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Com o fim da exploração animal nos circos bolivianos, para onde irão as vítimas?

20 de abril de 2010
4 min. de leitura
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Por Marcela Couto (da Redação)

Ela poderia ter vivido até 40 anos livre na selva, onde o tempo de vida dos leões corresponde ao dobro do alcançado em cativeiro. Mas a leoa Maiza está fraca e quase cega com apenas 18 anos, vítima de torturantes performances entre círculos de fogo e chicotes do circo.


A leoa Maiza Foto: Dado Galdieri / Associated Press


Dois de seus filhotes tiveram os caninos arrancados por treinadores, que conseguem aplausos da plateia ao enfiarem sua cabeça na boca dos leões. Um filhote de outra leoa, por sua vez, teve as garras removidas logo após o nascimento – sem anestésico.

Histórias de abuso como essas, documentadas por ativistas dos direitos animais, fizeram com que a Bolívia determinasse o veto mais rigoroso do mundo, proibindo a exploração de animais em circos.

Maiza, quatro filhotes de leão e um babuíno chamado Trillin são os primeiros beneficiados pela lei que passa a vigorar em julho desse ano. Os felinos serão levados para um refúgio de animais da Califórnia no próximo mês, enquanto o primata deve ser levado a um santuário na Inglaterra.

Ninguém, no entanto, parece saber o que acontecerá com dúzias de outros animais confinados em pequenos circos que viajam pelo país. Os zoológicos, que por si só representariam uma nova exploração na vida desses animais, ainda estão completamente lotados e em condições precárias.

Até mesmo o grupo que se prontificou a cuidar dos cinco leões, o Animal Defenders International, revelou que não tinha um local para colocá-los inicialmente, e que teve de importar um especialista em grandes felinos para conseguir cuidar dos animais.

O grupo, que também lutou pela lei, agora quer que o congresso boliviano aprove um projeto que regulariza os santuários no país.

Todos devem se adaptar à lei em um prazo de um ano, por isso o dono de circo Salvador Abuhadba entregou os felinos e o babuíno em agosto passado, alegando não querer problemas com a justiça.

“Eles eram parte da minha família… merecem uma aposentadoria digna”, disse Abuhadba, negando qualquer abuso contra os animais e lamentando a perda de lucros com a nova lei. “Mas acredito que fiz a coisa certa.”



O babuíno Trillin Foto: Dado Galdieri / Associated Press


Os novos tratadores dos animais revelaram que eles foram alimentados com Coca-Cola, pedaços de frango e restos de comida. Há suspeitas de que o babuíno tenha diabetes.

Por trás da fantasia e do entretenimento, os circos escondem a crueldade praticada contra os animais. Entre os casos documentados estão a morte de um hipopótamo após seu lago quase congelar, um elefante morto também por condições climáticas inadequadas e dezenas de outros animais acorrentados, confinados e vivendo mergulhados nas próprias fezes.

Além disso, sempre que resistem aos treinadores os animais apanham, já que não há outra forma de forçar e explorar um animal selvagem.

A Bolívia foi além dos outros países e proibiu não somente a exibição de animais selvagens, mas domésticos também. Isso só foi possível porque o lobby de circos no país é muito fraco.

O ADI construiu um refúgio provisório para manter os primeiros animais entregues em Cochamba.Os leões estão em péssima condições, mas com uma boa alimentação e suplementos já estão dando sinais de melhora.

Stephen Payne, porta-voz do Ringling Bros, afirmou que a vida no circo poderia ser benéfica para os animais. “Na selva, os elefantes são ameaçados por predadores, caçadores e períodos de fome por causa de seu habitat,” diz o circo em seu web-site, alegando com pretensão que sabe exatamente o que é melhor para um animal selvagem.

Enquanto isso, Maiza e os outros leões estão se preparando para ter uma nova chance na reserva da Califórnia. O próprio ADI se comprometeu a pagar por sua estadia no local pelo resto da vida, mas não sabe se conseguirá fazer isso com outros animais.

“Eu adoraria que o caso dela fosse uma regra, e não uma exceção,” disse Pat Derby, presidente da Performing Animal Welfare Society – o futuro abrigo de Maiza. “O pior zoológico do mundo não chega a ser tão ruim quanto o melhor circo.”

Com informações de Los Angeles Times

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