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O desmatamento de Suape (PE) causará sofrimento e morte para animais não humanos e humanos

13 de julho de 2010
4 min. de leitura
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Por Robson Fernando  (da Redação)

O Governo de Pernambuco teve autorizada pela Assembleia Legislativa estadual o desmatamento de 691 hectares de vegetação no estuário da Bacia do Ipojuca, onde está situado o Porto de Suape. A razão alegada para a destruição é a ampliação do complexo industrial que rodeia o porto. Será causado dano significativo na vida marinha local e regional, sendo destacados abaixo os danos à fauna.

Desde o primeiro anúncio desse desmatamento, vêm sendo emitidos alertas sobre as consequências nefastas que tal ecocídio pode gerar para a biosfera e para a população humana local e regional. Agora falo de uma outra parte específica do ambiente que vai sofrer literalmente com esse desmatamento: os animais, a fauna daquele estuário e do mar adjacente.

Como todos devem saber desde o Ensino Fundamental, estuários são riquíssimos berçários de fauna marinha, servindo de lar, “banquete” e/ou “maternidade” para um sem-número de espécies animais. O estuário da Bacia do Ipojuca, onde deságuam rios como o Ipojuca, o Massangana e o Merepe, não foge à regra. Caranguejos, siris, peixes das mais diversas espécies e outros animais do mar e dos rios dependem dali para viver.

Devastar e aterrar o estuário significará morte certa para milhões de animais, imediata ou não. E uma morte nada “humanitária”: uns, como os caranguejos, serão soterrados com a “cavalaria” de tratores aterrando o solo lamacento que lhes serve de casa, morrendo de asfixia. Outros, como peixes, serão expulsos do lugar e morrerão em pouco tempo, com todo o sofrimento da desnutrição que minguará seus corpos, uma vez que o local onde se alimentavam de plânctons e néctons pequenos estará aterrado e provavelmente contaminado e nem todos os animais encontrarão um novo “restaurante” tão adequado quanto o estuário ipojucano.

Assim sendo, o desmatamento e aterro daquele sistema estuarino vai causar um sofrimento que, em seres humanos, seria descrito e julgado como uma tragédia de crueldade extrema. O desenvolvimento insustentável responsável por tal destruição torna-se assim ainda mais antiético, por desrespeitar o direito daqueles animais à vida e ao equilíbrio ecológico que lhes permite continuar vivendo e por causar aos mesmos agonizante e intenso sofrimento desnecessário. Se hoje em dia matar para comer carne é cada vez mais questionado eticamente, massacrar aquela imensa fauna por motivos ainda mais evitáveis será um biocídio comparável ao piores genocídios humanos – uma lei séria julgaria tal ato como um crime das piores categorias.

Falei até aqui das consequências nos animais, que sofrerão muito antes de morrer por causa da destruição de seu antigo recanto. Levemos em conta também os perversos efeitos da afetação da fauna local na vida humana. Há tempos insisto que negar direitos aos bichos pela exploração direta ou pela matança injustificada causa catástrofes ambientais, que atingem direta ou indiretamente a humanidade.

É o caso dos tubarões, que, segundo especialistas como o professor da UFRPE Fábio Hazin, foram expulsos dali pela construção do Porto de Suape e terminaram se propagando por grande parte do litoral da região metropolitana do Recife, atacando e matando dezenas de banhistas e surfistas nos últimos 18 anos. Isso representou, e representa, um revés para o turismo pernambucano e a limitação da balneabilidade de praias como a de Boa Viagem.

É provável que a destruição do estuário ipojucano vá piorar essa situação, uma vez que vai afetar uma teia alimentar costeira que vai muito além daquele local e, provavelmente, vai afetar novamente a alimentação e reprodução de tubarões, tornando ainda mais perigoso tomar banho de mar no Grande Recife e prejudicando ainda mais o turismo litorâneo em Pernambuco.

Isso sem falar no também provável esvaziamento das populações de animais marinhos, com a perda do berçário ipojucano e o rompimento da teia alimentar regional. Praias piscosas como Porto de Galinhas poderão perder o atrativo dos peixes que nadam junto aos turistas nos arrecifes. E poderão vir outras consequências catastróficas ainda imprevistas – lembrando nós que a natureza, quando agredida, contra-ataca de forma devastadora, com uma força nem sempre mensurada previamente, muitas vezes até inviabilizando a permanência do ser humano nos locais onde houve a agressão.

Matar o estuário significará matar quase toda a fauna que o habita, assassinar um sem-número de animais com requintes de crueldade. O que o Governo de Pernambuco está fazendo é antiético, é um atentado pesado aos (ainda não reconhecidos legalmente) direitos animais e também uma ameaça a muitas vidas humanas. Mal sabem o governador Eduardo Campos e sua trupe industrialista-suja que ferir ambientalmente os direitos dos animais não humanos como vem fazendo terminará implicando a perda de vidas humanas das mais diversas formas – seja estadualmente, caso dos ataques de tubarão, seja globalmente, com os resultados climáticos e alimentares do ecocídio de Suape somado a todas as demais destruições ambientais infligidas ao planeta.

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