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O medo das ideias que ainda não são aceitas na sala de estar

14 de agosto de 2010
2 min. de leitura
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Haja paciência para ouvir comentários-carimbo como ‘o fulano é vegano mas não é chato, não tenta converter os outros’. Já existe a ideia de que andam os veganos no modo ‘Seita Moon on’, abordando estranhos no ônibus e sem fechar a matraca. Se bem que a ideia parece interessante.

E exige-se um mutismo em relação ao que se acredita, como se quem escova os dentes não pudesse avisar/reclamar/apontar/queixar-se de quem está com mau hálito. Devemos todos ser veganos pela anulação de si, em silêncio obsequioso e caminhando sem fazer barulho, para não incomodar os vizinhos? Devemos primar pela posição de abster-se, e não de acender pavios no pensamento de quem está próximo? Devemos ‘respeitar para sermos respeitados’, uma frase que já veio com defeito de fábrica mas ninguém reclama, nem se dá o trabalho de ler as instruções – vamos respeitar o errado, o equivocado, o atrapalhado, o mal intencionado, o sádico, o duas-caras, o desinformado, o ignorante, o inculto, o voluntário no erro – somente para ganharmos o card mágico ‘Parabéns, agora você pode ser respeitado também’?

Como se a humildade, submissão e conformismo de joelhos fosse algo tão louvável que seria bom que os outros tivessem – não eu.

Historicamente, o que foi regra foi pisoteado tempos depois, o que era proibido virou norma, o que era oba-oba passou a ser crime. E ninguém contesta isso, nem tem saudosismo das cavernas, da Idade Média ou das épocas que escravos eram patrimônio. Mas falar ‘veganis…’ perto de algumas pessoas resulta em uma reação de olhos arregalados – metaforicamente falando, geralmente – e de espanto ao apanharem-se tão próximas de alguém subversivo – que luta pela implantação de direitos que não os seus, vejam só. Já ouvi contestações de que a ingestão de carne e derivados dos animais jamais poderá ser proibida por decreto.

Como se os decretos – agora genericamente falando, ok? – não tivessem encerrado a existência legal de tanta coisa nefasta que hoje qualquer um acha um absurdo. Que qualquer pessoa de bom senso se pergunta como foi possível tolerar, aceitar enquanto se assobiava, outorgar eticamente e lavrar em documentos. Esse ‘decreto’ que muitos temem nada mais é que o desenrolar do tapete da história, e a ponta do chicote vai estalar somente nos desavisados, nos que creem nos conselhos de comadre e acham que ‘como está, fica’.

Dá para se deliciar com o leve desespero de quem desdenha dos direitos animais, assegurado que está no conceito de que chegamos a um último estágio, e mudanças significativas foram as que ocorreram no passado. Não agora. Sem ver que as ideias rastejam pelos rodapés da casa até serem aceitas na sala de estar.

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