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O consumo de carne e o aquecimento global

20 de abril de 2010
3 min. de leitura
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Por Heron José de Santana, Luciano Rocha Santana e Tagore Trajano

Em recente artigo, publicado na revista The Economist, Peter Singer, professor de bioética da Universidade de Princeton,  revela que o consumo global de carne deve duplicar até 2020, de modo que na Europa e nos EUA já existe uma crescente preocupação ética com essa questão. De fato, o consumo de vitela caiu drasticamente quando as pessoas ficaram sabendo que para produzi-la bezerros recém-nascidos são separados aleatoriamente da mãe, mantidos artificialmente anêmicos e confinados em baias tão estreitas que eles não podem caminhar ou virar-se.

Relatórios da ONU revelam que a criação de animais de corte é responsável por cerca de 18% das emissões mundiais de gases estufa, que provocam o aquecimento do planeta, superando a indústria global de transportes.

Seja como for, a pecuária industrial nega aos animais uma vida minimamente decente, pois dezenas de milhares de milhões de frangos hoje produzidos nunca foram ao ar livre, e vivem em galpões que podem ter mais de 20 mil aves, onde o nível de amônia no ar decorrente de suas fezes acumuladas arde seus olhos e fere seus pulmões. Em seguida são abatidos com apenas 45 dias de idade, quando seus ossos imaturos dificilmente poderiam suportar o peso de seus corpos. As condições são ainda piores para as galinhas poedeiras, abarrotadas em jaulas tão pequenas que, mesmo se estivessem em apenas uma gaiola, seriam incapazes de esticar as  asas, o que leva as aves mais agressivas a bicarem até a morte as aves mais fracas. Para evitar esta situação os produtores cortam seus bicos com uma lâmina quente, sem qualquer anestésico, embora no bico dessas criaturas existam tecidos nervosos, pois são o  principal instrumento de seu relacionamento com o ambiente.

Porcos podem ser os mais inteligentes e sensíveis dentre os animais que geralmente comemos e  podem exercer essa inteligência explorando variados ambientes. Antes de dar à luz, as porcas utilizam palhas e galhos para construir um confortável e seguro ninho, que funciona como uma cama. Mas, hoje, as porcas grávidas são mantidas em jaulas tão estreitas que mal podem se virar ou ficar em pé. Os leitões são retirados da porca o mais rapidamente possível, para que ela possa engravidar novamente, sem nunca deixar o galpão, até que seja levada para o abate.Os defensores desses métodos de produção afirmam que embora eles sejam lamentáveis, são uma resposta necessária a uma população crescente em busca de alimentos.

É triste que o Brasil contribua com esta tragédia ambiental e, se isto continuar, o resultado será o sofrimento de animais em uma escala ainda maior e o aumento de desastres ambientais.

Não obstante, pessoas sensíveis como Paul McCartney  e Rajendra Pachauri, Nobel da Paz e presidente do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), alertam que os governos locais podem desempenhar importante papel ajudando os cidadãos a reduzirem o consumo de carne e outros produtos de origem animal, por exemplo, promovendo campanhas como “um dia sem carne por semana”.

De fato, na cidade de Ghent, Bélgica, esta campanha foi realizada pela parceria entre uma ONG e a prefeitura da cidade. Juntas, elas distribuem mapas da cidade com destaque para os restaurantes vegetarianos e folhetos explicativos, além de incentivarem a mudança no cardápio dos restaurantes da cidade. Ghent introduziu inclusive um dia vegetariano por semana nas 35 escolas municipais, uma iniciativa que também está ocorrendo em Baltimore, nos EUA. Programas semelhantes foram iniciados recentemente em São Paulo e em Hasset, Bélgica, e outras cidades estão estudando fazer o mesmo. Na Grã-Bretanha a campanha “ Segunda-feira sem Carne” está estimulando as pessoas a descobrirem os benefícios do vegetarianismo, e o governo sueco produziu um guia com orientações sobre alimentação saudável e favorável ao clima.

No Brasil, as pessoas continuam a consumir grandes quantidades de carne, contribuindo não apenas com os efeitos negativos sobre o clima e a biodiversidade, mas também sobre a nossa saúde, aumentando o risco de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes e câncer do aparelho digestivo. Uma conta que , no final, será paga por todos nós. Pense nisso.

Heron José de Santana Gordilho é Professor Universitário, Promotor de Justiça do Meio Ambiente em Salvador ([email protected]).

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