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O instinto perverso e a perpetuação da violência

8 de junho de 2010
5 min. de leitura
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Os animais ainda pertencem à última instância da moralidade e ética humana. A eles ainda é permitido explorar, subjugar, humilhar e projetar neles todas as misérias humanas possíveis. Já que com outros grupos (humanos) já não é aceitável que se faça isso publicamente.

Ainda bem! Pois avançamos em alguns parâmetros que antes eram considerados normais. O preconceito hoje é considerado crime, em alguns países ainda existe veladamente, mas todos concordam que já não podemos mais aceitar comportamentos preconceituosos com pessoas diferentes de nós. Claro que há regiões que ainda cometem barbarismos, mas são criticados, justamente porque já atingimos um padrão ético para os humanos e queremos segui-lo.

Mas ainda me pergunto por que a humanidade odeia tanto os animais. Essa relação, que é muito mais de ódio e inveja, do que de amor e raramente respeito, é visível em cada comentário especista, em cada desculpa esfarrapada na boca do povo, dos que acreditam que o animal nasceu para isto, para aquilo, para nos servir. Escravos de um sistema que tem apoiadores em todos os níveis.

Um exemplo muito ilustrativo é que animais são usados na indústria da pornografia, por exemplo. Sempre atendendo a um público fiel e numeroso. Tendo adeptos inclusive no mundo dos que se dizem protetores dos animais e ativistas, sobre o que a Vanguarda Abolicionista já escreveu nota de repúdio tempos atrás.

Esse tipo de abuso ocorre muito em casas de particulares, mas também lá no submundo onde também ocorrem prostituição, drogas, prostituição de menores e outras atrocidades cometidas contra os direitos humanos. O indivíduo que aceita este tipo de abuso contra os animais, também está alimentando moralmente a indústria da pornografia, das drogas e de todas as coisas ligadas ao submundo da exploração de uma maneira geral.

O abuso de animais sempre está ligado à perversão, ao egoísmo, e muitas vezes à inveja.

Sim, muita gente não consegue aceitar que nós, humanos, sejamos animais. Não conseguem aceitar que existem animais soberanos e completamente independentes de nossa convivência. Podem ter muitas convulsões ao perceber que o planeta Terra viveria perfeitamente bem sem humanos. Ou melhor.

Ou que nossas ações nem sempre podem salvar a Terra. Mas há pessoas que ainda esperam que o mundo será salvo pelo governo americano, como nos filmes…
Essa confusão de sentimentos negativos é o que resulta no abuso e na maldade. São os jogos perversos como as touradas, são os defensores do churrasco e defensores dos patrões da pecuária. São os que sentem prazer ao ver sofrimento ou que acreditam que nada disso existe e que vídeos a respeito são coisas de outros países – sempre lá fora. Nunca aqui.

Por que será que a humanidade segue subjugando ostensivamente os animais, para fins diversos e inimagináveis? Provavelmente porque, no seu instinto de violência  (já estudado à exaustão por cientistas do comportamento animal e humano), o humano precisa de um “bode expiatório”. E como já não pode projetar sua miséria nas mulheres, nas crianças etc., projeta nos animais – ainda fora do círculo de cuidado ético. Com eles pode tudo!

Toda a excitação de ver a dor, de explorar, de subjugar, de torturar em nome de uma posição mais respeitável e de bolsas de estudo que se renovam ano após ano, faz dos seres humanos parasitas do abuso aos animais.

Há as exceções, obviamente, mas ainda estamos muito longe de um amadurecimento, mesmo dentro da causa animal, como podemos ver nos exemplos acima.
A humanidade ainda precisa sublimar o seu comportamento agressivo. Não é reprimir, nem projetar. Apenas sublimar, transformando este comportamento em algo melhor. Para então poder olhar para os animais com outros olhos e sem vê-los como uma finalidade, um objeto, um presente de algum deus para nosso uso.

Os animais são únicos em si mesmos e merecem respeito, assim como nós merecemos respeito e o exigimos.

A humanidade deve ser respeitada, mas antes de tudo deve aprender a respeitar. E se dar o respeito.

Respeitar os animais é a forma mais primordial de respeito. Pois quem respeita os animais de forma genuína dificilmente será desrespeitoso com os demais animais humanos. Agora, rapidamente percebemos que quem não respeita os animais, também não respeita as pessoas. Faça o teste.

Um livro muito interessante que mostra a personalidade de serial killers demonstrou que em todos os casos havia alguma forma de abuso contra os animais na infância, adolescência e idade adulta. Em alguns casos, os pais ensinavam tais comportamentos. Em outros, assassinos praticavam abusos contra animais e contra humanos simultaneamente. Mostrando as inúmeras ligações entre tais formas de violência.

Fiquemos atentos a isso, e que sirva de reflexão para práticas legalizadas de tortura como o abate para fins alimentícios, científicos etc.

Também podemos observar como o trabalho em matadouros pode prejudicar a psique destes trabalhadores. Um estudo sobre isto já foi feito, mas não tenho a fonte aqui. Mas, onde trabalhei como professora, pude observar o comportamento de alguns alunos que trabalhavam em abatedouros e frigoríficos. Fui professora de adultos em uma escola particular. O trabalho os deixa geralmente com prazer de matar. Falam isso de forma espontânea, na frente dos filhos e com um tanto de sadismo.

Esses e outros detalhes nem sempre passam pela cabeça das pessoas que estão na fila do açougue pagando, e muito bem, para que a morte e a violência se propaguem silenciosamente entre as pessoas de forma sistêmica e silenciosa.

Fontes

NEWTON, M. A enciclopédia de serial killers – um estudo de um deprimente fenômeno criminoso. São Paulo: Madras; 2008.

WRANGHAM, R.; PETERSON, D. O macho demoníaco: as origens da agressividade humana. Rio de Janeiro: Objetiva; 1998.

 

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