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Monteiro Lobato: um ativista literário em defesa dos animais e do planeta

5 de junho de 2010
3 min. de leitura
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Os apontamentos críticos de um dos maiores escritores brasileiros não podem passar despercebidos neste Dia Mundial do Meio Ambiente. Mais do que um grande autor de histórias infantis, Lobato, atento às principais questões de seu tempo, foi um articulista ousado e perspicaz, engajando-se em diversas campanhas.

Em Homo Sapiens, um dos ensaios de A Onda Verde, num estilo panfletário e irônico, Lobato condena o homem pela pesca com armadilhas, as arapucas, mundéus, ratoeiras, o aprisionamento de pássaros em gaiolas, as carroças e arreios com que os cavalos eram presos, a caça das baleias com arpão e aos outros animais a tiros, os incêndios dos campos e matas, a drenagem dos pântanos, enfim, por todo o mal causado aos animais. O homem, movido pela ganância, torna-se “lobo de si próprio”, numa referência hobbesiana, pois suas ações contra a natureza acabam vitimando a si mesmo. A solução de Lobato é conclamar uma revolução dos bichos (muito antes de George Orwell, mas em outro sentido, é claro):

“Animais todos da Terra, basta de submissão! Uni-vos!” Um governo dos animais seria “infinitamente mais gentil que a dura realeza humana”, inclusive porque daria maior atenção às crianças, a quem Lobato chamava de “pequeninas vítimas”. Por perceber o descaso com as crianças em sua época, o escritor dedicou-se a elaborar estórias em que elas têm direito de manifestar suas emoções, sentimentos, e dar vazão a toda fantasia que habita o imaginário infantil.

Também na literatura dedicada a elas, Lobato inseriu elementos de sua preocupação ambiental. Em uma passagem de A Chave do Tamanho reaparece a metáfora do governo dos bichos, aliado a uma reflexão sobre a própria humanidade. Na voz de Emília, Lobato compara a Terra a uma pulguinha na imensidão do universo; o homem, nesta pulguinha “é uma poeirinha malvada”. Se a humanidade acabasse, os animais ficariam muito contentes, porque o “homo sapiens era o que mais atrapalhava a vida natural dos bichos”, ideia transmitida através do Visconde de Sabugosa.

Em Memórias da Emília, livro em que a boneca resolve escrever “as histórias de sua vida”, há uma passagem interessante, na qual explica para o anjinho de asa quebrada (personagem de Viagem ao Céu) “as coisas da terra”. Emília esclarece que árvore é “uma pessoa que não fala; que vive sempre de pé no mesmo ponto”, e que só sai do lugar quando surge o machado, “o mudador das árvores”, que muda até o nome delas, pois, quando ele passa perto, as árvores viram lenha; é um “diabo malvadíssimo”. Através de Emília, Lobato critica também o uso de animais como cobaias em experimentos científicos. Ela considera isso um “desaforo”, porque o cão é o animal “mais amigo do homem”, o símbolo da fidelidade.

O grande mérito de seus escritos foi instigar seus contemporâneos à reflexão sobre o que estava acontecendo. Eles podem inspirar-nos na busca de soluções para os desafios de hoje, muito maiores, é claro, e que passam por uma séria mudança de conduta dos consumidores, mas também por uma revisão dos processos políticos e econômicos em âmbito global.

Com informações de  Zero Hora

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