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Escritora propõe rótulo ao hábito de comer carne

17 de abril de 2010
4 min. de leitura
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Por Antonio Pasolini (da Redação)

Um dos conceitos-chave do movimento de direitos animais é o especismo, ou seja, o mito criado pelos humanos que os faz crer que sua espécie é superior a todas as outras. O termo foi criado pelo filósofo britânico Tom Regan e é amplamente difundido hoje.

Agora, a escritora e psicóloga americana Dra. Melanie Joy (foto) propõe um novo termo, que ela chamou de carnismo, como mais um instrumento de análise e desconstrução do sistema ideológico que cria a ilusão de que o hábito de comer carne é o estado natural da dieta humana.

Foto: Reprodução/ Lobo Repórter

Em seu livro Why We Love Dogs, Eat Pigs, and Wear Cows: An Introduction to Carnism (‘Porque Nós Amamos Cães, Comemos Porcos e Vestimos Vacas: Uma Introdução ao Carnismo”), a doutora Melanie argumenta que o consumo de produtos animais é uma sistema de crença invisível continuamente reforçado por muitas sociedades ocidentais e por isso “carnismo” – a prática quase inconsciente de comer carne – não é parte do vocabulário como o vegetarianismo é. A escolha de comer carne não é rotulada em nossa sociedade, portanto ela passa sem questionamento. Em seu livro, Melanie tenta explicar não por que nós não deveríamos comer carne, mas sim por que nós o fazemos.

“O carnismo nos ensina a não sentir quando se trata de comer os animais que consumimos”, ela diz em seu livro. “Nosso modo natural de responder aos outros animais parece ser baseado em empatia. Sociedades que comem carne em todo o mundo escolhem algumas espécies e consideram repelente a ideia de comer outros. Isso porque o carnismo bloqueia nossa consciência e empatia quando se trata de espécies que consideramos comestíveis.”

Em uma recente entrevista ao blog SuperVegan, a doutora Melanie disse que “carnismo é uma subideologia do especismo, assim como antissemitismo, por exemplo, é uma subideologia do racismo. É importante nomear e entender ideologias específicas porque, embora todas provenham de uma ideologia mais ampla, elas têm algumas características distintas que devem ser entendidas e abordadas diretamente.”

A autora diz que escreveu seu livro para os carnistas “porque ela queria ter um livro que falasse com comedores de carne e não fosse apenas sobre a realidade da produção de carne, sobre a qual já existem muitos títulos”. Ela acrescenta que quis convidar os comedores de carne para o debate e explicar para eles por que eles comem carne.

Ela se defende dos críticos que dizem que o termo especista já engloba o que ela chama de carnismo e que a criação de um novo termo seria uma distração desnecessária. “Considere, por exemplo, como o patriarquismo influencia o heterossexismo mas que no entanto o heterossexismo tem características específicas que fazem dele uma expressão única do patriarquismo. Como o consumo de carne causa mais sofrimento animal do que todas as outras formas de exploração animal juntas, faz sentido focar no carnismo como uma ideologia separada do, porém conectada ao, especismo.”

A doutora Melanie acrescenta que uma diferença fundamental entre especismo e carnismo é que o carnismo é uma expressão altamente pessoal do especismo. “Incorporar animais não humanos no nosso corpo é, em geral, o contato mais frequente e íntimo que os humanos têm com outras espécies. Comer animais, portanto, determina como pensamos sobre e nos relacionamos com outros seres. Como podemos imaginar qualquer tipo de igualdade entre as espécies se continuarmos a comer animais simplesmente porque gostamos do seu sabor?”

Os argumentos da doutora Melanie formam um sistema convincente para os pensadores do veganismo e ativistas em geral. É importante ver que todas as formas de exploração são facilitadas pelos mesmos mecanismos e um reforça o outro. A mentalidade que coloca o sistema reprodutivo feminino nas mãos do legislativo e que moldou uma “cultura de estupro”, onde misóginos como Eminem são celebrados, não é tão diferente da mentalidade que legitimiza o confinamento de milhões de suínas onde elas são engravidadas à força ao longo de sua vida simplesmente para que seus filhos se tornem, por exemplo, a cobertura de uma pizza de pepperoni.

Referências
Website da doutora Melanie Joy: http://www.melaniejoy.com
Bitch Magazine: http://bitchmagazine.org/post/the-biotic-woman-a-conversation-about-carnism-with-melanie-joy-pt-1
SuperVegan: http://supervegan.com/blog/entry.php?id=1464 
Grupo no Facebook: http://www.facebook.com/group.php?gid=174553683955&ref=share&v=info

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