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Botos cinzas são os animais marinhos com maior mortalidade em Fortaleza (CE)

17 de outubro de 2010
4 min. de leitura
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Filhote de boto cinza sendo reabilitado na sede da Aquasis, em Caucaia (Foto: Por Reprodução)

Quando curiosos miram o horizonte sobre a água, principalmente na Enseada do Mucuripe, em Fortaleza, querem comprovar que a costa marinha do Ceará é rica não só em diversidade de espécies como de beleza e simpatia. E não mais que de repente, o boto pode saltar da água, como quem quer voar ao menos por um segundo. Mas o boto-cinza (Sotalia fluviatilis) é o mamífero marinho com a maior mortalidade neste Estado. Nos últimos 15 anos, já foram registrados 168 encalhes da espécie. A Associação de Pesca e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) realiza, há quase duas décadas, o monitoramento da presença desse mamífero na praia de Iracema, em Fortaleza.

Os botos-cinza-marinho, em alguns lugares conhecido por Tucuxi, vivem geralmente em grupo e são bastante sociáveis. Possuem um biossonar, permitindo localizar objetos e se orientarem utilizando o som e o eco. Com um só tipo de dentição, alimentam-se de peixes, lulas e, às vezes, de crustáceos. Por meio de foto-identificação, os biólogos da Aquasis puderam perceber com frequência a presença do mamífero, que tem na região da Praia de Iracema sua área de alimentação. A população de boto-cinza sofre forte pressão da ação do homem. “Estamos organizando mais oficinas de capacitação sobre como os pescadores devem proceder em caso de encontrarem um mamífero marinho na rede de pesca ou mesmo encalhado na praia”, afirma a bióloga da Aquasis, Khaterine Choi.

O considerável número de ocorrências de encalhes desse tipo de mamífero, seja em casos de se perder do grupo ou por captura involuntária nas redes de pesca, levou os especialistas da Aquasis a intensificarem campanhas de primeiros socorros, principalmente, para os povos do mar, sempre que avistarem mamíferos marinhos como peixe-boi e boto encalhados nas areias do Ceará.

Desde 2001, o Estado dispõe do Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM), da Aquasis, que possui uma equipe de técnicos treinados e licenciados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) para o pronto atendimento a encalhes de golfinhos, baleias e peixes-boi, ocorridos no Ceará ou Estados vizinhos. O local é equipado com piscinas de água salgada, sala de necropsia, laboratório politécnico, sala do acervo osteológico, salão de visitantes e alojamento. São verificados tamanho, peso, auscultação pulmonar e cardíaca, verificação de possíveis lesões e ferimentos externos, secreções, hemorragias, fraturas, má formações e/ou patologias específicas, coleta de sangue, administração de antibióticos, tudo dependendo do caso do paciente mamífero-marinho.

A alimentação é preparada numa cozinha especial. Filhotes de peixe-boi alimentam-se de cinco mamadeiras diárias, contendo um preparado especial de leite a base de soja adicionado de vitaminas. Para os golfinhos são oferecidos peixes frescos, que podem ser batidos com soro caseiro e outros compostos vitamínicos.

Interferência

É a ação do homem, muitas vezes pela pesca, que, até mesmo de forma acidental, intervém na população de botos no mar do Ceará. Considerados ótimos nadadores, os botos-cinzas podem atingir a velocidade de 60km/h e saltar até cinco metros acima da superfície de água. Para capturarem o alimento, utilizam a técnica de pesca em grupo, cercando os peixes. A Enseada do Mucuripe, nas proximidades da Praia de Iracema, em Fortaleza, é reconhecido ponto de alimentação desses animais. A preservação do boto-cinza no Ceará vem do início dos anos 1990.

Entre 1996 e 1997 a Aquasis deu início à campanha “Proteja os Botos do Ceará”, para fazer o levantamento da presença do mamífero na zona costeira e identificar os aparelhos de pesca que capturavam, acidentalmente, os mamíferos. Foram realizadas viagens em mais de 100 comunidades do litoral, entrevistando os povos do mar sobre os mamíferos que eram avistados em cada área, bem como esclarecendo que esses animais são protegidos por lei Federal – desde 1986 é proibido pesca, caça, perseguição ou captura de cetáceos (mamíferos marinhos) nas águas brasileiras.

Primeiros-socorros

Todo animal marinho encalhado está extremamente amedrontado e sofrendo por estresse. Nestes casos, eles tendem a se debater na ânsia de desencalhar, ou tentar proteger a sua cria, se for o caso de uma mãe com filhote. É importante observar o animal a uma certa distância, antes de tomar qualquer iniciativa, principalmente em se tratando de grandes cetáceos. Até a chegada da equipe da Aquasis ao local de encalhe, algumas medidas podem ser tomadas visando à proteção e o bem-estar do animal, bem como a segurança da população:

– Faça um abrigo para proteger o animal do sol;
– Cubra o animal com panos claros;
– Utilize toalhas, camisas, lençóis, ou na ausência destes, improvise utilizando algas encharcadas em água do mar e molhe-o constantemente;
– Cuidado com o respiradouro (encontrado em golfinhos e baleias) ou com as narinas (em peixes-boi). Não coloque nada por cima e molhe apenas quando estiverem fechados;
– Proteja os olhos do sol e da areia, cobrindo-os com um pano e molhando-os continuamente;
– Cave buracos para acomodar as nadadeiras peitorais e caudal, e encha-os de água fresca;
– Providencie um cordão de isolamento e mantenha os curiosos afastados. Caso seja necessário, peça ajuda à Polícia ou ao Corpo de Bombeiros;
– Mantenha o ambiente o mais silencioso e tranquilo possível perto ao animal.

Fonte: Diário do Nordeste

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