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Cientistas alertam para 'desastre invisível' no Golfo do México

31 de maio de 2010
3 min. de leitura
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Cientistas independentes e ligados ao governo americano informam que existe um desastre ainda invisível em curso nas profundezas do Golfo do México, um mundo habitado por enormes baleias e minúsculos plânctons. Pesquisadores afirmam ter encontrado pelo menos duas enormes manchas submarinas do que parece ser petróleo, ambas a centenas de metros de profundidade e estendendo-se por quilômetros.

A despeito disso, o principal executivo da British Petroleum – que durante semanas tentou minimizar a gravidade da explosão da plataforma Deepwater Horizon – insiste que “não há evidências” de que haja grandes quantidades de petróleo poluindo o mundo submarino.

O executivo Tony Hayward disse que o óleo naturalmente busca a superfície e que qualquer petróleo debaixo d’água está apenas a caminho do alto. Mas pesquisadores alertam que o desastre, se atingir as produndezas, poderá desestabilizar toda a cadeia alimentar.

“Todos os peixes e invertebrados que entram em contato com o óleo estão provavelmente morrendo. Não tenho dúvidas”, disse Prosanta Chakrabarty, bióloga da Universidade Estadual da Louisiana.

Na superfície, imagens da câmera afixada ao poço em vazamento e as imagens de pássaros moribundos cobertos de petróleo são os sinais da calamidade. Mas não há câmeras para registrar o que se passa no restante do golfo, com mais de 1,5 milhão de quilômetros quadrados e uma profundidade máxima de mais de 4.000 m.

Toda noite, moradores das profundezas sobem para mais perto da superfície em busca de alimento – e, em alguns casos, tornam-se alimento. Por sua vez, várias espécies mais próximas da superfície, como camarões, ajudam a manter viva a indústria pesqueira da região.

Muitas dessas espécies estão no período anual de reprodução. Ovos expostos ao óleo morrem rapidamente. Os que sobrevivem para eclodir poderão morrer de fome se o plâncton for afetado. Peixes maiores são mais resistentes, mas não imunes.

No maior derramamento de óleo da história do Golfo, a plataforma mexicana Ixtoc I explodiu e liberou 53 milhões de litros de óleo. Mas o desastre mexicano ocorreu em águas relativamente rasas, e boa parte do óleo ficou na superfície.

Mas, na semana passada, uma equipe da Universidade do Sul da Flórida avistou uma mancha de óleo deslocando-se abaixo da superfície na direção da costa do Alabama, águas repletas de peixes e outras formas de vida marinha.

Os pesquisadores dizem que o petróleo nas plumas dissolveu-se na água, possivelmente como resultado dos dispersantes químicos usados no combate ao derramamento.

Respondendo à afirmação de Hayward, um pesquisador destacou que cientistas de diversas diferentes universidades chegaram a conclusões similares sobre as manchas, depois de realizar testes.

Nenhuma grande mortandade de peixes foi detectada, mas autoridades federais dizem que os impactos podem levar anos para se fazer sentir.

A descoberta recente de tartarugas marinhas encharcadas de óleo e de 22 golfinhos mortos na zona do derramamento são sinais de uma calamidade potencial que poderá se desenrolar ao longo de anos na cadeia alimentar da região.

Quantidades significativas de óleo cru vazam naturalmente a partir de milhares de pequenas fissuras no fundo do golfo, diz um relatório científico publicado em 2000. Micróbios que vivem na água decompõem esse petróleo.

A população desses micro-organismos pode explodir em resposta ao óleo mais concentrado da BP e desequilibrar o sistema, disse o oceanógrafo Mark Benfield. Um excesso de micro-organismos pode acabar com o oxigênio dissolvido na água e criar uma zona morta.

Um volume estimado em mais de 3 milhões de litros de dispersantes também contribui para a mistura tóxica. O efeito dos dispersantes na vida marinha é desconhecido.

O que se sabe é que, ao quebrar o óleo em gotículas, os dispersantes reduzem a flutuabilidade, atrasando ou impedindo a chegada do petróleo cru à superfície e dificultando rastreamento da mancha.

A dispersão do óleo no fundo do mar protege as praias, mas também mantém o petróleo em águas mais profundas e frias, onde ele não se decompõe tão depressa. Isso pode reforçar o potencial do óleo para envenenar peixes, disse o pesquisador Larry McKinney.

Fonte: Estadão




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