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Dia das Mães, ponto

8 de maio de 2010
3 min. de leitura
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Se o Dia das Mães – aquela mesa arrumada, todos com fome – serve para comemorar a ligação afetiva entre fêmeas e seus filhotes, é porque se reconhece esta união mesmo após o rompimento do cordão umbilical. No entanto, os animais que são vistos por muitos justamente como seres ‘instintivos, ponto’, não recebem esse benefício do reconhecimento de uma afinidade maior e muitas vezes longa entre mãe e filho. Pela lupa míope do especismo, a mãe humana é sagrada – inclusive com desdobramentos religiosos – e recheada de virtudes, cabendo aos adoradores manter a escravidão e morte de mães não humanas que, por azar, foram elencadas como ‘de serventia’.

Então a compreensão se divide em duas, sendo correto pensar que comparar mãe e filho com porca e porquinho é ofender a humana. Vaca, cadela, galinha, porca, égua, macaca – comumente usados no linguajar chulo para rebaixar a mulher, e se aplicado à mãe de alguém pode redundar em briga ou processo por danos morais, tão em voga atualmente.

Mas o cuidado é o mesmo, o sentimento, a dor pela separação, o terror da morte, a defesa incondicional. E não, não vou arrolar casos de mães que jogam bebês na lata de lixo, que silenciam e não percebem o abuso dos filhos por padrasto etc. – porque o objetivo aqui, senhores chatos veganofóbicos, não é diminuir ninguém. Isto já é feito há milênios pela humanidade tola e tosca, colocando os animais lá embaixo, os Morlocks que Deus-alguma-coisa enviou para servir os que são iguais a si – o que abre dúvidas em relação à empatia para com o sofrimento alheio. Mas esta é outra conversa.

A ideia é equiparar aqueles que, sencientes, percebem no filhote um semelhante que, por enquanto, necessita da proteção, alimentação vital e olho atento, enquanto a idade adulta não chega. Há diferenças, claro, como em tudo que existe, e diferença nunca foi motivo suficiente para se aceitar a submissão e o ‘poder fazer à vontade’. Prova é que foram caindo, um a um, os alicerces do preconceito contra estrangeiros, negros, mulheres, crianças, infiéis, indígenas, homossexuais, portadores de deficiência mental. Todos eles diferentes, na aparência, do “macho adulto branco sempre no comando” – Caetano Veloso – que, vejam só, cunhava nas tábuas da verdade as leis ditadas pela divindade, compulsória para todos, e obviamente dura lex para quem estivesse abaixo do legislador.

Hoje são os animais não humanos, que nada podem fazer contra as leis que regulam, autorizam, normatizam sua exploração, sua criação, abate, testes científicos, ‘lazer’ cultural/tradicional, puxar-lhe leite, puxar-lhe ovos, esfolar, capturar com anzol ou sufocamento, confinar, manter em jaulas ou gaiolas, vivisseccionar, dar tiros, obrigar a cumprir trabalhos forçados – e o que mais a imaginação humana inventar como capricho, enquanto não é proibido.

Então o Dia das Mães, como outras datas, celebra o egoísmo de uma espécie, que ultraja as demais, e ainda sacraliza as que geram filhotes – desde que seja dentro dos limites da espécie. Fora dela, vaca ou cadela ‘é puta, ponto’.

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