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Em Portugal abandono aumenta nas férias e canis abatem animais sadios

27 de julho de 2010
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Apelos na internet, nas clínicas veterinárias e até sensibilização nas escolas. A Associação Bracarense Amigos dos Animais – ABRA – desdobra-se em esforços e campanhas para que os animais sejam adotados, mas as adoções têm sido “muito poucas” e com a chegada do verão o número de abandonos aumenta.

Nos últimos dois meses, o número de animais deixados no canil/gatil municipal disparou. “Temos muitos dias da semana em que são entregues 10 cães por dia, entre os animais que são recolhidos pelas equipes da Agere e os animais entregues pelos tutores”, confidenciou a vice-presidente da ABRA, Anabela Veloso. E, contrariamente aos anos anteriores, “nos últimos três meses o gatil tem estado lotado e não se consegue perceber por quê, já que os gatos são mais difíceis de capturar”.

Um dos animais abandonados recolhidos pela ABRA (Foto: www.abra.org.br)

Além disso, Anabela Veloso sublinhou o fato de cada vez mais pessoas entregarem os animais ao canil/gatil. “Quando dizemos às pessoas que os animais podem ser abatidos, porque o tempo útil para arranjar um tutor é muito curto, as pessoas acabam por levar de volta”, admitiu aquela responsável, informando que se coloca no site a fotografia do animal na tentativa de arranjar um novo tutor.

“As pessoas têm de estar conscientes de que, quando entregam animais no canil, o seu destino é o abate. Só excepcionalmente eles são adotados e isso é cada vez mais difícil”, referiu aquela responsável, evidenciando que no canil “80% dos animais são entregues pelos tutores e 20% são recolhidos”.

Nesta altura do ano, lembrou Anabela Veloso, “já se veem nas zonas limites da cidade, onde há montes, os animais pelas estradas fora. Há cada vez mais animais abandonados e cada vez menos adoções”, assegurou.

Tutores mais responsáveis

Isto pode dever-se ao fato, acrescentou a vice-presidente, “de as pessoas terem mais responsabilidade e estarem mais conscientes de que não podem ter um animal por ter, é preciso ter mais cuidados e, por isso, preferem um animal que dê menos trabalho e com que gaste menos dinheiro. Nesse sentido nota-se que está valendo o trabalho”.

O apelo que Anabela Veloso deixou é para que as pessoas, antes de saírem de férias, “tentem todas as possibilidades para não abandonarem os animais ou de os deixarem no canil”. E atirou: “enviem fotos e tentamos pelo site encontrar famílias de acolhimento. Depois há outros serviços e hotéis ou até um vizinho ou familiar que não se importa de olhar e dar de comer”.

Entretanto, a ABRA durante o mês de agosto continua com as campanhas de adopção, sendo no primeiro fim de semana do mês para cães e gatos e no terceiro sábado de cada mês para os gatos.

“Número de abates deve-se ao elevado número de abandonos”

A Associação Bracarense Amigos dos Animais (ABRA) repudia o teor das acusações feitas ao Canil Municipal de Braga, expressas numa petição on line, promovida pela Fraktal.

A ABRA reconhece, em comunicado, que “é imprescindível promover a alteração de comportamentos e mentalidades, de modo a abandonar a prática de abate como forma de controlar o número de animais abandonados”.

E vai mais longe: “é preciso combater o aumento do abandono e maus-tratos dos animais, implementando medidas dissuadoras de tais práticas; além de promover e sensibilizar a população para a esterilização dos seus animais de estimação, com vista à diminuição do número de animais errantes. E a ABRA defende ainda melhores condições para as infraestruturas destinadas à recolha dos animais errantes, promovendo o seu acolhimento, consciencioso, por novos tutores, em detrimento do seu abate e assegurar que se encontram preenchidas as condições fundamentais de higiene, alimentação, saúde e bem-estar de todos os animais que se encontram recolhidos nas referidas infraestruturas.

Ainda em comunicado, a direção da ABRA sublinha que “os canis municipais existentes no nosso país são, majoritariamente de abate, não assegurando as mínimas condições de higiene, alimentação, saúde e bem-estar dos animais que se encontram depositados nos mesmos”.

Em contrapartida, acrescenta o mesmo documento, “a Câmara Municipal de Braga abriu as portas do canil municipal, permitindo que um grupo de voluntários se desloque diariamente às suas instalações para, em parceria com o município, acautelar, diariamente, que se encontram preenchidas as condições fundamentais de higiene, alimentação, saúde e bem-estar de todos os animais que aí se encontrem e, bem assim, zelar pela minimização do sofrimento de animais doentes, quando não for possível assegurar tratamento e/ou recuperação adequados”.

Esta colaboração, ao longo dos últimos cinco anos, permitiu que inúmeros animais encontrassem novos tutores.

Tutores cada vez mais preocupados

O hotel canino da Quinta de St.ª Teresinha, em Merelim S. Pedro, é uma das várias opções existentes no concelho para deixar os animais, não só em tempo de férias.
César Sá, o proprietário daquele espaço com 12 anos, destaca o “ambiente familiar”, que ali se cria para os animais. “Apostamos num conceito familiar e, apesar de termos espaço e condições para crescer, optamos por ficar pelas 50 boxes disponíveis”.

Trabalhando no ramo por paixão, César confessa que é “gratificante o que os animais dão, até porque a interação é fantástica”.

E em relação aos tutores, o proprietário do hotel tem notado que “há uma grande preocupação e respeito pelos animais, as pessoas têm consciência e querem deixar o cão bem tratado e telefonam diariamente para saber se os animais estão bem. Isso demonstra afeto e carinho”.

Numa quinta com cerca de dois hectares, César Sá garante que se pretende “dar férias aos animais. Eles aqui não estão presos, andam soltos e podem explorar todos os cheiros das várias árvores de fruto existentes”. E foi mais longe: “os cães brincam e socializam-se com outros animais, caso os tutores autorizem. Há muita vegetação para proporcionar sempre sombra, sobretudo na época de calor”.

Mas César não recebe animais apenas nos meses de férias. “Temos animais durante todo o ano. Cada vez isso acontece mais por variados motivos, desde trabalho, divórcio, obras em casa, doença”, informou.

César admitiu que ainda não sentiu a crise. “As pessoas podem não ir tanto tempo de férias, em vez de irem um mês, já só vão 15 dias, e além disso já não vão só em agosto, talvez por ser mais barato nos outros meses, mas continuam deixar os animais aqui”.

Por noite, cada animal paga 10 euros com tudo incluído. “Já tenho praticamente tudo reservado para o mês de agosto”, assegurou o proprietário, referindo que chegam animais de famílias de várias localidades, desde Porto, Viana do Castelo, Barcelos, Esposende e Braga.

Fonte: Correio do Minho

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