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"Restaurante canibal" que causou mal-estar na Alemanha fazia campanha pró-vegetarianismo

2 de setembro de 2010
3 min. de leitura
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A associação de vegetarianos Vebu revelou nesta quinta-feira (2) que a ampla campanha na imprensa alemã de inauguração de um suposto restaurante canibal na capital Berlim foi apenas um golpe publicitário para atrair atenção à causa. A inauguração do restaurante Flimé, que contava com site oficial onde anunciava até mesmo uma matriz brasileira, causou mal-estar e duras críticas de políticos alemães e ganhou grande destaque não só na imprensa alemã, como em todo o mundo.

“Todo pedaço de carne contém um humano”, defende a Vebu, em uma entrevista a jornalistas na qual prometia oferecer “amostras grátis” de seu polêmico cardápio canibal. O nome Flimé, explica o grupo em comunicado enviado por e-mail à Folha.com, é a sigla para Fleisch isst Menschen (Carne come humanos).

A Vebu lista uma série de argumentos já amplamente utilizados pelas organizações contrárias ao consumo de carne, como “a cada 3,6 segundos alguém morre por subnutrição, enquanto a maior parte dos grãos produzidos são usados para alimentar animais de fazenda”, ou “pecuária está produzindo mais gases de efeito estufa que o setor de transporte”.

A organização defende que o golpe publicitário, que classificam de “campanha criativa”, serviu para chamar a atenção de todos, já que “ninguém pensa nestes fatos na rotina diária”.

A inauguração da filial do Flimé em uma locação secreta de Berlim em 8 de setembro causou polêmica ao permitir que os clientes interessados fizessem um cadastro e oferecessem partes do seu próprio corpo.

O vice-presidente da União Cristã-Democrata de Berlim, Michael Braun, expressou na época sua indignação com o restaurante e culinária, após relatar ter recebido diversos e-mails de cidadãos furiosos. “Espero que seja apenas uma brincadeira de mau gosto”, afirmou Braun ao jornal alemão The Bild, já antecipando que a campanha poderia ser apenas para despertar a curiosidade.

“É nojento. Em particular porque um morador de Berlim foi assassinado por um canibal há pouco tempo”, disse Braun, se referindo a Armin Meiwes, sentenciado à prisão perpétua em 2006 por matar e comer um morador da capital alemã cinco anos antes.

O site do restaurante não incluía no cardápio nenhuma referência direta à carne humana, mas diz seguir a cultura indígena wari — tribo da selva amazônica conhecida pela cultura do canibalismo –, na qual “comer é um ato espiritual com o qual ganhamos a mente e a força da criatura comida”.

No site trilíngue (alemão, português e inglês), os clientes interessados podiam ainda preencher um cadastro com uma série de perguntas sobre hábitos médicos e de saúde, como fumo, consumo de bebidas alcoólicas e frequência de atividade física.

No fim, há um alerta: “Os membros associados do Flimé concordam, com este, em doar para o Flimé qualquer parte de seu corpo, que será determinada pelo próprio associado. […] A finalidade do uso da parte doada é de livre escolha do Flimé”.

“Seja a fome mundial, mudança climática, falta de água, desflorestamento, doenças animais ou doenças do estilo de vida, todos estes grandes problemas globais são causados ou intensificados pelo nosso consumo de carne humano”, disse o porta-voz do grupo, Sebastian Zösch, aos jornalistas.

Fonte: Folha

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