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Monteiro Lobato defendia, em suas obras, a preservação da natureza e a não exploração dos animais

22 de abril de 2010
3 min. de leitura
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No mês em que se comemoram os 128 anos de um dos maiores escritores brasileiros, Monteiro Lobato, convém ressaltar uma faceta de seu trabalho, tão importante nos dias atuais, que é a preservação da natureza. Mais do que um grande escritor de histórias infantis, Lobato, atento às principais questões de seu tempo, foi um articulista ousado e perspicaz, engajando-se em diversas campanhas. Uma delas foi a defesa do meio ambiente, dentro do que era possível no discurso de sua época.

Lobato não se limitava a explorar os problemas das florestas e da destruição dos habitats.

Em “Homo Sapiens”, um dos ensaios de A onda verde, num estilo panfletário e irônico, Lobato condena o homem pela pesca com armadilhas, as arapucas, mundéus, ratoeiras, o aprisionamento de pássaros em gaiolas, as carroças e arreios com que os cavalos eram presos, a caça das baleias e aos outros animais a tiros, os incêndios dos campos e matas, a drenagem dos pântanos, enfim, por todo o mal causado aos animais. O homem, movido pela ganância, torna-se “lobo de si próprio”, numa referência hobbesiana, pois suas ações contra a natureza acabam vitimando a si mesmo. A solução de Lobato é conclamar uma revolução dos bichos (muito antes de George Orwell, mas em outro sentido, é claro): “animais todos da Terra, basta de submissão! Uni-vos!”. Um governo dos animais seria “infinitamente mais gentil que a dura realeza humana”, inclusive porque daria maior atenção às crianças, a quem Lobato chama de “pequeninas vítimas”. Por perceber o descaso com as crianças em sua época, o escritor dedicou-se a elaborar estórias em que elas têm direito a manifestar suas emoções, sentimentos, e dar vazão a toda fantasia que habita o imaginário infantil.

Também na literatura dedicada a elas, Lobato insere elementos de sua preocupação ambiental. Em uma passagem de A chave do tamanho reaparece a metáfora do governo dos bichos, aliado a uma reflexão sobre a própria humanidade. Na voz de Emília, Lobato compara a Terra a uma pulguinha na imensidão do Universo; o homem, nesta pulguinha “é uma poeirinha malvada”. Se a humanidade acabasse, os animais ficariam muito contentes, porque o “Homo sapiens era o que mais atrapalhava a vida natural dos bichos”, ideia transmitida por intermédio do Visconde de Sabugosa.

Em Memórias da Emília, livro em que a boneca resolve escrever “as histórias de sua vida”, há uma passagem interessante, na qual explica para o anjinho de asa quebrada (personagem de Viagem ao céu) “as coisas da terra”. Emília esclarece que árvore é “uma pessoa que não fala; que vive sempre de pé no mesmo ponto”, e que só sai do lugar quando surge o machado, “o mudador das árvores”, que muda até o nome delas, pois, quando ele passa perto, as árvores viram lenha; é um “diabo malvadíssimo”. Por meio de Emília, Lobato critica também o uso de animais como cobaias em experimentos científicos.

Os textos aqui mencionados mostram as preocupações de um escritor sintonizado com os problemas de seu tempo. Já havia poluição e destruição da natureza na época em que Lobato viveu; elam se intensificaram ao longo do século pelo desenvolvimento sem controle da indústria poluente e pelos estímulos ao consumo desenfreado, até chegar aos níveis que somos obrigados a suportar hoje. O grande mérito desses escritos de Lobato foi instigar seus contemporâneos a refletirem sobre o que estava acontecendo. Eles podem inspirar-nos na busca de soluções para os desafios de hoje, muito maiores, é claro, e que passam por uma séria mudança de conduta dos consumidores, mas também por uma revisão dos processos políticos e econômicos, na esfera global.

Com informações de O Globo

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