejam respeitados igualmente. A humanidade ainda não pratica “Ahimsa”, a compaixão, a benevolência, a caridade. E as leis capengas acabam não sendo iguais para todos.

Fonte: Gazeta de Piracicaba

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