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Reabilitação de ursos explorados pela indústria da bile salva animais do sofrimento

8 de julho de 2010
4 min. de leitura
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Por Marc Bekoff
Tradução por Giovanna Chinellato (da Redação)

Foto: Animals Asia

Jasper é um urso tibetano, espécie em extinção também conhecida como urso-lua por causa da mancha em forma de lua no peito. Em 2000, Jasper veio para o Animals Asia’s Moon Bear Rescue Centre (centro de resgate de ursos tibetanos) em Chengdu, na província Sichuan, China.

Quando Jasper chegou, os responsáveis por seu resgate tiveram que cortar a gaiola esmagadoramente minúscula que o prendeu por 15 anos para que um comerciante extraísse a bile de seu fígado. A bile de urso é usada na medicina tradicional chinesa a um preço elevado. Mas esconde um custo terrível.

Milhares de ursos tibetanos continuam presos em fazendas de bile pela Ásia, muitos passam mais de 30 anos em gaiolas do tamanho de seu próprio corpo. Ursos tibetanos estão listados no maior nível de risco de extinção na Convention on Internationl Trade in Endangered Species (CITES), mas a China lhes dá apenas proteção de nível dois, que permite que sejam engaiolados e torturados.

O número oficial de ursos em fazendas de bile na China é de 7 mil indivíduos, mas a Animals Asia teme que a realidade ultrapasse 10 mil. Apesar de ser ilegal aprisionar ursos selvagens, desde 1989 eles são caçados em razão de suas vesículas ou para suprir novas fazendas.

O Moon Bear Rescue Program (programa de resgate dos ursos-lua) foi fundado em 1993 quando Jill Robinson descobriu os horrores das fazendas de urso. Nos últimos dez anos, 276 ursos com doenças crônicas foram resgatados de fazendas chinesas. Os ursos invariavelmente chegam ao centro sofrendo de sérios problemas físicos e psicológicos, causados por seu encarceramento e o torturante processo de extração (que, na China, é feito enfiando-se um cateter num buraco eternamente aberto no abdômen do urso até atingir seu fígado).

Todo urso que chega ao centro de resgate precisa passasr por cirurgias para remover vesículas destruídas; muitos passam por cirurgias adicional e tratamento médico a longo prazo. Eles sofrem de dentes quebrados e faltando (por morderem as barras ou por terem sido mutilados pelos comerciantes); aleijados de patas e garras; ferimentos infectados e necrosados; cegueira; câncer de fígado (que mata cerca de 50% dos ursos resgatados); e um leque de outras doenças crônicas e graves. São incapazes de sobreviver sozinhos.

Foto: Animals Asia

Em contraste ao horror das fazendas de bile, o processo de reabilitação é maravilhoso e inspirador. Ver os ursos reabilitados brincando felizes é indescritível. Muitos vivem procurando amigos para correr, prova de que superaram parte do trauma. Entretanto, alguns ursos têm flashbacks e arrepios de seu abuso apavorante. Jill nota a transformação na personalidade do animal, antes tão violento e com pânico de humanos, e agora confiantes, amorosos – é realmente marcante.

Ela está certa. Visitei o centro de resgate e minha vida mudou. São, sim, poderosas a esse nível as histórias daqueles ursos.

O projeto de resgate de ursos tibetanos levanta questões importantes sobre comportamento animal, conservação e cooperação transcultural. Por que os ursos demonstram tantas respostas individuais diferentes para o abuso e a reabilitação? Como as pessoas de fora da China podem trabalhar para libertar os ursos e dizer que respeitam tradições culturais?

A bile de urso continua sendo um abuso cheio de remorsos. Ela foi usada na medicina tradicional chinesa há 3 mil anos para tratar doenças “relacionadas ao calor” como problemas de olho e fígado. Hoje, é usada para tratar de ressaca a hemorroidas.

Entretanto, a bile de urso não é nada do que dizem ser. A bile de ursos engaiolados é contaminada de pus, sangue, urina e fezes. Veterinários descrevem a bile preta vazando de feridas dos ursos resgatados como imundície de urso nada saudável e temem as células cancerígenas que foram detectadas na bile de ursos com tumores.

Logo depois que a Animals Asia foi fundada, Jill negociou um acordo com o governo chinês de trabalharem para acabar com fazendas de urso. As piores fazendas são fechadas e a Animals Asia compensa os comerciantes para que possam abrir novos negócios. Até hoje, 43 fazendas foram fechadas e a China não emitiu novas licenças desde 1994. Líder do departamento de proteção ambiental, Madam Xiong Neirong (Madame-urso, em chinês) ofereceu uma parceria à Animals Asia para desencorajar o uso de animais selvagens. O principal componente da bile de urso, o ácido ursodesoxicólico, pode ser sintetizado em laboratórios, onde o resultado é limpo, puro e confiável.

O objetivo atual de Jill Robinson é que todos os ursos regatados acordem toda manhã com o sol nas costas sem medo em seus corações. Cada urso certamente aprecia o esforço. Apenas olhe em seus olhos. Eu olhei. Ursos tibetanos torturados são embaixadores do perdão, confiança e esperança.

Fonte: Animals Change

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