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Sacrifício de animais em Neuquén mobiliza o país em defesa dos animais

6 de agosto de 2010
7 min. de leitura
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Por Danielle Bohnen (da Redação – Argentina)

A medida cruel  tomada pelo governo da província de Neuquén a respeito do sacrifício de centenas de cães abandonados estendeu-se pelos quatro cantos do país. Hoje, é o assunto mais discutido entre associações, protetores e artistas nas redes sociais Facebook e Twitter.

As autoridades, que nunca se preocuparam com uma política de castração dos animais e de educação da população, alegam que o sacrifício é necessário, pois trata-se de uma medida sanitária de emergência a fim de controlar a epidemia de leptospirose.

Segundo o vereador Francisco Baggio, em entrevista para o programa de rádio El Locutor, “a cidade tem 130 mil cães, 100 mil a mais do que é permitido pela Organização Mundial da Saúde. A zona de ‘La Meseta’ é um bairro rural muito abandonado e no meio do lixão municipal com grandes problemas ambientais. Nessa região, vivem 185 famílias e 1.100 cães. Ali, foram comprovados casos de leptospirose e o órgão de saúde deu o alerta sanitário. Dessa forma, o intendente [Matín Farizano] apresentou o projeto para ser aprovado. Todos nós, vereadores, votamos favoravelmente ao projeto, o qual trazia em uma das medidas o sacrifício dos cães ‘sem tutor’, pois transmitem a leptospirose”.

Francisco Baggio. Foto: Reprodução/ NTR

A população neuquina, com absoluta razão, mostra-se relutante em aceitar a medida. O assunto é tema de destaque em diversos meios de comunicação nacionais, nos em que se questiona a necessidade da medida e se representa realmente uma solução eficiente para o problema da província.

Em análise das redes sociais, reflete-se a magnitude da discussão sobre o tema, a maioria das opiniões se opõe à implementação da medida e exigem a castração dos cães. Artistas do país inteiro estão aderindo às campanhas e apelos ao governo neuquino em voltar atrás da decisão sobre sacrifício. Inclusive Susana Gimenez, apresentadora do programa SG da emissora Telefe, considerada diva da Argentina, dedicou alguns minutos do seu programa para o tema, rogando às autoridades que “revejam a necessidade do sacrifício dos animais”.

Susana Gimenez/ Foto: Reprodução

Além disso, desde quando a medida foi publicada, diversas passeatas, manifestações e protestos têm sido organizados por todo o país, por protetores independentes e associações de proteção animal. A última manifestação, organizada no dia 1 deste mês, contou com mais de 300 pessoas que, junto aos seus animais de companhia, manifestaram-se na capital da província de Neuquén, que leva o mesmo nome, em frente ao Palácio do Governo. Associações protetoras de animais de 12 províncias do país se mobilizaram a fim de reverter a medida aprovada. As manifestações geraram um debate a respeito da polêmica envolvida no assunto. Sociedade e Estado discutem a eficácia da medida e procuram uma solução eficiente e viável para controlar a epidemia sem ter que aplicar a eutanásia.

Foto: Reprodução/ Luis Garcia

A decisão de matar os animais, tomada pelo intendente Martín Farizano, tornou-se um problema para o Executivo, devido às proporções em nível nacional a que chegou. Na última terça-feira, dia 3, o chefe de gabinete, Aníbal Fernandez, enviou uma nota oficial e uma série de recomendações ao intendente Farizano, depois de um protesto em frente a sua casa, quando manifestantes fizeram uma vigília com velas durante a noite. “Saberá senhor intendente que os cães abandonados não nascem como os fungos depois da chuva. Se existe um excesso de população canina não controlado, é porque não foram tomadas medidas do caso antes, utilizando adequadamente os recursos”, disse na nota.

Vigília em frente à casa de Fernandez. Foto: Diário de Rio Negro

Segundo Fernandez, “o sacrifício como método de controle de qualquer população só aumenta o número dessa população a médio prazo (…); além de ser inútil, ineficaz e ineficiente, essa medida é também cruel, antiética e, principalmente, desnecessária. Tudo isso é um assassinato massivo”. O intendente Farizano negou que a intenção do Executivo seja voltar a permitir o sacrifício de animais, como ocorria até 2002, justificando que “há uma autorização específica para ‘Meseta’ e ‘por quatro meses’.” Fernandez diz que a notícia lhe provocou “estupor, desagrado e assombro quanto a tudo que está acontecendo ultimamente em relação à suspensão da lei 9.476, que declara Neuquén uma província não eutanásica”.

Até o momento não se sabe quando a medida será posta em prática, com os 220 primeiros cães recolhidos na semana passada, entregues pelos próprios tutores. Então, uma coletiva de imprensa foi organizada pelo intendente Matín Farizano e pelo diretor do Zoonoses e Vetores de Neuquén, Gustavo Bossio, a fim de aclarar o que acontecerá com os 220 cães recolhidos da região de “Colonia Nueva Esperanza”.

Foto: Reprodução/ Diário Rio Negro

Na semana passada houve uma reunião entre os representantes da Comissão Municipal, vereadores e membros do gabinete municipal, onde foi analisada a situação de “Colonia Nueva Esperanza” e foi decidido pelo sacrifício dos 220 primeiros cães recolhidos. Ao contrário do que foi dito na coletiva de imprensa. Segundo Farizano, “ainda nenhum cão não foi sacrificado, vamos esgotar todas as possibilidades para não chegarmos a isso”. Bossio afirmou que “este foi, é e continuará sendo um município não eutanásico. A não ser por um momento específico como o caso da leptospirose. Primeiro trabalharemos a fim de saber se os cães estão doentes e depois será determinado se será necessário o sacrifício ou não”. Afirmou ainda que “o que será feito, sem dúvida, é o tratamento destes cães, já que cada um deles representa uma problemática particular”. Agregou, ainda, que “o objetivo do município é preservar a saúde da população humana, evitando a proliferação da epidemia”. Portanto esses animais não serão sacrificados sem prévia constatação de que portam a bactéria.

Farizano na coletiva de imprensa. Foto: Reprodução/ Leo Petricio

Depois do alerta sanitário, o município iniciou um trabalho de ação conjunta com governo da província, órgãos nacionais e organizações da sociedade civil para a prevenção da epidemia. A primeira medida foi a confecção de um manual de procedimento, elaborado de acordo com as sugestões do Ministério de Saúde da Província, que seguem as indicações da Organização Mundial da Saúde, em relação a casos de leptospirose.

O foco foi controlado e o trabalho teve continuidade de forma coordenada para prevenir novos casos.“Todas as etapas estão sendo cumpridas. Já foi realizada a desratização, estamos realizando a limpeza e secando os charcos de água. Durante este fim de semana, foram retirados 17 caminhões de lixo, que são foco de proliferação da doença.”, disse Farizano. E agregou que “há uma clínica veterinária itinerante no local, onde estão fazendo a esterilização e vermifugação dos cães”.

Foto: Reprodução/ Diário Rio Negro

O que a população espera é que a decisão momentaneamente cancelada de matar os 220 cães seja permanente e que as informações transmitidas na coletiva de imprensa não sejam apenas uma manobra política para levar a cabo a primeira proposta de acabar com a vida de 1.100 inocentes. As associações continuarão com as manifestações e protestos até que uma decisão final e campanhas eficientes sejam postas em prática.

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