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Leishmaniose visceral se aproxima da capital paulista

9 de agosto de 2010
5 min. de leitura
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A leishmaniose visceral está se aproximando da cidade de São Paulo. Doença considerada fatal tanto para cães – o principal hospedeiro – quanto para humanos, ela é causada pelo protozoário leishmania e transmitida pela picada do inseto conhecido como mosquito-palha. A leishmaniose pode causar falência de órgãos como rins e fígado. Se não tratada, pode levar à morte em 90% dos casos.

Até 1998, segundo o veterinário Douglas Presotto, não havia nenhum registro de leishmaniose no estado de São Paulo. Mas esse quadro se alterou. “A doença está se expandindo e mudando de perfil. Antes, era concentrada na zona rural do Nordeste. Agora, está nas grandes cidades também”, observa Presotto, que é coordenador do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Campinas, a 93 km de São Paulo.

Ele cita estudos feitos no Brasil que indicam que a doença se alastra cerca de 30 km por ano. Isso acontece principalmente pelo fluxo migratório de animais, como em viagens de férias. A construção de residências em áreas de mata, habitat do mosquito, também é uma das causas.

A primeira cidade paulista a registrar a doença foi Araçatuba, em 1998. “Em 1999, veio o primeiro caso em humanos”, relembra Presotto. Hoje em dia, a doença é considerada endêmica em cidades como Bauru, Cotia e Embu, sendo as duas últimas já parte da Grande São Paulo. O primeiro caso em Campinas, conta o veterinário, foi registrado no final do ano passado, em três cães. Todos eles moravam em casas construídas próximas à mata.

A cidade de São Paulo nunca registrou a doença, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. Já no estado, até maio deste ano, foram confirmados 30 casos em cães, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde. O órgão não divulga a lista das cidades com casos confirmados.

Sintomas

Emagrecimento evidente, febre e feridas na pele que não cicatrizam são algumas das características da doença tanto nos cães quanto nos humanos. O aumento de órgãos como fígado e baço também são característicos, mas somente médicos conseguem diagnosticar, conta o veterinário Andrei Nascimento.

No caso dos cães, o crescimento exagerado das unhas é um sintoma bem evidente. “A leishmania pode se instalar na matriz das unhas, causando essa alteração”, explica o veterinário. Nascimento ressalta que, uma vez infectado, nem o cão nem o ser humano conseguem se livrar da doença. A medicação faz o protozoário “hibernar”, mas não o mata.

“Qualquer alteração no sistema imunológico, como a causada por AIDS ou quimioterapia, por exemplo, pode tornar a leishmania ativa novamente”, esclarece.

Tutores defendem o direito ao tratamento

Pela polêmica determinação do Ministério da Saúde, estabelecida em 2008, uma vez diagnosticada a leishmaniose em um cão, este deve ser sacrificado. Douglas Presotto, do CCZ de Campinas, conta que todo veterinário que diagnosticar a doença é obrigado a informar o Centro de Controle de Zoonoses da sua cidade.

Os técnicos da Vigilância Sanitária, por sua vez, avisam à família que o cão deverá ser recolhido e sacrificado. A eutanásia é “obrigatória” porque uma portaria conjunta entre os ministérios da Saúde e da Agricultura proíbe o tratamento de animais. Os medicamentos devem ser dados somente a humanos.

No entanto, o aumento de casos de cães com leishmaniose em centros urbanos veio acompanhado da busca por tratamentos ensinados por veterinários, mas proibidos pelo governo. Tutores que preferem não entregar seus cães à morte encomendam medicamentos do exterior, internam os animais e até contratam advogados para defendê-los.

A advogada Nádia Gimenes levou a causa do vira-lata Baby à Justiça. O cachorro mora com a irmã dela em Cafelândia, a 412 km de São Paulo, e teve o diagnóstico da doença confirmado em 2008. Abalada com a notícia de que o mascote tinha de ser sacrificado, a família decidiu lutar na Justiça para que o cão pudesse ser medicado.

“Ainda não é uma vitória definitiva porque o Baby sobrevive por força de liminar”, observa Nádia. “Ele responde muito bem ao tratamento e leva uma vida normal. A cada três meses, é submetido a exames e também trocamos a coleirinha”, conta a advogada.

A mesma sorte não teve o ator Luiz Humberto Siqueira, que perdeu um de seus dois cães por causa da doença, no final do ano passado, em Campinas. O vira-lata Balu amanheceu morto, antes mesmo do diagnóstico ser confirmado. “A gente desconfiava porque ele tinha todos os sintomas. Estava doente, as unhas estavam compridas”, relembra.

Um outro cachorro de Siqueira, o fox paulistinha Zepi, tinha morrido dias antes, mas a causa não chegou a ser esclarecida.

Prevenção

Especialistas ressaltam a importância da prevenção da leishmaniose. O veterinário Andrei Nascimento sugere que o cuidado deve começar pelo cachorro de estimação.

Coleira antiparasitária ajuda a proteger cães do mosquito que transmite a leishmaniose (Foto: Divulgação)


“O uso de uma coleira impregnada com deltametrina a 4% repele e mata o mosquito transmissor da doença”, diz. Nascimento afirma que a substância não tem cheiro e não é tóxica a humanos, permitindo que o cachorro suba na cama dos tutores, por exemplo. A coleira deve ser trocada a cada quatro meses ou de acordo com a indicação do fabricante.

A orientação do veterinário Douglas Presotto é evitar a proliferação do mosquito transmissor da doença, sobretudo no quintal. Ele conta que o mosquito procura por material orgânico em decomposição. Frutas caídas no quintal e fezes dos galinheiros, por exemplo, são um prato cheio para a fêmea do inseto colocar seus ovos.

Com informações do G1

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