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Jovens portugueses usam seu tempo livre para se dedicarem à causa animal

8 de agosto de 2010
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No verão, há centenas de pessoas que ocupam as férias cuidando dos outros. Mas também há ilusões: o voluntariado é menos romântico do que se possa imaginar.

Um estudo da Universidade Católica estima que haja em Portugal cerca de 1,5 milhão de pessoas gastando o seu tempo, ou parte dele, com quem precisa. O número é generoso, mas Paulo Cavaleiro, da Assistência Médica Internacional (AMI), é cauteloso. “O voluntariado é um conceito difícil de gerir, de contabilizar e caracterizar. Acredito que haja 1,5 milhão de potenciais – sublinha potenciais – pessoas com vontade de ajudar. É diferente ter vontade de fazer e fazer mesmo, até porque nem sempre é fácil compatibilizar com a vida pessoal ou profissional. E depois há muito voluntariado anônimo e sazonal. E é muito heterogêneo, é difícil dizer quantos são, quanto tempo dedicam, de que forma ou a que tipo de ação”.

Não é uma crítica, ressalva Cavaleiro, tanto mais que à AMI, organização que mais iniciativas e voluntários mobiliza em Portugal, chegam incontáveis “pedidos de pessoas com boa vontade, que querem dar a sua legítima contribuição.” No entanto, muitas delas “chegam com aquela ideia romântica de que ajudar é ir para África, para os países mais pobres. E se não for possível cumprir essa expectativa – e muitas vezes não é, porque a prioridade é dada a pessoas com competências muito específicas, sobretudo na área da saúde -, desistem.”

O padre Manuel Antunes, responsável por dois campos de férias para deficientes no santuário de Fátima, corrobora. “Não basta ter boa vontade, é preciso ter vocação e muita generosidade.” Dá como exemplo o projeto que lidera há seis anos: “Trabalhamos com pessoas com limitações físicas e mentais profundas. Ficam conosco durante uma semana para que a família possa descansar um pouco. É um trabalho muito duro. Passa por dar-lhes banho, fazer a cama, acompanhá-los, alimentá-los… “

Apesar da exigência, o responsável garante que o feedback é positivo. “É muito gratificante verificar que há jovens que se privam das suas férias para vir para aqui fazer bem a quem precisa. E que se entusiasmam de verdade. E que voltam no ano seguinte.” Manuel Antunes faz questão de destruir o que diz ser um mito. “Criou-se a ideia de que os jovens são egoístas e vivem alheados da realidade. Não é verdade. Quando há alguém que os motiva, são tremendamente abertos e disponíveis.”

Samuel Infante, responsável pelo Centro de Recuperação de Animais Selvagens, (CERAS) em Castelo Branco, concorda. “Mais de 80% do trabalho é assegurado por voluntários, pessoas a quem a fauna desperta simpatia e compaixão.” Sobretudo ali, pelo fato de se tratar de um hospital, “funciona como catalisador”. Por ano, recebem cerca 200 animais, 25% dos quais em vias de extinção, com uma taxa de recuperação de 52%. “A única coisa que pedimos aos voluntários é dedicação, sobretudo no verão. É o período do ano em que temos mais animais.”

O membro da AMI insiste: “Não há voluntariado sem responsabilidade”. Daí que haja um enorme cuidado na triagem. “Às vezes precisamos de coisas que são menos românticas. Tentamos explicar às pessoas que esse trabalho é tão determinante como todo o resto.” E muitos entendem.

“Ajudar os animais é preservar o planeta”

Entrar num hospital de animais selvagens é uma experiência difícil de esquecer. Estão ali internados porque estão doentes ou lesionados. Muitos entre a vida e a morte, tantos em vias de extinção. Para sobreviverem não podem ser incomodados. Mesmo. A experiência é a do silêncio, a do respeito superlativo pela fauna.

É ali, ao Centro de Recuperação de Animais Selvagens de Castelo Branco, em Portugal, projeto gerido pela Quercus com apoio da Escola Superior Agrária, que Sofia vai quase todos os dias. Às vezes de manhã cedo, outras ao fim da tarde. O horário é determinado pela necessidade dos animais.

Naquele dia, o paciente mais grave era um juvenil noitibó-de-nuca-vermelha, ave noturna. Tem as asas quebradas, foi talvez vítima de atropelamento. E “é muito nervosa, pode morrer de ansiedade”, explica a veterinária Inês Varanda.

O noitibó não consegue comer sozinho, é alimentado com pinça. Sofia pega nele como em porcelana, cobre-a para a acalmar, leva-a no colo em câmara lenta, causa-lhe o menor estorvo possível. Faz o mesmo quando alimenta um mocho bebé. “Gosto de ajudar os animais. Com isso, estamos preservando o planeta.” Ali há corujas, águias, cegonhas, cágados, abutres, mochos e tudo o que a GNR e população ali levarem. Quase sempre de urgência.

Sofia tem 17 anos, foi o irmão Rui quem a seduziu para ali. “Ele adora animais, vem todos os dias”. Ela não vai todos os dias, mas nunca deixa de ir quando a chamam. “Mudou a minha mentalidade: hoje faço mais reciclagem e tenho mais respeito pelos recursos naturais.”

Com informações do Jornal de Notícias

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