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Ativismo eficiente: aprendendo com meus erros

25 de junho de 2010
5 min. de leitura
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Como ser mais eficiente como um ativista pelos direitos dos animais? Isto é uma pergunta muito importante para salvar mais animais. Para mim, realmente, é a pergunta principal.

No prévio artigo, escrevi sobre a maneira de entender melhor a quem estamos falando. Neste artigo, quero elaborar mais esta pergunta e vou começar falando sobre o que (segundo a minha própria experiência ) não tem funcionado muito bem.

É muito importante no ativismo avaliar se o que estamos fazendo é ou não eficiente. Isto é uma estratégia para quando se tem recursos limitados: dinheiro, energia, pessoas, tempo etc. Acho que é importante lembrar que o resultado que eu quero, como diretora de uma ONG, pode ser diferente do resultado que outros querem. Cada um de nós tem uma perspectiva, personalidade, meta e método diferentes. Então, neste artigo vou falar da minha experiência, não para criticar os outros, mas para dizer que, ao final de tudo, a coisa mais importante quando estamos planejando ou desenvolvendo ideias para ajudar os animais é comparar o que funciona com o que não funciona. As boas empresas sempre avaliam os programas, gastos etc., como parte do plano de negócio e sugiro que façamos as mesmas coisas como ativistas!

Vou compartilhar o que não foi muito eficiente comigo: o protesto. Sei que, quando falamos de ativismo pelos direitos dos animais, a maioria das pessoas imagina um grupo fazendo coisas para chamar a atenção para alguns assuntos, mas o problema que eu experimentei com essa estratégia é que os que protestam são percebidos como se fossem doidos. Na minha experiência, as pessoas nem escutavam o que eu dizia, e riam de mim ou gritavam contra mim, sem prestar atenção no que eu estava dizendo — ou seja, sem me escutar. Quanto mais eu queria protestar e chamar a atenção sobre as atrocidades contra os animais, mais a minha mensagem estava perdida porque as pessoas me viam como alguém marginalizado. Por quê? Quem sabe… mas tenho uma teoria: acho que, ao final de tudo, todos nós queremos  ser amados e queremos nos sentir especiais e aceitos pelos outros. Então, quando eu estava fazendo ou dizendo coisas que pareciam fora do “normal”, as pessoas me tratavam como se eu estivesse “errada”, e eu me distraía da mensagem principal para discutir ou tentar convencê-los, porque aceitar alguma coisa fora do “normal” poderia ser um risco para eles, no sentido de não serem aceitos ou, pior, não serem amados. Isto é a minha opinião, mas não sou psicóloga…

Uma vez, por exemplo, fiz um protesto contra experimentos com macacos. Os jornalistas das notícias na televisão chegaram e nos entrevistaram. Fiquei muito feliz pensando que essa reportagem daria ao público a informação precisa para que eles também estivessem ao nosso lado nesta causa contra experimentação que usa animais. Sonhei que essa era a minha oportunidade de compartilhar esta informação com muitas pessoas que eram ignorantes sobre esse assunto tão importante! Ao final do protesto, voltando para casa, liguei para a minha família e amigos, contando-lhes que a entrevista apareceria na televisão naquela mesma noite. Quando cheguei em casa e vi as notícias, fiquei tão deprimida (e chateada!) de ver que a história apresentada na televisão nos retratou como se fôssemos completamente alheios ao mundo! Como se estivéssemos num circo! Embora os jornalistas tivessem falado com muitos de nós, quando saiu a entrevista, eles tinham apenas escolhido pessoas que pareciam fora do “normal” (com tatuagem e cabelo em estilo não conservador) . Eu não sabia, mas os jornalistas também  entrevistaram um cientista do laboratório. Eles retrataram o cientista como uma pessoa racional, inteligente, com razão e nos mostraram como pessoas irracionais, estranhas e totalmente sem razão!

Eles incluíram um vídeo em que aparecíamos gritando e com os nossos cartazes e faixas com escritos à mão. Parecíamos lunáticos! Eles sequer usaram o vídeo da parte da entrevista falando com a nossa mensagem inteligente e racional! Foi uma deturpação que não somente nos causou dano, mas também deixou uma ideia na mente dos espectadores do programa que comprometeria o progresso dos nossos esforços de realmente parar com os experimentos.

Na história apresentada na televisão, os cientistas eram bons e nós, ativistas, éramos fanáticos! Em dois minutos na televisão, eu vi uma “história” completamente diferente do que o protesto tinha a intenção de defender, que era a proteção daqueles animais.

Depois disso, decidi parar de fazer protestos como meu método principal de ativismo. A partir de então, queria apresentar a verdadeira história sem que alguém distorcesse a perspectiva. Como podia fazer isso? Pois bem… decidi que a única maneira de assegurar que as pessoas não deturpassem o que eu queria dizer foi dizendo alguma coisa em que eles também acreditam. Se falo de coisas para que as pessoas estejam de acordo, eles não vão gastar tempo tentando me contradizer. Então, decidi escolher tópicos com que podíamos concordar: saúde, compaixão, benefícios ao meio ambiente, direitos dos trabalhadores etc., e educar em vez de discutir ou fazer protestos.

Agora estou no momento de avaliar o que, como diretora de Vegetarian Solutions, estou fazendo. Sei o que não funciona bem, incluindo o meu site (estou no processo agora de mudar e renovar… desculpem a demora. Estou neste processo de mudar e melhorar o que faço, com novas metas e estratégias). Mas é importante de vez em quando parar complemente e avaliar o que estamos fazendo para saber se estamos sendo tão eficientes quanto podemos ser.

Com esta meta de salvar animais, não faz sentido gastar tempo, energia, recursos, pessoas apaixonadas, etc., com ativismo ineficiente! Os animais precisam que sejamos muito espertos, e que paremos de fazer o que está impedindo o progresso do movimento de defesa dos animais: educar as pessoas ajudará mais os animais e a nossa causa, afinal.

Se o que fazemos como ativistas ajuda o nosso “ego”, mas não está realmente ajudando os animais — e pior, está causando uma percepção pública que nos vê como doidos, marginalizados, estranhos e distrai completamente a atenção de nós, para fora da mensagem que vai ajudar aos animais — então é momento de olhar no espelho e parar.

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