EnglishEspañolPortuguês

Pesquisador catalogou 146 espécies de aves que vivem em meio à sujeira do Fundão, no RJ

22 de maio de 2010
4 min. de leitura
A-
A+

Não só urubus e aviões dividem o espaço aéreo da Ilha do Fundão, no RJ. Naquele cenário inóspito e degradado, nada menos que 146 espécies de aves sobrevivem em meio ao lixo, às construções e ao que restou de vegetação na Cidade Universitária e em seus arredores. São papagaios, colhereiros, carcarás, bem-te-vis, pica-paus, gaviões, socós, sabiás, tizius e marrecos, numa variedade de cantos e cores que passam despercebidos pela maioria dos que circulam pela área, mas não escapam ao olhar apurado de um especialista, contratado para fazer um levantamento dos moradores do nada aprazível endereço.

Desde o início das obras de despoluição do Canal do Fundão, o pesquisador Alfredo Heleno de Oliveira, de 61 anos, um mineiro de ouvido e olhar apurados, diariamente vem percorrendo a região para documentar a rotina das aves do local. Contratado para fazer o monitoramento da avifauna da área, onde desde setembro a Secretaria estadual do Ambiente vem realizando obras de dragagem e despoluição, Alfredo já catalogou pelo menos 20 novas espécies durante as expedições pelos terrenos. Todas foram devidamente fotografadas.

foto das aves do local
Foto: Reprodução/O Globo

– Ainda é cedo para afirmar que essas aves sugiram por causa da despoluição. Talvez elas já estivessem ali, e eu, agora, por ter acesso a alguns locais novos, tenha conseguido registrá-las. O dado positivo é que, mesmo com a intensa perturbação local, há um número expressivo de espécies – diz o especialista, que foi contratado para prestar assessoria e consultoria à construtora Queiroz Galvão no projeto de revitalização e recuperação ambiental do Canal do Fundão e de seu entorno.

Espécie comum na região ainda não apareceu este ano

Na lista de aves que foram vistas recentemente na ilha, conta Alfredo, há marrecas-toucinhos, irerês iguais aos da África, tiês-pretos – que são vistos com mais frequência em locais com árvores frutíferas e nos arredores de matas e capoeirões – e maçaricos-de-pernas-amarelas, que habitam praias lamacentas e abertas de lagos e rios. Mas o bate-bate e o barulho das máquinas usadas nas obras que estão sendo feitas na região podem estar também afastando alguns visitantes que antes eram vistos ali com frequência. O verão, passarinho vermelho e preto que costumava voar pela área nos períodos entre maio e novembro, por exemplo, ainda não foi encontrado pelo pesquisador este ano.

– Hoje estamos vivendo um período de grande alteração na Cidade Universitária, onde várias obras estão sendo feitas. Ainda é cedo para dizer o que vai acontecer com as aves. Pode haver perdas e ganhos – diz Alfredo, que vai passar os próximos dois anos observando o comportamento das aves na região.

O biólogo Salvatore Siciliano, da Escola Nacional de Saúde Pública, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), admite que a presença de aves como a curicaca, que gosta de campos secos e é comum no cerrado, surpreende os pesquisadores:

– O Fundão é uma ilha pequena, que, apesar de degradada e poluída, tem uma grande diversidade de ambientes. Ali encontramos pequenas faixas de mangue, campos (gramado) e restos de mata. Por ser uma ilha, ela atrai ainda aves marinhas e migratórias, como maçaricos. Além disso, algumas espécies de aves, como a siriema, se adaptam muito facilmente a ambientes degradados.

foto de uma ave que habita o local
Foto: Reprodução/O Globo

O contraste com o ambiente poluído muitas vezes confunde quem não tem o olhar treinado. Mas, num passeio de pouco mais de uma duas horas pela região em companhia do pesquisador, repórteres do GLOBO puderam observar e fotografar 12 espécies, como maria-cavaleira, lavadeira-mascarada, siriri-cavaleiro e garça-branca-pequena. Num dos canteiros de obras que hoje tomam conta de parte da ilha, uma surpresa: no buraco de um dos contêineres montados às margens do Canal do Fundão, uma cambaxirra fez seu ninho.

– Nos meus passeios, a média é de 40 espécies por dia. Sendo que na alta temporada, que acontece nos períodos mais quentes e coincide com a fase de reprodução das aves, chego a encontrar 60 espécies num dia. São aves de várias regiões do país, muitas delas estão de passagem – conta Alfredo, que é membro do Clube de Observadores de Pássaros e autor de uma monografia sobre as aves da Cidade Universitária.

Fonte: O Globo

Você viu?

Ir para o topo