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Formigas são torturadas e mortas em exposição promovida pelo Sesc, em SP

12 de outubro de 2010
3 min. de leitura
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Por Lilian Regato Garrafa   (da Redação)

Mal acabamos de comemorar a retirada dos urubus da 29ª Bienal de Arte de São Paulo, e novamente nos deparamos com uma “obra de arte” elaborada a partir da exploração de animais.

O Sesc Vila Mariana (SP) expõe, desde o dia 30 de setembro, uma produção em que formigas vivem enclausuradas em uma peça de madeira e vidro, em condições totalmente alheias a seu habitat, em um ambiente artificial que sequer reproduz aquele em que naturalmente viveriam. Não é à toa que quase todas as formigas, em tão poucos dias de exposição, já morreram.

A triste arte de Theo Craveiro transformou-se em mausoléu de formigas (Foto: ANDA)

A “obra” denominada Formigueiro, de autoria de Theo Craveiro, pretendeu ser uma homenagem ao artista Hélio Oiticica e suas composições Metaesquemas. Segundo monitores do local, as formigas deveriam fazer o trabalho de carregar as pétalas de flores que se encontram na parte superior do quadro, espalhando-as por todo o pequeno e confinado ambiente em que se encontram. No entanto, o que se vê ao olhar para a obra são cadáveres de insetos, que não resistiram à crueldade imposta por um artista.

Como se a morte dos animais não fosse suficiente para mostrar o fracasso da obra, mais formigas serão trazidas ao local, para repor as que não satisfizeram o ritual macabro pretendido. E assim se sucederá até dia 30 de novembro, data em que terá fim a tortura em nome da “arte”.

Pétalas que as formigas deveriam carregar pela "obra" continuaram intactas. Apesar da morte dos insetos, outros serão recolocados em seu lugar (Foto: ANDA)

A peça integra a exposição “Por aqui, formas tornam-se atitudes”, que, segundo a organização do Sesc, pretende articular, por intermédio da 29ª Bienal Internacional de São Paulo, diálogos entre suas programações. Não é de admirar que seguisse a mesma linha de exploração de seres vivos, descartando vidas como simples objetos que são facilmente repostos quando se tornam imprestáveis.

Na entrada da mostra, lê-se claramente a intenção pretendida pelo Sesc: “reafirmar sua posição enquanto instituição socioeducativa, inserida no processo de mediação cultural, contribuindo para a formação…”.  De que forma se contribui para a educação e a cultura, principalmente das crianças, que ocupavam grande parte do local em outras atividades que integram a exposição, ao se colocarem seres vivos em um cativeiro insalubre, que os mata em poucos dias?

Ressalte-se que formigas são seres extremamente inteligentes, que vivem em sociedade na natureza, desenvolvendo um complexo sistema de organização e comunicação. Dividem tarefas de forma cooperativa, eficiente e integrada e possuem papel fundamental no ecossistema.

É lamentável que uma instituição que é um dos mais importantes veículos de educação e cultura esteja indo na contramão do que é o respeito à vida e à natureza em suas diversas formas. Educação e cultura pressupõem ética e respeito. A forma contestatória, em essência, que toda arte deveria conter, continua a ser maculada por pessoas que, de maneira tão pouco criativa, perpetuam a dominação humana sobre outras espécies. Utilizam um espaço destinado à poesia, à transformação de atitudes e à quebra de paradigmas para reproduzir o já tão batido domínio humano sobre os animais, que continuam à mercê dos mais sádicos métodos de escravização.

Leia-se: "Por aqui, VIDAS tornaram-se OBJETOS" (Foto: ANDA)

Para quem desejar expressar alguma indignação e se manifestar contra essa crueldade, o canal de contato do Sesc Vila Mariana é pelo email: [email protected] ou pelo telefone (11) 5080-3000.

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